13 ago, 2020 - 16:35 • Redação com Lusa
A ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, repudiou esta quinta-feira as ameaças feitas a deputadas e ativistas e considerou que constituem “uma ameaça à própria democracia” que deve indignar “todos os democratas”.
A ameaça a três deputadas e aos "dirigentes de uma associação de defesa de direitos humanos, de uma associação antirracista neste caso, é uma ameaça à própria democracia e, portanto, o Governo repudia qualquer ameaça desta natureza e solidariza-se obviamente com todos os atingidos por esta ameaça”, disse a ministra, em conferência de imprensa, no final da reunião do Conselho de Ministros, Lisboa.
Mariana Vieira da Silva sublinhou que a "tentativa de condicionamento político de representantes eleitos é crime e é como crime que deve ser tratado, e é como crime que está a ser tratado”, uma vez que “as autoridades responsáveis estão a fazer essa investigação e também as entidades responsáveis pela avaliação de risco que estes representantes de órgãos de soberania têm também está a ser avaliada, como é feito sempre nestes casos”.
O Presidente da República diz que os que defendem (...)
As deputadas Joacine Katar Moreira (não inscrita), Beatriz Gomes Dias e Mariana Mortágua (BE) foram visadas num ‘e-mail’ com ameaças dirigido ao SOS Racismo, além do dirigente dessa associação Mamadou Ba e Jonathan Costa, da Frente Unitária Anti-Fascista, entre dez cidadãos.
Na ótica de Mariana Vieira da Silva, vários países têm assistido “a um aumento, a um agravamento do discurso de ódio, da coação e das ameaças" e "todos os democratas têm o dever de se indignar e de fazerem tudo o que puderem fazer para controlar este nível elevadíssimo de ameaças”.
O email em causa foi enviado na passada terça-feira, a partir de um endereço criado num ‘site’ de ‘e-mails’ temporários, para o SOS Racismo e é assinada por “Nova Ordem de Avis – Resistência Nacional”, a mesma designação de um grupo que reclamou, na rede social Facebook, ter realizado, de cara tapada e tochas, uma “vigília em honra das forças de segurança” em frente às instalações da SOS Racismo, em Lisboa, e que um dos dirigentes desta associação, Mamadou Ba, classificou como “terrorismo político”.
O líder do CDS-PP também condenou condenou qualquer tipo de ameaça de caráter racista, considerando que o discurso de extrema-direita é alimentado pelos movimentos de extrema-esquerda e criticou a "normalização" de "discursos bárbaros" por "alguns partidos".
"Nos últimos tempos alguns partidos têm infelizmente insistido em normalizar e acomodar discursos bárbaros e investido numa guerrilha extremista no seio da nossa vida plítica e comunitária. O resultado está à vista", criticou Francisco Rodrigues dos Santos, numa nota enviada às redações e publicada nas redes sociais.
Para o líder do CDS-PP, “grupelhos de extrema-direita - alimentados pelo discurso radical de sinal contrário dos movimentos de extrema-esquerda - com as suas agendas racistas, xenófobas e violentas, não podem ser tolerados em Portugal”.
Francisco Rodrigues dos Santos aditou ainda que “uns e outros, que instrumentalizam estes fenómenos para sua afirmação, apesar de representarem uma franja ultra-minoritária da nossa sociedade” devem ser “corajosamente reprimidos e censurados”.
O dirigente da SOS Racismo assume-se preocupado co(...)
Em causa estão as ameaças de que foram alvo as deputadas do Bloco de Esquerda Beatriz Dias e Mariana Mortágua, a deputada não inscrita (ex-Livre) Joacine Katar Moreira e mais sete ativistas num email dirigido ao SOS Racismo.
“Espero que quem tão covardemente ameaça e atenta contra a dignidade de qualquer pessoa - portugueses anónimos, deputados ou dirigentes associativos - seja rapidamente apanhado pela Polícia Judiciária e levado à justiça”, acrescentou o líder centrista na nota.
“Ao contrário de quem constantemente despreza politicamente e incita ao ódio contra as nossas forças de segurança, e que hoje reconhece a sua importância, o CDS, como qualquer cidadão sensato, percebe que as polícias cumprem exemplarmente o seu dever de assegurar a nossa Liberdade e proteção”, aponta, acrescentando que é nas autoridades que em situações deste tipo “reside a esperança de que os criminosos serão detidos e que pagarão pelos seus actos”.
Os comunistas escrevem ainda que "as campanhas e acções de intolerância e provocação que se têm registado nos últimos dias reclamam denúncia e combate". E que as mesmas têm várias cambiantes "seja a exibição provocatória da extrema-direita junto a uma associação anti-racista, sejam as campanhas infames contra o PCP, sejam as ameaças a organizações ou pessoas, nomeadamente deputados".
"É essa acção pela democracia, esse combate ao racismo e à xenofobia que o PCP faz com toda a determinação e com a autoridade de décadas de intervenção política que o testemunham", adianta o PCP.
Os comunistas aproveitam ainda para deixar alguns recados. "Neste combate é necessário assegurar a convergência e a unidade e recusar o divisionismo e a calúnia. O PCP foi e é contra o racismo (como foi e é contra o colonialismo) não por uma questão de moda mas por princípio e convicção. Insinuar o contrário é insultuoso", escrevem.
O PCP diz serem mentiras alegadas declarações do partido de que há ausência de racismo em Portugal. "Nunca foram proferidas". "O que o PCP recusa é alimentar, em nome do combate ao racismo, a sua exacerbação e instrumentalização ", afianla.
"Agir e animar a ideia de uma sociedade dilacerada por um conflito racial só serve para promover agendas da extrema-direita ou outras que contribuem para a sua ampliação", concluem.
Do Partido Social Democrata, foi o presidente da concelhia de Lisboa, Luís Newton, que é também presidente da Junta de Freguesia da Estrela, que repudiou publicamente as ameaças feitas a ativistas e dirigentes políticos.
Luís Newton afirma que o Partido Social-Democrata "em momento algum poderá alimentar sequer a ideia de normalizar estes discursos", acrescentando que não pode permitir-se que se "propaguem discursos de ódio e manifestações como as que vimos no sábado em Lisboa, à porta da SOS Racismo".
Numa evidente crítica às recentes declarações de Rui Rio, que admitiu a possibilidade de entendimentos com o Chega se o partido liderado por André Ventura evoluísse para uma posição mais moderada, o dirigente social-democrata reforça a ideia de que o PSD não pode "compactuar com propostas políticas que ponham em causa valores como o respeito pela democracia, a pluralidade ou a dignidade humana".