06 jan, 2021 - 22:24 • Eunice Lourenço , Paula Caeiro Varela
De um lado a “direita social” de que Marcelo Rebelo de Sousa se diz representante, do outro a “direita securitária” de André Ventura. Foi assim o confronto entre estes dois candidatos presidenciais no debate desta quarta-feira, na SIC, em que o Presidente em exercício recorreu aos exemplos de Sá Carneiro, do Papa Francisco e do Papa João Paulo II para mostrar as diferenças com André Ventura.
“Representamos direitas diferentes”, assumiu Marcelo, dizendo-se da “direita social, que se reconhece na doutrina social da Igreja, no Papa Francisco” e defendendo que o Presidente tem de ser um “aglutinador”.
Ventura que já assumiu que não quer ser o Presidente de todos os portugueses tirou, então, do bolso a primeira das fotografias que levou para este debate: uma fotografia de Marcelo Rebelo de Sousa no Bairro da Jamaica, uma fotografia “tirada só à banditagem”, reprovando o Presidente por ido “visitar os bandidos” e não os polícias.
“A minha direita não distingue os portugueses entre os bons e os bandidos. Uma candidatura presidencial deve ser integradora. Fui lá para mostrar que o Presidente não tem medo de ir a qualquer bairro”, defendeu-se Marcelo, que quer continuar a ser “Presidente de todos os portugueses, até dos que cometem crimes”. Por isso, continuou, é que é contra a pena de morte e a prisão perpétua, e voltou de novo a Sá Carneiro e a um Papa, João Paulo II, para lembrar que também rejeitaram esse tipo de penas.
Ventura refirmou que é contra a pena de morte, mas voltou a defender a prisão perpétua, revista de 25 em 25 anos. “Quando vejo casos como o de Pedro Dias não aceito que voltem a ver a luz da liberdade”, afirmou o candidato e líder do Chega.
“Sou católico e para um católico, um cristão a conversão é possível até ao último minuto”, proclamou Marcelo, lembrando mais uma vez o Papa João Paulo II que não aceitou que fosse aplicada prisão perpetua a Ali Agca, o turco que tentou matá-lo na Praça de S. Pedro, e que até o visitou na prisão.
No debate desta quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que respeitará “uma maioria de direita que inclua um dia a Chega” tal como tem respeitado as maiorias de esquerda. “O povo português votou duas vezes numa maioria de esquerda e eu respeitei. O povo açoriano votou numa maioria de direita e eu aceitei”, recordou.
André Ventura acusou o Presidente de “estar sempre a apaparicar o Governo” e tirou a segunda fotografia do debate: uma foto de Marcelo a consolar uma vítima dos fogos que acabou por morrer sem ver a sua casa reconstruída.
O líder do Chega considera que o Presidente devia fazer “um discurso mais forte” contra o Governo. Ao que Marcelo respondeu que fez o “discurso mais violento contra o Governo” depois dos fogos de outubro. Um discurso que levou à demissão de Constança Urbano de Sousa de ministra da Administração Interna.
Um episódio lembrado por Marcelo, mas que fez Ventura questionar porque é que ministros criticados nos últimos tempo – como Marta Temido, Eduardo Cabrita e Francisca Van Dunen – ainda estão em funções. O que deu origem a um dos momentos mais animados do debate.
“Sabe perfeitamente que o Presidente da República só pode demitir sob proposta do primeiro-ministro”, respondeu Marcelo. “Pode abrir a porta, sabe muito bem”, contrapôs Ventura. “Abrir a porta não é demitir. Pode criticar, pode formular uma crítica contundente como aquela que fiz ainda há pouco tempo ao episódio da justiça”, ripostou Marcelo, mostrando mais uma vez a sua condenação do caso do erros no currículo de juiz José Guerra.