13 abr, 2020 - 20:30 • Tiago Palma
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O ministro das Finanças deu esta segunda-feira à noite uma entrevista na TVI, depois de na última semana o Eurogrupo (do qual é presidente) ter aprovado um pacote de 500 mil milhões de euros (Portugal acede a 4.500 milhões) para a economia europeia responder à crise provocada pela Covid-19.
Mário Centeno rejeita que, no caso concreto de Portugal, a economia esteja “em escombros”, mas admite que “está parada, quase parada” e que “vão ser precisos pelo menos dois anos para voltar aos níveis de crescimento de 2019”. Isto, claro, “se a crise se contiver no segundo trimestre”.
“O segundo trimestre vai ter uma quebra próxima de quatro ou cinco vezes o máximo que já vimos um trimestre cair em Portugal”, explicou, não admitindo, ainda assim, que a mesma, no total do ano, chegue aos dois dígitos.
A recessão, essa, é uma certeza, mas Centeno prefere não confirmar por ora os cenários previstos para Portugal, que apontam uma quebra entre os 4,5% e os 8%. “As estimativas que existem estão enquadradas em impactos de 6,5% por cada 30 úteis dias, ou seja, um mês e meio, como aqueles que vivemos hoje. Mas este processo não é linear e vai-se deteriorando.”
Parte da solução para impedir tal deterioração passará por voltar a abrir a economia ao exterior, uma vez que Portugal, lembrou Centeno, “tem 45% do PIB assente nas exportações”. “Mas não podemos retomar a nossa economia sem que haja uma decisão global. É nisso que a Europa está focada”, advertiu.
Embora estime um impacto da crise nas contas públicas (já pesando as medidas de apoio ao emprego) “entre os seis e os sete mil milhões de euros”, o ministro das Finanças rejeita, tal como o primeiro-ministro António Costa já o havia feito, que a austeridade seja uma opção.
“O que temos que garantir é que há dinheiro para acudir à fase aguda da crise. É uma crise temporária, não é uma crise do nosso mercado de trabalho, não é uma crise do mercado financeiro, dos bancos. Estamos a tentar resolvê-la na sua origem, que não é económica. E temos que desenhar com a União Europeia o processo de saída desta crise. Não é uma saída imediata, porque não há solução definitiva para a crise sanitária, mas vamos tentar recuperar ao longo do ano”, explicou Mário Centeno.
Na entrevista à TVI, Centeno declarou o acordo obtido na reunião dos líderes das Finanças europeus uma “vitória”. Mas não uma vitória pessoal, de Centeno, nem de outros países, como a Holanda, “que foi o último país a juntar-se às medidas e o mais reticente”.
“Somos todos vencedores deste projeto europeu. A decisão da semana passada foi um dos momentos em que acumulámos mais capital em favor desse projeto. O que disse aos ministros das Finanças [na reunião] foi que este não é o fim da linha, que nós temos que fazer mais pela Europa e vamos fazer mais pela Europa. Os ministros das Finanças não se podiam dar ao luxo de parar e não continuar um processo de decisão que tinha que ter uma resposta positiva”, explicou Mário Centeno.
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Sobre a crise económica com que a Europa se depara (e continuará a deparar) face à pandemia da Covid-19 – Centeno fala mesmo “num choque de uma escala absolutamente inimaginável” –, o ministro das Finanças lembra que, ao contrário de crise anteriores, como a das dívidas soberanas, em 2008, “tudo isto é novo”.
“Em 2008 demorámos muito tempo para reagir e as primeiras decisões não foram as melhores. Talvez nem as primeiras nem as segundas. Mas essa crise foi pré-anunciada durante 10 anos. Desta vez, em 10 dias, conseguimos tomar decisões. E os países europeus podem, no imediato, dar resposta a esta crise. Estamos a jogar um jogo sem ter lido as regras. Foi uma resposta muito corajosa, mas para responder ao hoje. Para que todos os países tenham liquidez”, explica.
Durante a entrevista, diversas vezes Mário Centeno rejeitou ter feito quaisquer cortes ou cativações no setor da Saúde, lembrando que “a despesa até cresceu” no Serviço Nacional de Saúde (SNS). “E é por causa disso e da enormíssima dedicação dos nossos profissionais de saúde que estamos a ter o desempenho que estamos a ter. O SNS partiu para 2020 com o maior aumento orçamental da sua história”, garantiu.
Noutros campos da economia que não a Saúde, nomeadamente a TAP e o setor da energia, o ministro das Finanças não põe de lado o recurso à nacionalização de empresas estratégicas.
“Não vamos seguramente retirar nenhuma possibilidade que esteja em cima da mesa para dar resposta”, afirmou Mário Centeno, garantindo, em concreto, quanto à transportadora aérea que “há muitas formas de intervir e essa [nacionalização] pode ser uma delas”.
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A terminar, e questionado sobre se abandonará a pasta das Finanças em junho próximo ou não, Mário Centeno resolveu prolongar o tabu, não “fulanizando” a questão.
“Não estamos em tempo de nos preocuparmos com essa questão. Estamos em tempo de dar resposta a este enormíssimo desafio, o desafio de uma geração. Não vamos fulanizar estas questões. Estamos todos neste combate. O general [Centeno] nem sequer é a peça mais importante de tudo isto: são os profissionais de saúde, aqueles que nas suas empresas garantem emprego. Não mereço tamanha distinção.”
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 117 mil mortos e infetou quase 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Em Portugal, segundo o balanço feito esta segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde, registam-se 535 mortos, mais 31 do que no domingo, e 16.934 casos de infeção confirmados, o que representa um aumento de 349.