Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

PCP/Congresso. Jerónimo admite continuar líder e diz que é cedo para escrever memórias

22 nov, 2020 - 09:00 • Lusa

Em entrevista à agência Lusa, o secretário-geral do PCP diz que o Governo está “longe, longe” das posições dos comunistas no Orçamento do Estado para 2021 e não vê abertura para as propostas do partido.

A+ / A-

Jerónimo de Sousa admite, implicitamente, continuar como secretário-geral do PCP no congresso de Loures, e diz que ainda é cedo para escrever as suas memórias.

"Eu hoje não estaria em condições de escrever um livro de memórias. Continuo a pensar que meu futuro, seja como secretário-geral seja como membro do comité central ou como militante, é ainda a olhar para frente. Continuo com mais projeto do que memória", afirmou Jerónimo de Sousa numa entrevista à agência Lusa, questionado sobre os 16 anos de liderança, desde que sucedeu a Carlos Carvalhas, em 2004.

Aos 73 anos, o líder dos comunistas afirma, com um sorriso, que, apesar das leis da vida, se tem "aguentado muito bem", mas remete a decisão quanto à escolha do secretário-geral para o comité central a eleger no XXI congresso nacional, em 27, 28 e 29 de novembro, em Loures.

Jerónimo não revelou o que pensa, pessoalmente, e realçou que "a vontade maior deve ser do próprio partido" quanto à escolha do secretário-geral.

Com um sorriso, comentou ser "curioso" que o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tem "praticamente" a sua idade [71 anos], e prepara-se para eventual candidatura para mais cinco anos.

"E ninguém questiona a questão da sua idade. E bem", disse.

A primeira vez que admitiu não se recandidatar à liderança, porque "é da lei da vida", foi numa entrevista à Lusa em março de 2019, embora frisando não ir "calçar as pantufas", mas em setembro aconselhou "uma tripla" sobre o seu futuro, "sair, ficar ou ficar mais um bocadinho".

Passados 16 anos, destacou o facto de o partido ter escolhido um "operário metalúrgico" para líder recordou, também, quando teve de enfrentar o preconceito, devido à sua "origem social", depois de ser eleito, em 1975, para a Assembleia Constituinte.

E emocionou-se ao recordar palavras de pessoas na rua quando lhe dão palavras de incentivo, apesar de admitirem "não sou do seu partido" ou até quem lhe diga: "Deus o guarde."

O XXI congresso nacional do PCP realiza-se em 27, 28 e 29 de novembro de 2020 no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, distrito de Lisboa, sob o lema "Organizar, Lutar, Avançar - Democracia e Socialismo".

Orçamento: Governo ainda está longe

O líder do PCP endureceu o discurso e assumiu que o Governo está “longe, longe” das posições dos comunistas no Orçamento do Estado para 2021 (OE2021) e não vê abertura para as propostas do partido.

Jerónimo de Sousa admitiu que, sem “fazer juízos apressados” - “até ao lavar dos cestos é vindima” - o PCP irá fazer “tudo para que o orçamento corresponda às necessidades nacionais”, “honrando a sua palavra até o fim”.

No entanto, o líder comunista não vê, “neste momento”, “essa disponibilidade e garantia por parte do Governo do PS”.

“Podemos dizer que o Governo não se tem aproximado” das posições do PCP, afirmou ainda.

Os comunistas, sublinhou, fizeram “mais de três centenas de propostas” de alteração do Orçamento para o debate na especialidade, que se prolonga na próxima semana no parlamento, e a abertura dada pelos socialistas é considerada insuficiente.

“Aqui ou acolá, o Governo do PS tem procurado corresponder a esta ou aquela proposta do PCP, mas importa lembrar que o que vamos fazer é uma votação final global”, disse, para sustentar que será a “apreciação da globalidade do orçamento que determinará” a posição do partido.

Podem ter existido “duas, três, quatro propostas positivas”, mas nem o prolongamento do “lay off” pago a 100% para 2021, anunciada pelo PS e que o PCP também defendia, é suficiente para convencer o partido comunista.

“Claro que não”, respondeu.

De rajada, aponta logo três áreas em que, segundo defende, há falta de resposta da parte do executivo liderado por António Costa.

Hoje, existe “um problema social grave não só em termos de salários”, mas também com o “lay off”, que “fez mossa na vida de quem trabalha” por “o trabalhador perder [o equivalente] a um salário” de três em três meses.

Quanto ao Serviço Nacional de Saúde, “o necessário reforço que toda a gente parece estar de acordo”, não tem, depois, “medidas concretas” que o ponham em prática.

E no plano económico “há setores muito diversos” a ser atingidos, “particularmente as pequenas e médias empresas”, enquanto, disse, há um “caráter intocável em relação aos grandes grupos económicos, que continuam de vento em popa”.

Jerónimo de Sousa acredita que “o povo e os portugueses” compreenderam a posição do PCP, ao abster-se na generalidade e fazendo depender o sentido de voto da aceitação de propostas do partido e da avaliação global que fará na votação final global, na quinta-feira.

“O que nós não podemos fazer é aprovar um orçamento onde estão ausentes [as respostas] a grandes questões sociais e as grandes questões económicas”, afirmou, recusando criar “ilusões” aos portugueses.

Havendo “avanços” com medidas “no plano estrutural” da parte do Governo, há “uma perspetiva” mas, “a manter-se a situação”, o líder comunista recusa antecipar a posição que o partido “não tem” e confessou: “Mas sentimos o PS longe, longe destes objetivos.”

Poderá o PCP sentir-se corresponsável por uma eventual crise política caso o OE2021 seja “chumbado”? A resposta de Jerónimo resume-se a esta frase: “A nossa primeira responsabilidade é com o povo e não com o PS.”

E sobre se a realização do congresso poder ser entendida como uma “moeda de troca” do Governo em matéria orçamental, Jerónimo de Sousa afirmou, em tom grave, uma “posição séria clara e honrando a palavra”.

“Nunca por nunca, em relação ao governo, e da sua parte em relação ao PCP que alguma vez que o Congresso tenha sido referido como moeda de troca em relação à situação que vivemos. Empenho aqui a minha palavra para dizer que essa questão nunca foi levantada e ou tratada”, disse.

Tópicos
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Maria
    22 nov, 2020 Palmela 10:50
    E verdade! O presidente da republica " e velho pra mais um mandato e alem disso esta todo podre tem a barriga furada!

Destaques V+