02 dez, 2020 - 18:22 • Paula Caeiro Varela
O presidente do PSD, Rui Rio, diz que o Estado de Direito é prioridade absoluta da União Europeia, mas tem dúvidas quanto ao momento para levantar a questão.
Rui Rio, que participou esta quarta-feira na Web Summit, questiona se será o momento para misturar essa questão com a disponibilização do fundo de recuperação acordado entre os Estados-membros.
O presidente do PSD foi questionado hoje, num painel da conferência tecnológica, sobre o bloqueio que Polónia e Hungria estão a fazer ao acordo que prevê um mecanismo de condicionalidade para acesso aos fundos.
Rui Rio defendeu que o acordo é uma vitória da União Europeia e não haveria futuro se não tivesse sido alcançado.
Embora reforçando que não deve haver dúvidas sobre a importância do Estado de Direito, o líder social-democrata acrescentou, no entanto, que "a questão é se este é o momento para misturar os fundos de recuperação, para ajudar a economia dos Estados-membros a recuperar, se é uma boa ideia misturar isso com o Estado de Direito, mesmo quando dizemos - como eu disse - que o Estado de Direito é muito, muito, muito importante".
"É preciso evitar que a União Europeia fique bloqu(...)
Rui Rio falava numa intervenção sobre “O futuro de Portugal”, no primeiro dia da Web Summit, que este ano decorre exclusivamente online por causa da pandemia de Covid-19.
O líder da oposição foi questionado sobre as dificuldades atuais da União Europeia devido ao impasse com a Hungria e Polónia, que bloquearam a aprovação do orçamento plurianual da UE para 2021-2027 (1,08 biliões de euros) e do Fundo de Recuperação pós-pandemia que lhe está associado (750 mil milhões) por discordarem da condicionalidade no acesso aos fundos comunitários ao respeito pelo Estado de Direito.
Sobre a atitude do PSD de colaboração com o Governo ao longo da crise pandémica, Rio fez questão de distinguir dois momentos.
“A diferença é que, em março e abril, não critiquei o Governo, porque nessa altura não tínhamos ‘know how’ [sobre a covid-19] e sabia que nessa altura não poderia ter feito melhor que o nosso primeiro-ministro, não era justo, não era honesto criticar. Agora é diferente, agora ajudo, coopero com o Governo, mas posso criticar porque sei que faria um pouco melhor”, disse, reiterando que o Governo cometeu “um erro” e não planeou atempadamente a segunda vaga.
Como prioridades para os fundos europeus, o líder do PSD defendeu, como tem feito nos últimos meses, que “a primeira tem de ser as empresas” para reindustrializar e modernizar a economia portuguesa e só depois o investimento público, em setores como a ferrovia ou os portos.
Questionado se teme que esta crise provoque uma nova vaga de emigração jovem, Rio respondeu afirmativamente, embora alertando que, ao contrário da anterior, esta crise é generalizada na Europa.
“A solução é oferecer melhores salários e melhores empregos”, disse, apontando que tal só será possível com empresas mais competitivas pelos bens que produzem e não pela mão de obra barata.
Rui Rio recusou ainda que, antes da pandemia, existisse qualquer milagre económico em Portugal.
“Não, não tivemos nenhum milagre, o crescimento económico em Portugal este século foi zero”, afirmou, apontando que, se nos últimos anos, se tinha registado um “crescimento ligeiro”, tal não pode ser classificado como um milagre.