10 set, 2020 - 16:32 • Eunice Lourenço , Susana Madureira Martins
Anuncia-se como uma candidata pela transparência de pela democracia e como a única representante do socialismo democrático. Ana Gomes, antiga diplomata, ex-eurodeputada, anunciou formalmente a sua candidatura às eleições presidenciais do próximo ano, numa sessão que teve lugar no salão nobre da Casa da Imprensa, em Lisboa.
“Candidato-me pela transparência”, afirmou Ana Gomes na sua declaração inicial em que também defendeu que os portugueses “têm de voltar a acreditar que a democracia vale a pena”. Para Ana Gomes “uma parte do sistema deixou-se corroer por interesses instalados” que não servem, nem representam os portugueses.
Apresentando-se sozinha, em apoiantes e sem familiares a acompanhar, Ana Gomes começou por fazer referência ao lugar que escolheu para se apresentar: a Casa da Imprensa, que “sempre acolheu debates pela liberdade e pela democracia”. Depois lamentou que o seu partido não tenha apresentado um candidato presidencial e apresentou essa ausência do PS para justificar a sua candidatura.
“Não aceito a desvalorização de um ato tão importante” como são as eleições presidenciais, disse a antiga diplomata que suspendeu essas funções para ser dirigente do PS, em 2003, a convite de Ferro Rodrigues. “Não devo nem posso desistir deste combate pela democracia”, disse Ana Gomes, para quem o momento é ainda mais importante pelos “tempos estranhos de grave crise económica” que se vivem e anunciam.
“Tempos que anunciam desemprego, tensões sociais e políticas, mais desigualdade e mais insegurança”, avisa, apresentando-se como uma cuidadora. “Cuido, sempre cuidei e quero cuidar deste país”, anunciou-se Ana Gomes, considerando que Portugal precisa de “uma Presidência diferente”, que passa por “uma Presidente independente, uma Presidente que não tem medo de ir contra interesses instalados, uma Presidente livre de cumplicidades e comprometimentos”.
Hora da Verdade
O primeiro mandato de Marcelo Rebelo de Sousa é “e(...)
Quando, já no período de perguntas, foi questionada se havia alguma critica implícita ao atual Presidente, Ana Gomes não só recusou a ideia como elogiou Marcelo, de cujo mandato faz um “balanço positivo”, desde logo pela “descrispação” que veio trazer à sociedade portuguesa.
“Não me candidato contra ninguém, candidato-me por um projeto de país e os meus adversários serão aqueles que estão nesta contenda democrática”, respondeu quando lhe perguntaram se a sua é uma candidatura contra a de André Ventura, presidente e candidato do Chega. Evitando sempre nomeá-lo, Ana Gomes falou apenas em “forças oportunistas com agendas anti-democráticas, nocivas para o país”.
Quanto a Marisa Matias, que apresentou a sua candidatura esta quarta-feira, lembrou a proximidade até pessoal – “é uma excelente candidata e é minha amiga” -, mas considera que não cobre o seu espaço político. “Considero-me qualificada para representar o socialismo democrático e progressista”, afirmou Ana Gomes, que diz já ter recebido “muitas e muitas mensagens de apoio e de encorajamento”, incluindo de dirigentes atuais do PS.
A ex-eurodeputada espera que o seu partido ainda “faça um debate democrático” sobre as eleições presidenciais, apesar de os seus dirigentes, como António Costa ou Carlos César, terem já defendido a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa e terem adiado o congresso socialista para depois desse ato eleitoral. Mas mesmo que o partido não fala esse debate, Ana Gomes tem uma certeza: “Os militantes do meu partido sabem pensar pela sua própria cabeça.”