13 jan, 2021 - 14:26 • Susana Madureira Martins
Isabel Moreira foi a primeira a chegar à Praça das Flores, em Lisboa, acabadinha de sair do Parlamento, a meio do debate de renovação do estado de emergência. João Ferreira chegou minutos depois e sentou-se com a socialista numa das esplanadas com dois cafés à frente que nenhum deles bebeu.
À frente dos jornalistas, o candidato presidencial apoiado pelo PCP a falar muito baixinho e a deputada do PS a deixar perceber críticas a outra candidata a Belém, a também socialista Ana Gomes, que "deixou de falar de justiça" e que "chegou ao Marcelo e desistiu, não resistiu".
A deputada não entrou em pormenores, mesmo sendo uma conversa semiprivada com o candidato a Belém, mas o certo é que aos socialistas terá caído mal a referência que Ana Gomes fez a Ricardo Salgado no debate televisivo com Marcelo Rebelo de Sousa, com o Presidente candidato a dar uma réplica feroz de "não vale tudo".
Pode ser esta uma das dificuldades do voto socialista em Ana Gomes. Ou porque à candidata militante do PS, mas que não é apoiada pelo partido, lhe é colado muitas vezes o rótulo de "populista" pelos próprios camaradas. Não é, por isso, inocente a crítica velada que Isabel Moreira lhe faz já em declarações e em resposta aos jornalistas.
Para a deputada, constitucionalista, que se filiou no PS em 2013 pela mão de um dos fundadores do partido, Mário Soares, a questão é muito simples: João Ferreira tem "uma adesão corretíssima àquilo que são os poderes do Presidente da República, não inventando poderes que não existem, não se substituindo ao executivo, não se substituindo aos tribunais, não aderindo a uma visão de uma justiça populista”. Isabel Moreira acrescenta que "evidentemente" não encontra "noutros candidatos e noutras candidatas essas visões".
E mais à frente, a deputada insiste que João Ferreira é "o candidato que está melhor colocado no compromisso de respeito integral pela Constituição, que não faz uma única cedência ao populismo".
Isabel Moreira garante que não quer ser "bandeira", nem "exemplo" para ninguém, mas o candidato apoiado pelo PCP agradece muito o apoio de alguém que, apesar de defender com unhas e dentes a legalização lei da morte assistida, e sabendo da posição Partido Comunista Português contra a legalização da morte assistida, ali está a dar a cara.
Sobre esta questão é, de resto, lacónica e concilia a relação de maneira "simples": se for eleito João Ferreira já disse "muitas vezes" que "aquilo que fará se a lei vier a ser aprovada é respeitar a decisão do Parlamento", com a deputada a valorizar, mais uma vez, o "compromisso" deste candidato "com a Constituição que temos e não com uma Constituição inventada, como outros fazem". Mais uma pantufada a Ana Gomes? A André Ventura? Aos dois?
Quanto a João Ferreira o apoio de uma deputada socialista "é um sinal de que esta candidatura é um espaço de convergência de muita gente que vê nela posições de defesa da democracia, posições de direitos consagrados na Constituição, mas que não são ainda realidade na vida dos portugueses e que importa defender".
O candidato a Belém apoiado pelo PCP garante que "recolhe apoios de quadrantes muito diferentes", não só "do ponto de vista partidário, mas também do ponto de vista político, até de intervenção social, de sectores importantes da sociedade", referindo em específico "sectores da própria Igreja", que, diz Ferreira," reconhecem nesta candidatura esse espaço de convergência que num momento como o que o país atravessa é necessário reforçar".
Com Isabel Moreira ao lado, João Ferreira levou a polidez ao extremo referindo ter ali a deputada numa ação de campanha justificava-se tanto mais que "esta não foi a primeira vez" que se encontraram e "de todas as outras em que isso aconteceu foi agradável", arrancando uma gargalhada à deputada socialista ali ao lado.
Em pleno jardim da Praça das Flores, em Lisboa, João Ferreira garantiu ainda que não vai pedir o voto antecipado, que vai votar presencialmente no dia 24 de janeiro, data oficial do ato eleitoral e que por causa do novo estado de emergência e do confinamento que o país irá atravessar a campanha que lidera foi "profundamente modificada".
O que se prevê é uma campanha sem "grandes comícios, ações de rua, arruadas, almoços, jantares", mas com "esclarecimento, mobilização, para valorizar estas eleições", avisando o candidato que não toma nesta campanha uma "posição de abandono".
A caravana de João Ferreira depois de nesta quarta-feira estar totalmente dedicada ao centro de Lisboa vai lançar-se ao extremo norte do país, onde na quinta feira arrancam ações de campanha no Minho.