25 jan, 2021 - 03:25 • Liliana Monteiro
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Os primeiros militantes chegaram ao hotel lisboeta Sana Metropolitan, mesmo do outro lado da rua da Sede do PCP, perto das 19h00, e foram ocupando, as poucos, as mais de 20 cadeiras disposta em quatro filas de forma alinhada e ao mesmo tempo distanciada para cumprir as exigências dos novos tempos.
A maioria eram jovens, silenciosos e de olhos nos jornalistas e nos três televisores que foram durante toda a noite dando conta de projeções, reportagens e das palavras dos outros candidatos.
Às 20h00, ouviram-se os primeiros resultados parciais e a reação da sala foi nula.
O momento emotivo da noite registou-se aquando da entrada do candidato comunista João Ferreira, acompanhado por Jerónimo de Sousa, para o esperado discurso da noite.
“João avança com toda a confiança”, “PCP, PCP”, entoaram os apoiantes dando corpo a um pequeno coro por força da pandemia, destoando de outras noites eleitorais em que o ajuntamento era maior e as palavras mais fortes.
De sorriso tímido, como pai e filho, candidato e secretário-geral entraram na sala para comentarem, pouco depois das 22h00, os resultados conhecidos que colocavam João Ferreira em quarto lugar, atrás de André Ventura, com pouco mais de 4% dos votos.
Primeiro foi a vez de João Ferreira que, num tom sereno e tranquilo, fez questão de sublinhar que da sua candidatura tinham resultado contributos que irão perdurar além da noite eleitoral; defendendo a Constituição, lembrou que esta tem a solução e caminhos para resolver os problemas do povo, sendo o seu cumprimento imprescindível.
“Amanhã cá estaremos na mesma a lutar pelo direito de todos”, lembrou João Ferreira, ele que não endureceu as palavras ao falar do vencedor, e reeleito, Marcelo Rebelo de Sousa.
O mesmo não aconteceu com Jerónimo de Sousa, que numa escolha premeditada de palavras teceu os comentários mais duros: “a reeleição de Marcelo é o resultado espectável da fabricação do unanimismo ensaiado. Resultado que dá um segundo mandato, agora mais explicito com uma agenda de direita”.
E a pergunta para o secretário-geral surgiu: João Ferreira passou no teste para novo líder do PCP? De sorriso expresso no rosto, Jerónimo de Sousa explica que o Congresso se realizou há pouco tempo e que ele continuará como secretário-geral, deixando escapar um “ainda havemos de nos ver mais vezes”.
Quando ambos abandonaram a sala, os militantes fizeram o mesmo e só restaram os jornalistas nesta que foi uma noite morna e com poucos motivos para festejar. Uma noite em que o núcleo duro da candidatura de João Ferreira se dividiu entre o hotel e a Sede do partido na Rua Soeiro Pereira Gomes.
PCP sempre a cair em eleições presidenciais
É preciso recuar a 1991 para encontrar o melhor resultado dos comunistas em eleições presidenciais, na altura o candidato Carlos Carvalhas conseguiu 635.373 votos (12,92%).
Segue-se depois o ano de 2006, era o candidato Jerónimo de Sousa, com 474.083 votos (8,64%). O partido foi o quarto mais votado, ficando à frente do candidato do BE.
Em 2011 o candidato Francisco Lopes conseguiu 293.143 votos (7,05%). Foi a quarta força mais votada, só ultrapassado por Fernando Nobre (independente), Manuel Alegre (PS, BE, PCTP/MRPP) e Aníbal Cavaco Silva (PPD/PSD, CDS-PP, MEP).
Nas anteriores eleições presidenciais, em 2016, Edgar Silva não foi além dos 183.051 votos (3,94%). Ficou na 5.ª posição, ultrapassado por Maria de Belém Roseira (independente), Marisa Matias (BE), António Sampaio da Nóvoa e Marcelo Rebelo de Sousa (PPD/PSD, CDS-PP, PPM).