29 fev, 2020 - 17:18 • José Carlos Silva
Adriano Moreira recebeu a Renascença numa das salas da Academia de Ciências de Lisboa. Aguardava a hora de entrar no Salão Nobre da Academia, inaugurado em 1795 por D. João VI.
Era lá que ia apresentar o seu livro e, sobretudo, ser homenageado, nomeadamente pelo Presidente da República, que disse de Adriano Moreira que “entrou na história pelo seu próprio pé” e que pretende “entrar ativo na sua segunda eternidade”.
Entre cumprimentos de ex-ministros, académicos e figuras maiores da sociedade, Adriano Moreira retirou alguns minutos da sua agenda para mostrar o seu bom humor e vitalidade intelectual. E foi sentado num cadeirão amarelo, de colar ao peito, que nos falou da sua mais recente obra, que reúne textos do autor no período entre 2016 e 2018.
Começou a gracejar com a sua própria condição: "Trata da minha experiência, que já tem tempo demais”. Mais sério, conclui que o livro “no fundo é uma coleção de estudos intervalados, mas que representam uma evolução de quase um século. E isso obriga muito a avaliar a experiência, o que sobrevive e, até, o que não fizemos”.
Confessa que os seus últimos escritos datam da noite anterior e que anda “a tentar escrever com bastante clareza sobre um tema que anda a ser muito discutido internacionalmente, que é o que vai acontecer com o Atlântico”. Adriano Moreira considera que este “é um problema muito sério, porque se ler qualquer livro de história sobre a Europa vai ler que vem sempre escrito que há ‘x’ décimos de território. Vamos ter o mesmo território? É preciso pensar isso”, conclui.
Sobre o Portugal dos dias de hoje, em que se agudizam os extremos, trata de distinguir património de pátria. Explica que “a gente quando tem uma pátria, não a recebe a benefício de inventário. Isso é uma coisa com os patrimónios e quando a herança não é suficiente para as dívidas. As pessoas herdam com o benefício ao património. O amor da pátria não. É com a produção dos valores que são património comum da humanidade. E Portugal tem como todos os países as duas coisas”, remata Adriano Moreira.
Sublinha ainda que Portugal incorpora muito do que há de bom no mundo. Dá como exemplo “o património comum da humanidade, sobretudo na posse dos organismos internacionais”. Para o Professor, “está lá o ensinamento de Coimbra, de Évora”, ao ponto de parecer “que estão a ditar os princípios da ONU quando foi fundada”.
Conclui que “cada um no seu país não recebe a benefício de inventário. Recebe a mando dos valores comuns da humanidade”.