25 abr, 2021 - 11:24 • Eunice Lourenço , Susana Madureira Martins
Sem os nomear, mas ficando bem claro a quem se estava a referir, a deputada do Bloco de Esquerda Beatriz Gomes Dias referiu-se a André Ventura, deputado e líder do Chega, e ao ex-primeiro-ministro José Sócrates para sustentar a sua defesa da luta contra a corrupção.
“Há que enfrentar a corrupção com coragem e determinação, alterando o regime da finança, combatendo a fraude, melhorando os mecanismos legais e judiciais de prevenção, investigação e punição. E também através duma ação política e cidadã exigente, que defenda a transparência, o interesse público e a justiça”, disse a deputada, já quase a terminar o discurso.
“A falta de vergonha chega ao ponto de termos um advogado que vem de um escritório de planeamento fiscal, a subir a esta tribuna para clamar contra a fuga ao fisco”, disse a deputada, numa referência a Ventura. Depois a referência a Sócrates, usando um termo utilizado pelo juiz Ivo Rosa: “Não aceitamos que a promessa de igualdade contida na Constituição de abril seja mercadejada. A soberania do povo e a sua representação não são uma mercadoria.”
Beatriz Gomes Dias começou o seu discurso lembrando os “todos os combatentes pela libertação dos países africanos ocupados pelo regime colonial português, que conheciam bem o alcance da sua luta”.
“Estas mulheres e homens africanos não conquistaram apenas a liberdade para os seus povos, contribuíram também para a libertação do povo português. Também a elas e a eles devemos o 25 de Abril, também a elas e a eles prestamos a nossa homenagem neste dia”, afirmou a deputada.
Depois, fez questão de falar de pobreza e discriminações que ainda persistem em Portugal. “Com a crise social e económica provocada pela pandemia, em que muitas pessoas perderam o emprego e os rendimentos, a intensidade da pobreza irá aumentar.
Esta desigualdade – é bom lembrá-lo – afeta desproporcionalmente alguns grupos sociais que são alvo de múltiplas discriminações”, afirmou. E elencou os grupos que considera serem mais afetados: “As mulheres que veem a sua liberdade e os seus direitos limitados por uma cultura patriarcal que as oprime; para as pessoas negras, ciganas e de outras comunidades racializadas que sofrem quotidianamente o impacto do racismo estrutural; para as pessoas migrantes e refugiadas que esbarram nas fortalezas que lhes vedam o acesso a direitos fundamentais; para as pessoas LGBTQI+ discriminadas por uma sociedade heteronormativa que as exclui e violenta; para as pessoas com deficiência às quais é negado o poder de decidir as suas vidas e de vivê-las com verdadeira independência; para as pessoas idosas tantas vezes esquecidas pelas políticas públicas.”
E terminou o discurso com a necessidade de combate à corrupção, porque, disse, “Abril também não se cumprirá cabalmente enquanto não encararmos de frente a corrupção”.
“A corrupção é o cimento da injustiça económica e da desigualdade. Ela mina a democracia, corrói a justiça e ameaça a coesão social. É necessário quebrar a indulgência que alimenta a promiscuidade, a fraude, as portas giratórias, a subordinação do interesse público ao negócio”, defendeu a deputada que é também candidata do Bloco à Câmara Municipal de Lisboa.