15 jul, 2021 - 18:19 • Susana Madureira Martins
A meio da legislatura, no final de uma sessão legislativa e a ainda a meio de uma pandemia com negociações orçamentais no horizonte, o PS enfrenta uma espécie de tempestade perfeita, aproveitando as jornadas parlamentares, em Caminha, para atirar em vários sentidos e até com avisos para dentro.
O primeiro foi logo do autarca local, Miguel Alves, um homem próximo do secretário-geral do partido, António Costa, chamando o PS à pedra colocando nos ombros dos socialistas o peso da "responsabilidade acrescida" perante a "actual conjuntura política".
Miguel Alves dramatizou o discurso, reclamando que os socialistas têm "mais do que o dobro da responsabilidade sendo partido no poder".
Para o autarca de Caminha, "o PS, em cada concelho e em cada federação e no Parlamento, tem de ser, infelizmente, na atual conjuntura, poder e oposição", rematando que o partido "tem de ser o equilíbrio que falta ao debate no atual panorama de debate no país".
Miguel Alves lançou farpas ao estado das oposições. Fala de uma esquerda em que há "desistência de ser parte das soluções ou a intransigência de querer exigir aquilo que nunca em nenhum momento" o PS pode dar "face aos recursos disponíveis".
Jornadas parlamentares que arrancam esta quinta-fe(...)
O autarca de Caminha diz esperar "que o pragmatismo que normalmente está associado ao institucionalismo de partidos como o PCP permitam, apesar de tudo, alguma estabilidade".
Olhando para a direita, o dirigente socialista vê a "indigência de ideias do radicalismo plástico dos partidos mais populistas ou a deserção do debate de ideias nos partidos mais tradicionais do arco da governação".
Usando de ironia, o autarca compara a vida interna do PSD ao "reality show 'Os sobreviventes', em que uma dúzia de pessoas eram largadas numa ilha, abandonadas à sede à fome, sujeitando-se aos predadores que iam surgindo até ficar um, que escanzelado acabava por erguer um troféu, doente e já sem ser capaz de fazer mais nada".
Esta visão de fim de linha do principal partido da oposição e, sobretudo, do líder Rui Rio "dá o tal acréscimo de responsabilidade ao PS", conclui Miguel Alves, avisando que, "se PS não souber ser, ao lado do Governo, a reflexão, a crítica construtiva, a procura de outros caminhos ninguém conseguirá fazer na atual conjuntura do país". Ou seja, ou há PS ou é o caos.
Aos deputados fica o recado sobre a "necessidade do PS interrogar-se sempre sobre o seu caminho", com Miguel Alves a imaginar um Governo do PS quase eterno, que se arrisca "a ser futuro do país durante muito tempo" e que se se "enquistar" então "o país enquistirá".
Dado o recado para dentro, vieram depois as tacadas do secretário-geral adjunto do PS à direita, com José Luís Carneiro a acusar o PSD de "radicalismo defensivo” e a lançar candidatos à liderança não do PS mas do PSD.
José Luís Carneiro referiu-se às direitas "desoladas" que "ouviram da boca do líder do maior partido da oposição que o PSD, afinal, não é de direita e, por isso, trabalham já numa alternativa que, dizem, está a caminho".
O “número 2” do socialista conclui que "só falta saber se o D. Sebastião virá de Bruxelas ou se virá de Massamá", numa referência mais do que explícita ao eurodeputado Paulo Rangel e ao ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.
Sem falar dos parceiros de esquerda, José Luís Carneiro optou por atirar a um PSD "que contribui para diluir o grande espaço político de diálogo entre o centro direita e o centro esquerda".
A defesa do diálogo à esquerda do PS, essa ficou a cargo do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, com Duarte Cordeiro a repetir aquilo que já tinha dito em entrevista à Renascença e ao “Público”, que será à esquerda que o governo irá procurar "assegurar a estabilidade", tendo em conta as negociações do Orçamento do Estado do próximo ano.