05 dez, 2020 - 00:36 • Sérgio Costa
"A morte prematura de Sá Carneiro e Amaro da Costa permitiu projetar muitas das virtudes e características heroicas que gostamos nos líderes que nos inspiram".
A frase é proferida por alguém que tinha três anos de idade num dos dias mais trágicos, traumáticos até, da democracia portuguesa: 4 de dezembro de 1980, o dia da tragédia de Camarate.
Quarenta anos depois, Adolfo Mesquita Nunes olha em particular para Amaro da Costa, antigo vice-presidente do CDS (cargo que Mesquita Nunes também desempenhou) para sublinhar que o partido vive há quatro décadas "em estado de viuvez pela perda de um companheiro que julgávamos para a vida toda".
Mesquita Nunes retrata as sedes do CDS como reservas da memória do antigo ministro da defesa, com fotografias e frases espalhadas pelas paredes, uma constante memória de alguém que "tinha uma enorme bonomia com os militantes", razão pela qual, diz, todos no partido "têm a sensação de que conviveram com ele".
Num olhar para o legado das duas personalidades, o ex-vice do CDS sublinha que Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa foram a demonstração de que a direita poderia governar sem pôr em causa a liberdade, clarificando que "o sistema político português tem dois lados que podem alternar no poder".
O abismo moral
Fará sentido fazer o exercício de imaginar como seria o país se Camarate não tivesse acontecido? À pergunta, Adolfo Mesquita Nunes responde que sim enquanto exercício inspirador, sublinhando gostar de pensar que teria sido possível manter um ímpeto reformista iniciado pela AD. Contudo, ao mesmo tempo, diz ser "pouco legítimo usar o nome de Amaro da Costa e Sá Carneiro para o que quer que seja na política atual".
Sem pretender alongar-se em comentários sobre o momento político do país, e sobre o crescimento de um partido como o Chega, o antigo dirigente centrista defende que qualquer ideia pretendente a ser uma réplica da AD tem de se inspirar na veia reformista e de modernização.
Amaro da Costa e Sá Carneiro, lembra, eram pessoas com "princípios bastante firmes, pela moderação, pela democracia liberal". Características que Adolfo Mesquita Nunes sublinha para defender que "há um abismo moral e ético" entre estes princípios e partidos que instigam o ódio. "Se a AD nos pode servir de inspiração que seja para um projeto de liberdade e reformas", conclui.
Nesta entrevista à Renascença, Adolfo Mesquita Nunes convida à leitura do seu livro “A Grande Escolha” onde faz a defesa da globalização no momento em que movimentos populistas exploram as consequências de uma crise internacional.