24 jun, 2021 - 23:00 • Paula Caeiro Varela , Filipe d'Avillez
Está ou não Fernando Medina disponível para uma auditoria externa sobre a polémica do envio de dados pessoais de manifestantes a embaixadas e outras entidades? A questão foi feita com insistência pelo CDS e pelo PSD esta quinta-feira na audição ao autarca de Lisboa, no Parlamento.
Telmo Correia do CDS bem tentou, mas Medina remete a decisão para a vereação da câmara municipal: “Relativamente aos termos das auditorias ou não auditorias o Sr. deputado respeitar-me-á, e como também já foi vereador da Câmara de Lisboa, que isso é uma decisão que compete aos vereadores da Câmara de Lisboa, compete aos membros do executivo da Câmara de Lisboa tomarem as decisões sobre os procedimentos que vão adotar de auditoria, de funcionamento futuro, de adoção futura, que é uma responsabilidade que nos cabe dentro do quadro da lei e da leitura que a lei nos coloca".
A resposta causou estranheza e levou Filipa Roseta, do PSD, a insistir que não é possível que seja o responsável político quem averigua sobre as responsabilidades de um ilícito cometido durante o seu mandato. "É por isto, em democracia, que as pessoas se demitem. O responsável político que é responsável pelo crime não pode ser a mesma pessoa que vai ser responsável pela auditoria e que vai ver os papeis todos até 2012, não podem ser a mesma pessoa, é por isso que se demitem, não é por outra razão. Há um conflito."
A audição terminou com um momento mais polémico, nas intervenções finais, com o PSD, pela voz da deputada Isabel Meireles, a recordar todos os temas dos quais Lisboa tem sido Capital Europeia e a acrescentar mais um.
“Em 94 Lisboa foi a Capital Europeia da Cultura, em 2020 a Capital Europeia Verde e este ano a Capital Europeia do Desporto. Porém, na última década Lisboa foi, infelizmente, também a Capital Europeia da Bufaria.”
“O Dr. Fernando Medina escondeu o que se passava com a cedência dos dados de manifestantes e ativistas a embaixadas estrangeiras e quando estes factos vieram a público reduziu o caso a um simples problema de balcão da Câmara Municipal de Lisboa ou à tese do delírio de oportunismo político. Estamos a falar de pessoas que a República Portuguesa e a cidade de Lisboa garantiram proteger. E o que se passou é indigno do poder local e da democracia, pelo menos desde os tempos do pós-revolução, com o arquivo Mitrokin ou, mais longinquamente, com a Inquisição”, acrescentou.
Isabel Meireles perguntou mesmo se Fernando Medina não sente que tem “as mãos manchadas”.
“Não teme o Dr. Fernando Medina que no futuro possa ficar para a história não apenas como o autarca que entrega as chaves da cidade, mas também as chaves da masmorra? Não sente que tem as mãos manchadas? Quem precisa de espiões quando os operacionais estão dentro do Estado?”
Fernando Medina não gostou do que ouviu e fez questão de o dizer. “Senhora Deputada Isabel Meireles. Só posso reagir com profunda indignação e desprezo à intervenção que a senhora deputada fez. Acho indigna, indigna. Rejeito em absoluto os termos que utilizou, rejeito em absoluto tudo aquilo que disse, rejeito a forma como o disse e devo dizer-lhe aqui, a olhar para si, que não lhe reconheço nenhuma autoridade para me vir falar alguma vez que seja sobre direitos humanos. É impróprio a forma como se dirigiu e aquilo que disse, e quero dizer-lhe isto diretamente”.