25 jan, 2021 - 01:36 • Filipe d'Avillez , José Pedro Frazão
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O PS e António Costa saem bem destas eleições presidenciais, mas o PSD arrisca-se a ficar várias legislaturas na oposição se não se abrir a coligações com o Chega. Já o CDS, pode ter “morrido hoje”, consideram os comentadores Nuno Garoupa e Luís Aguiar-Conraria.
No rescaldo da noite eleitoral, Nuno Garoupa considera que António Costa venceu a aposta de não ter lançado um candidato. “Parece-me que estas eleições correram muito bem a António Costa, porque demonstraram que o eleitorado do PS votou Marcelo. Ana Gomes tem um resultado muito fraco, o que significa que António Costa fez a aposta certa e que de alguma maneira calou a sua ala mais à esquerda. A ala esquerda do PS sai bastante enfraquecida destas eleições, porque se a este resultado descontarmos o PAN e o Livre, quer dizer que a ala esquerda vale menos de 10%. Por outro lado, reforça a crise do PCP e do BE, portanto parece-me que neste momento o PS tem em António Costa a única figura liderante”, diz.
Sem discordar, Luís Aguiar-Conraria não deixa de expressar o seu desagrado pela posição do PS. “Incomoda-me isto. Imaginar que se Ana Gomes não se tivesse candidatado, o PS teria entregue de mão beijada o segundo lugar à extrema-direita. É uma coisa que me choca.”
“O PS não parece um partido político, não há nada de ideologia. Neste momento parece uma mera engrenagem de poder e de facto, enquanto engrenagem de poder funcionou bem, mas enquanto partido político, que se preocupa com a qualidade da democracia portuguesa, acho que o PS prestou um péssimo serviço ao país, aliás, como o Bloco de Esquerda e o PCP, que tiveram as votações que mereceram, também não perceberam o que estava em causa.”
“Os únicos partidos que estiveram bem foram o PAN e o Livre, e aliás, em relação ao PAN vale a pena realçar que o PAN até agora nunca se tinha assumido explicitamente como um partido à esquerda e com este apoio, de certa forma mostra querer posicionar-se como um partido da esquerda do nosso espetro político”, afirma Conraria.
Já à direita o cenário é mais complicado para um PSD que tem de se habituar a viver com um Chega que se afirmou esta noite como um partido já de nível nacional.
“Uma das grandes questões que ficou aqui é da relação do PSD com o Chega. O Chega foi muito claro: o PSD só governa com o Chega. Acho que os Açores mostram isso e o PSD vai ter de tomar uma decisão. Ou se abre ao Chega ou não se abre e não se abrindo o PSD condena-se à oposição várias legislaturas”, diz Nuno Garoupa.
Luís Aguiar-Conraria, por seu turno, considera que o discurso de Rui Rio mostra que essa abertura já aconteceu. “Parece-me, pelo discurso do Rui Rio, que ele já se abriu ao Chega e de certa forma quase festejou a forma como o Chega conseguiu ganhar votos em bastiões comunistas e festejou pela forma como disse que não subtraía votos ao PSD e pareceu-me satisfeito com esse resultado.”
Já para o CDS o futuro pode mesmo ser mais escuro, ou inexistente, considera o comentador, tendo em conta os resultados de André Ventura. “É uma consolidação brutal do Chega, que se torna um partido nacional. Não esquecer que o ano passado ele não chegou a 1.5% dos votos e agora teve muito mais do que isso e isso corresponde muito provavelmente ao desaparecimento do CDS. É uma coisa que iremos confirmar, ou não, nas próximas autárquicas, mas possivelmente o CDS morreu hoje, apesar da alegria dos seus dirigentes.”
No que diz respeito à vitória categórica de Marcelo Rebelo de Sousa, ambos concordam que o segundo mandato não deve divergir muito do estilo do primeiro.
“É claro que Marcelo Rebelo de Sousa tem um resultado muito sólido e sai com uma legitimidade reforçada”, diz Garoupa. “É um resultado claríssimo de reforço, 2,5 milhões de votos, e tem todas as condições para iniciar o seu segundo mandato sem complexos.”
“Marcelo dois será igual a Marcelo um, ao contrário do que tem sido tese vigente. Se as circunstâncias se alterarem é provável que tenha de se ajustar a novas condições, mas não penso que isso esteja em cima da mesa, penso que vamos ter um processo de continuidade pelo menos até ao final desta legislatura”, conclui.
Conraria considera que “Marcelo é claramente uma pessoa que gosta, vive e ama que o amem e isso é independente de qualquer reeleição. Penso que o mandato dele será semelhante, que será tentar que o maior número possível de portugueses goste dele em qualquer momento”, embora reconheça que o seu discurso de vitória foi “mais intervencionista”, a “anunciar um semipresidencialismo um bocadinho mais forte para o segundo mandato.”
“Dá recados ao PSD para não fazer coligações com o Chega, dizendo que os portugueses não querem democracias iliberais, e parece-me que está a anunciar um segundo mandato mais interventivo.”