09 set, 2020 - 18:36 • Eunice Lourenço , Susana Madureira Martins
Sem dirigentes do Bloco e apenas com representantes de profissões que estão na linha da frente do combate à pandemia de Covid-19, Marisa Matias apresentou esta quarta-feira a sua candidatura a Presidente da República. E deixou bem claro que a sua campanha será um “frente-a-frente” com o atual Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.
“Sou candidata frente a frente com Marcelo Rebelo de Sousa. É o Presidente em funções e sei bem das diferenças com o passado”, afirmou a eurodeputada que concorre pela segunda vez a eleições presidenciais. Em 2016, teve o melhor resultado do Bloco nestas eleições, ficando em terceiro lugar com 10,1 por cento.
A candidata reconheceu que os seus caminhos e os do atual Presidente se encontraram nestes quase cinco anos, nomeadamente no que diz respeito à situação dos sem-abrigo e na luta pelo reconhecimento do estatuto dos cuidadores informais. Mas há “questões essenciais” em que discordam, acrescentou, e pede o voto em si por essas diferenças.
“Marcelo quer um regime político assente em mais do mesmo, eu quero um regime que responda à pandemia social e que acabe com os privilégios; ele aceitou um regime financeiro que se foi esvaindo em privatizações e negócios, eu quero uma banca pública de confiança; ele quer um sistema de saúde concedido em parte a hospitais privados, eu quero um Serviço Nacional de Saúde de qualidade para todos porque sei que, quando o comércio entra na Saúde, são os que menos têm que ficam a perder”, acentuou Marisa Matias.
No curto discurso feito no largo do Carmo, em Lisboa, a eurodeputada começou por nomear os trabalhadores ali presentes, entre os quais estavam investigadores, trabalhadores de recolha do lixo, professores, carteiros, entre outros. “Farei toda a campanha assim, a ouvir, a dar voz à gente sem medo, a apoiar a coragem de quem cuida dos outros. Portugal precisa de saber quem são e de ouvir quem faz a vitória sobre o medo”, afirmou, acrescentando que se candidata para “fazer essa campanha contra o medo”.
Afirmando-se “socialista, laica e republicana”, Marisa Matias defendeu que o pais precisa de uma “política socialista, porque é o pleno emprego, o fim da precariedade e o respeito pelo salário e pela pensão, é essa política que nos deve guiar nos meses mais difíceis do nosso século, o tempo de uma crise que ainda se vai agravar e que, no dia das eleições, ainda estará a fazer vítimas”.
O país, continuou, também “precisa da laicidade do Estado e do ensino, da escola que trata toda a gente com o mesmo respeito e que defende as crianças e o seu direito a aprender e crescer nas melhores condições”.
E “precisa da República, da liberdade e da igualdade que nos torna a todos e a todas responsáveis pela nossa gente. A República é a terra de mulheres e homens, de crianças e adultos, de brancos e negros, de imigrantes e emigrados, sem discriminações, sem intolerância, sem perseguições. A liberdade e a igualdade são as minhas bandeiras”, afirmou Marisa Matias.
“O medo é o que nos destrói, é o que torna um país pequeno e submisso, é o que provoca divisões, racismo, ódio, perseguições”, acrescentou a eurodeputada, numa declaração que, sem nomear ninguém, tem como destinatário mais óbvio o também já anunciado candidato e líder do Chega, André Ventura.
O único candidato nomeado por Marisa Matias foi, precisamente, aqui que ainda não anunciou a sua decisão, Marcelo Rebelo de Sousa, que tem remetido esse anúncio para mais tarde e que esta segunda-feira entre nos seis meses finais do seu mandato, perdendo assim o poder de dissolver o Parlamento.
Esta quinta-feira, a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes apresenta a sua candidatura, com uma declaração na Casa da Imprensa, em Lisboa. E no sábado, será a vez de o PCP anunciar quem será o seu candidato numa conferencia de imprensa depois da reunião do Comité Central.