29 ago, 2020 - 09:16 • Sandra Afonso , Lusa
António Costa deixa o aviso: “se não houver acordo, não há Orçamento [para 2021] e há uma crise política”. E “aí estaremos a discutir qual é a data em que o Presidente terá de fazer o inevitável”.
São declarações do primeiro-ministro numa entrevista ao “Expresso”, publicada neste sábado e em que Costa assume várias vezes que prefere deixar o Governo cair do que negociar com o PSD a aprovação das contas para o próximo ano.
Num recado sobretudo dirigido aos parceiros de esquerda do PS no Parlamento, António Costa considera que "quem não quer assumir responsabilidades deve dedicar-se a outra atividade", porque a atividade política requer "assunção de responsabilidades".
"Os outros partidos não querem ter responsabilidades pelo desemprego de janeiro de 2022? Quem foge das responsabilidades relativamente aos problemas foge da responsabilidade de definir as soluções. Se queremos que haja menos desemprego em 2022, temos de atempadamente definir as políticas", sustentou.
Na sua opinião, seria um erro enorme a esquerda perder esta “oportunidade histórica” de desenhar “o que será o país nas próximas décadas”.
Nesta entrevista, o primeiro-ministro voltou a desdramatizar o voto contra do PCP no Orçamento Suplementar para 2020 e manifestou-se confiante na possibilidade de haver um acordo à esquerda.
"O PCP tem sido muito claro em sublinhar que o voto que deu no Suplementar teve a ver com uma análise que não corresponde a nenhuma alteração da sua linha política nem a uma indisponibilidade para dialogar no futuro. Aliás, já tive reuniões com Catarina Martins e com Jerónimo de Sousa. Não dou por adquirido que o PCP tenha abandonado a vontade de continuar a ser parceiro ativo na procura de soluções", afirmou.
Logo a seguir, no entanto, António Costa deixou novo aviso: "Nenhum português percebe que, perante a enorme gravidade desta crise, não haja um esforço para responder de forma positiva".
"Seria um erro enorme para a esquerda portuguesa não compreender que esta é a oportunidade histórica que tem de não só responder à crise como de o fazer com uma visão de ambição, de requalificação estratégica", argumentou.
Ou seja, "toda a agenda de resposta a esta crise é uma resposta de convergência à esquerda".
"Se as forças políticas para quem o robustecimento do Estado social é imprescindível não se conseguem entender, tenho dificuldade em compreender a racionalidade política do distanciamento num momento em que tudo o que exige é aproximação", acrescentou.
Já o PSD, está numa deriva estranha para “a direita populista”, considera António Costa. “O centro político sente-se abandonado”, conclui.
O PS, o Governo e o Presidente da República são, neste momento, um referencial de estabilidade e representação, defende ainda o primeiro-ministro, acrescentando que,
se Marcelo Rebelo de Sousa não se recandidatasse à Presidência, "havia um problema grave no conjunto do país".
Costa promete não interferir nas eleições – e pede o mesmo a Pedro Nuno Santos, o ministro das Infraestruturas que declarou preferir votar no candidato presidencial do Bloco ou do PCP.
No plano económico, sem avançar previsões, não desvaloriza a gravidade do desemprego: “é brutal e está num crescimento muito forte”. Apoios como o lay-off vão continuar, mas recusa dar a mão a empresas falidas.
Sobre a pandemia de Covid-19, António Costa refere que Portugal não tem tradição de vacinas obrigatórias. E não se mostra aberto à imposição das máscaras: “sempre que pudermos, devemos evitar obrigar as pessoas a usarem a máscara.”