20 jan, 2021 - 01:09 • Lusa
A candidata presidencial bloquista, Marisa Matias, agradeceu esta terça-feira o “contributo enorme”, inclusive para a Segurança Social, dos imigrantes que trabalham em Portugal, prometendo-lhes dizer "bem-vindo, esta é a tua terra" sempre que ouvirem "vai para a tua terra".
O futebol entrou na intervenção de Marisa Matias no comício virtual para as eleições presidenciais, transmitido desde a Incrível Almadense, distrito de Setúbal, tendo a candidata falado da “lição da Seleção Nacional de Futebol” para contrariar o discurso da extrema-direita, considerando que esta equipa é como Portugal: “cabem todos, cabem todas, toda a gente é precisa, todos diferentes, todos iguais”.
A bloquista fez um “agradecimento a todas mulheres e todos os homens imigrantes que vivem e trabalham” no país, considerando que Portugal lhes deve “o seu esforço”.
“Os imigrantes contribuíram com 884 milhões de euros líquidos para a Segurança Social, pagaram quase 10 vezes mais do que aquilo que receberam em subsídio de desemprego ou proteção social”, enumerou, usando dados relativos a 2019, segundo a candidatura.
Segundo Marisa Matias, o que estes imigrantes “descontam dos seus salários, tantas vezes os mais baixos dos mais baixos de todos, é um contributo enorme para a Segurança Social de todos os trabalhadores em Portugal”.
“Mas agradeço também aos imigrantes o que seus filhos nos ensinam nas nossas escolas, a quem se candidata nas eleições autárquicas ou legislativas, a professores e profissionais de saúde”, acrescentou.
Para a recandidata presidencial, Portugal tem de ser “o lugar da diversidade e do respeito”, assim como o “lugar da igualdade”.
“Precisamos, sim, de imigrantes em Portugal e é por isso que termino com a promessa: sempre que alguém que vos disser ‘vai para a tua terra’, eu repetirei ‘bem-vindo, esta é a tua terra’", comprometeu-se, numa crítica, sem nunca citar o seu nome, ao que disse André Ventura sobre a deputada Joacine Katar Moreira.
A seleção nacional de futebol é, na ótica de Marisa Matias, “a prova da boçalidade do discurso da extrema-direita sobre a pureza racial”.
“Um dos jogadores da seleção nacional foi Ricardo Quaresma. Insultado por ser cigano, ele respondeu: ‘Eu sou cigano. Cigano como todos os outros ciganos e sou português como todos os outros portugueses e não sou nem mais nem menos por isso’. Quando marcou golos, em representação da seleção nacional, os racistas calaram-se todos muito bem caladinhos”, exemplificou.
A fita do tempo recuou e a bloquista foi até à “seleção do Eusébio e do Coluna”.
“Ninguém se lembrou de lhes dizer que deviam voltar para a sua terra e os racistas ficaram calados perante aqueles dois homens e perante outros como eles”, lembrou.
Voltando ao passado mais recente, a candidata a Belém recordou o golo de Éder, nascido na Guiné, que deu a vitória a Portugal frente à França no europeu de futebol, conquista que ia resultando no sobrinho mais novo de Marisa se chamar Éder, caso o irmão mais velho tivesse mesmo podido escolher o nome.
“Os racistas detestam esta seleção de futebol com todas as cores e vivem neste drama: dizem que querem correr com os imigrantes para a sua terra ou falam dos bairros onde muitos deles vivem como covis de bandidos, mas não se atrevem a dizer a metade da seleção de futebol que deve ir para a sua terra e ser expulsa de Portugal”, atirou.
As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de Covid-19 em Portugal, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.