07 mar, 2021 - 12:21 • Susana Madureira Martins , Marta Grosso (edição)
O líder da Juventude Socialista (JS) aponta erros na governação de José Sócrates e de António Guterres. Miguel Costa Matos, que participa neste domingo num encontro da JS por videoconferência sobre a ascensão do neoliberalismo e a Terceira Via, acusa aqueles dois antigos primeiros-ministros de não terem sido leais aos valores do socialismo.
“Não podemos descurar que em todos estes governos, seja o governo de José Sócrates, António Guterres, Tony Blair, Gerhard Schroeder, houve avanços sociais, houve avanços relevantes. A questão não é se houve avanços, a questão é se houve erros, se houve momentos em que nós não fomos leais aos nossos valores e em que cedemos aos dogmas do mercado. E, hoje em dia, olhando em retrospetiva, é bastante claro que houve”, afirma.
Focando-se na liderança do PS de José Sócrates, a partir de 2004, o atual líder da Juventude Socialista aponta a deriva do antigo líder do partido para o liberalismo, dando como exemplo o lançamento de várias parcerias público-privadas (PPP).
“Nas eleições para a liderança do PS, em 2004, José Sócrates apresenta uma esquerda moderna e é curioso que ele, na altura, já resistia à expressão Terceira Via – dizia que não era Terceira Via. Mas Mário Soares sabia muito bem o que é que esta esquerda moderna defendia e já na altura se queixava que sentia que esta esquerda moderna não estava confortável com os nossos valores, era um bocado tímida em relação aos nossos valores, que defendia um bocado demais o liberalismo”, começou por dizer.
“Bom, dito e feito: no Governo de José Sócrates tivemos algumas vezes medidas mais para o liberais do que para o socialista. Privatizações, PPPs, entre outras”, apontou, numa espécie de ajuste de contas com o passado mais recente do PS, na sequência da Terceira Via europeia.
Miguel Costa Matos apela ao PS que lidere a esquerda e rejeite o bloco central, pois é necessário distinguir claramente o partido da direita.
“Em vez de termos o centrismo na Terceira Via, assumirmos ao que vamos, que é para, em vez de haver a indiferenciação entre esquerda e direita, assumirmos claramente a nossa diferença com a direita”, defendeu.
“António Costa tem falado muito disto – de liderarmos a esquerda, protagonizarmos uma alternativa e recusar o bloco central, porque isso esbateria essas diferenças; de rejeitarmos a tecnocracia, de parecermos que de tudo sabemos e sermos mais humanos, mais autênticos, construirmos as políticas com as pessoas. E isto também é um bocado o caminho que o Partido Socialista tem vindo a adotar”, apontou.
Para o líder da JS, é necessário regressar a uma política de esquerda com gestão pública dos serviços e negação das parcerias público-privadas, dando como exemplo a recente Lei de Bases da Saúde e o “não fim, mas forte redução dos contratos de associação”.
“Não só termos aqui uma política de identidade, à volta dos temas dos costumes, mas de recentrar-nos e asseguramos que, quando os socialistas estão no Governo, resolvemos os problemas das pessoas. De, em vez de termos só uma visão individualismo, procurarmos cultivar um espírito de comunidade e solidariedade entre nós. Cada vez é mais necessário, as pessoas sentem-se sozinhas. Estamos sempre ligados uns aos outros, mas as relações são muito frágeis”, defendeu.
Na opinião de Miguel Costa Matos, a derrota eleitoral do PS em 2015 mostrou como o partido perdeu na batalha das ideias.
Nesta videoconferência promovida pela Juventude Socialista irá ainda participar, neste domingo, o ministro das Infraestruturas e dirigente nacional do PS, Pedro Nuno Santos.