28 mai, 2020 - 06:42 • Eunice Lourenço (Renascença) e Helena Pereira (Público)
Recuperar dinheiro transferido para o Novo Banco, como prometeu o primeiro-ministro se forem detetadas irregularidades, “será muito difícil”, diz Catarina Martins, que espera para ver o contrato de venda, como foi aprovado esta semana no Parlamento.
Qual a solução para a TAP?
A TAP deve ser pública. Não tem sentido o Estado continuar a pagar a TAP e não determinar o que a TAP faz. Temos a situação caricata de a TAP vir apresentar determinadas rotas e o Estado vir dizer ‘Não, não pode fazer isso’, o que é estranho. Uma empresa que precisa tanto de apoio público como pode estar a decidir coisas contra o que o próprio Governo pede? Isto é inaceitável. Não pode ser pagar e não mandar. Para Novo Banco, já basta um. Será tão mais quanto mais colocarmos o Estado a intervir sem participar na administração. A decisão sobre a reestruturação da empresa, venda de aviões, etc, se for feita só pelos privados, terá em conta o seu interesse de curto prazo. Se for feita pelo Estado, terá em conta as responsabilidades públicas em relação a determinadas comunidades portuguesas ou determinados interesses estratégicos económicos portugueses.
O que acha que os contratos do NB com o Fundo de Resolução que pediram para ser públicos vão demonstrar? A TVI, que teve acesso a um dos documentos, revelou que a compra foi feita por uma empresa que a Lone Star criou num offshore e que tem prejuízos. Portanto, a devolução do dinheiro, como António Costa admitiu no Parlamento, se houver má gestão, também vai ser difícil.
Veremos. Quando questionei sobre o que faremos se a auditoria nos disser que o banco foi mal-gerido, o primeiro-ministro disse que ia lá buscar outra vez o dinheiro. Acho isso complicado, se aquilo que foi revelado pela TVI for verdade. Estamos a falar de empresas escondidas em offshores, de empresas dentro de empresas, que declaram prejuízos. Julgo que isso será muito difícil, mas prefiro fazer essa análise quando tivermos o contrato nas mãos.
É recorrente a proposta de o governador do Banco de Portugal (BdP) ser nomeado pelo Presidente da República. O CDS já propôs isso e António Costa chegou a defende-lo em 2015. Concorda?
Seria preciso mudar as regras do BdP, mais do que da nomeação. Fala-se muito da nomeação para não se falar dos problemas concretos. O problema do BdP é que age como uma espécie de mediador entre os banqueiros e o resto do país: perdoa os erros dos banqueiros, faz uns avisos amigáveis, justifica o que aconteceu com o equilíbrio do sistema financeiro. Isto é um sistema insuportável.
O atual ministro das Finanças podia ser um bom nome para essa reforma do regulador?
Não apresentou ainda proposta [de reforma da regulação] e podia ter apresentado. Avançou-se muito pouco e Mário Centeno tem responsabilidades nisso, porque não só é ministro das Finanças como presidente do Eurogrupo. O BE não está interessado em debater nomes, está interessado em debater regras para o sistema financeiro.
A eventual candidatura presidencial de Ana Gomes não assusta o Bloco?
Tenho um enorme respeito pela Ana Gomes que se está a posicionar num debate interno do PS em nome da democracia e faz muito bem. Tem colocado as questões que deve colocar de forma correta. Depois vejo alguns apoiantes de Ana Gomes que dizem uma coisa do género ‘toda a esquerda deve unir-se em torno de Ana Gomes para fazer uma candidatura contra uma pessoa que tem 4% nas sondagens’. Acho isso esquisito. Não se combate a extrema-direita, o populismo e o ódio com falta de programas ou frentes vazias de conteúdo. Combate-se com a esquerda tendo uma resposta para o país - o que vamos resolver do emprego, do salário, das pensões...