07 fev, 2021 - 08:01 • Susana Madureira Martins , Eunice Lourenço
O presidente do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, viu a sua moção de confiança aprovada pelo Conselho Nacional com 144 votos a favor e 113 contra. Um resultado que afasta, para já, a realização de um congresso antecipado.
A votação, que decorreu por voto secreto organizado de forma eletrónica, decorreu já durante a madrugada deste domingo e o resultado foi anunciado já depois das 4h00, quando terminaram as intervenções dos conselheiros nacionais.
Votaram 265 conselheiros, 5% dos quais optaram pela abstenção. Os resultados dão uma maioria de 54,4% de apoio à direção liderada por Francisco Rodrigues dos Santos. Os 113 votos contra a moção de confiança representam 42,6% dos conselheiros.
Terminou, assim, a longa reunião do Conselho Nacional do CDS, que durou cerca de 16 horas. As primeiras, recorde-se, foram gastas a debater como deveria ser votada esta moção de confiança apresentada pela direção do CDS, depois de Adolfo Mesquita Nunes ter pedido um congresso antecipado.
“Quero pedir, de uma vez por todas, que o nosso partido possa beneficiar finalmente de um clima de paz interna, que nos permita concentrarmo-nos nos desafios do país sem nos desviarmos em querelas, fraturas e divisões dentro de portas”, afirmou o líder do CDS depois do anúncio dos resultados.
E deixou um apelo direto a Adolfo Mesquita Nunes: “Apelo ao Adolfo Mesquita Nunes em particular a que possamos brevemente ter um encontro que esperaria que pudéssemos agendar para construir e trabalhar lado a lado pelo nosso partido que merce a nossa união, a nossa solidariedade, porque Portugal não pode esperar mais pelo CDS.”
Francisco Rodrigues dos Santos disse ainda que, feita esta clarificação no Conselho Nacional, o partido tem tudo para ter sucesso. E garante que conta com todos da mesma maneira.
“Eu não desisto do meu partido, eu estou convosco, estou com aqueles que hoje votaram favoravelmente esta moção de confiança e estou também ao lado de todos aqueles que entenderam votar contra. E, sobretudo, para estes estarei particularmente empenhado em convencê-los que esta direção merece a confiança de todo o partido, para mais tarde merecer também a confiança dos portugueses”, afirmou o presidente do CDS.
Pouco depois de terem sido anunciados os resultados, Adolfo Mesquita Nunes agradeceu, nas redes sociais, aos seus apoiantes por um resultado que, mesmo sendo de derrota, terá sido superior às expectativas, já que se tratou de defrontar a direção do partido num órgão onde, por princípio, tem apoio maioritário.
“O nosso resultado, que tantos diziam impossível por conta das inerências, fica a dever-lhes muito. Não tenho palavras para agradecer a motivação, o empenho e esperança que me emprestaram, e que explicam tanto do meu dever de militância. Agora há eleições autárquicas e nelas estarei empenhado, na minha terra”, escreveu o ex-dirigente do CDS que estava disponível para ser candidato à liderança num congresso antecipado.
“Fiz aquilo que a consciência me ditava: alertar o partido para uma crise de sobrevivência. O Conselho Nacional entendeu de forma distinta. Está no seu mais legítimo direito. Como é evidente, respeito o resultado, assim como a avaliação positiva que o Conselho Nacional faz desta direção e da sua estratégia”, reconheceu Mesquita Nunes, que chegou, a meio da tarde, a abandonar a reunião devido à condução dos trabalhos.
“Soube desde o começo que o Conselho Nacional era, por natureza e pela sua presente exiguidade, o mais difícil órgão para apresentar uma proposta de marcação de Congresso. Mas foi aquele que escolhi para poder respeitar as regras estatutárias”, escreveu o ex-vice-presidente do partido, que, nas últimas semanas, foi várias vezes acusado de estar à procura de um pretexto para sair do CDS.
Já na parte final do debate no Conselho Nacional, o líder da distrital de Setúbal fez o desafio a Adolfo Mesquita Nunes de candidatar-se à câmara do Barreiro nas eleições autárquicas deste ano. Uma provocação daquele dirigente que mereceu uma defesa da honra de Mesquita Nunes, que lembrou que nas últimas eleições autárquicas se candidatou à Câmara da Covilhã e com bons resultados.
Mesquita Nunes disse que é contra candidatos paraquedistas que se candidatam a terras com as quais não têm qualquer relação e desafiou Francisco Rodrigues dos Santos a avançar para uma candidatura autárquica como fizeram os líderes com quem trabalhou, ou seja Paulo Portas e Assunção Cristas, ambos protagonistas de candidaturas a Lisboa.
“O presidente do partido se quiser mobilizar os dirigentes do partido para o combate autárquico é o primeiro a avançar, tinha de ser o primeiro a avançar. Foi isso que aconteceu com todos os presidentes do partido com que trabalhei”, desafiou Mesquita Nunes.
As eleições autárquicas começam, assim, a mexer no CDS. São o próximo ato eleitoral, mas também foram a meta avançada por Francisco Rodrigues dos Santos, que admitiu um congresso antecipado depois dessas eleições, que devem realizar-se em setembro ou outubro. Mesquita Nunes defendia a realização de um congresso o quanto antes precisamente para que o CDS possa chegar mais preparado às eleições autárquicas.