27 jun, 2020 - 17:10 • Susana Madureira Martins
Dez minutos antes da hora marcada, pelas duas da tarde, ainda no Parque Eduardo VII, em Lisboa, um dos dirigentes do Chega, Manuel Matias, gritava pelo megafone "ponham as máscaras", avisando que vinha aí o líder do partido e pedindo aos manifestantes para que não ligassem "a provocações" de fora, reforçando com um "somos pessoas de bem", isto porque na concentração via-se um jovem que transportava uma bandeira arco íris conotada com o movimento LGBT.
Entretanto, André Ventura lá chegou com muitos vivas e cumprimentos dos manifestantes que centraram no líder demissionário do partido os slogans que gritaram ao longo de duas horas e muitos deles verdadeiros clássicos dos desfiles organizados pelos partidos à esquerda.
Por exemplo, ouviu-se muito "André vai em frente tens aqui a tua gente" ou ainda "Nós só queremos André a presidente", tendo em conta que o líder do Chega já anunciou que quer ser candidato a Belém.
O resto dos slogans foram muito direcionados para o tema da manifestação, o de que "Portugal não é racista", ouvindo-se muitas vezes que "racismo é distração".
Naquela que foi a primeira grande ação de rua do Chega, a Polícia de Segurança Pública estima que estiveram entre 1200 a 1300 pessoas a desfilar pela Avenida da Liberdade abaixo. Era o que o partido tinha estimado, de resto, chegando a organização a falar de 1500 pessoas.
De vez em quando, Ventura ia parando para falar com os jornalistas, que foram, de resto, muito insultados durante toda a manifestação e com abordagens agressivas e directas por parte de anónimos que criticavam o trabalho dos diversos órgãos de comunicação presentes.
O próprio líder do partido chegou a gritar ao megafone "imaginem que eles diziam que estavam aqui duzentas pessoas", sendo "eles" os jornalistas que fizeram directos de televisão ainda durante o período de concentração de pessoas no Parque Eduardo VII.
Ventura ia andando à cabeça da manifestação e dando bicadas aos líderes do PSD e CDS dizendo que "é mesmo verdade, a partir de hoje, não sei se doutor Rui Rio e o Francisco Rodrigues dos Santos estão a ouvir, a partir de hoje na direita em Portugal nada será diferente".
O líder do partido nem deu pelo lapso, transmitindo assim a ideia contrária à que certamente queria, mas que rematou com "esses partidos estão a demarcar-se dos portugueses e, por isso, as sondagens já dêem o Chega como a terceira força política em Portuga, em breve seremos a primeira, em breve teremos a quarta República em Portugal".
A Polícia de Segurança Pública (PSP) ia sempre muito presente no desfile, não deixando mesmo que os jornalistas se afastassem para as laterais, indo à cabeça a Unidade Especial da Polícia, com cerca de cem efectivos ao todo, segundo o porta-voz da PSP, Artur Serafim.
O desfile terminou no Terreiro do Paço, com a praça a mostrar a verdadeira dimensão da manifestação em relação a outras que ao longo dos anos por ali foram passando, enchendo apenas um semi-círculo à volta de um camião a fazer de palco móvel, onde mais uma vez Ventura anunciou a vinda da "quarta República".
No palco móvel, acompanhado pela direção do partido e pela actriz Maria Vieira, um sorridente André Ventura agradeceu por não o "deixarem caminhar sozinho" e que assim "nunca" está sozinho. E aí citou por diversas vezes o fundador do PPD, Francisco Sá Carneiro, retomando o classico "Hoje somos muitos, amanhã seremos milhões", em mais uma bicada ao actual PSD de Rui Rio. O desfile foi de resto salpicado com uma única bandeira antiga do partido, cor de laranja e com as três setas.
E tudo acabou como começou, a cantar o hino nacional. No final de tudo, a dispersão de pessoas foi pacífica, com o porta-voz da PSP a garantir que as regras de distanciamento social foram cumpridas, fazendo o balanço de duas pessoas exteriores à manifestação que foram identificadas por gritarem obscenidades contra os manifestantes.