01 set, 2021 - 15:27 • Susana Madureira Martins
A viagem de barco do porto de Setúbal até às praias de Tróia levou mais de duas horas, com deputados e dirigentes do partido Pessoas, Animais e Natureza (PAN) numa secreta esperança de avistarem pelo caminho os roazes do Sado. Não aconteceu.
No meio da bruma apenas se avistaram ruínas romanas, autênticas estâncias turísticas e casa de luxo em cima das dunas e assim ficou marcada a rentrée política do partido liderado por Inês Sousa Real.
Após a viagem de barco a deputada e dirigente do PAN disse ao que vinha: "lançar um repto ao Governo" para ter "mais ambição" no Orçamento do Estado (OE), numa altura em que vão começar as reuniões setoriais com os ministros, após a reunião com o primeiro-ministro, António Costa.
No regresso à política intensiva, após a pausa de verão, Inês Sousa Real, ladeada por diversos dirigentes do partido junto à Doca das Fontaínhas, no porto de Setúbal, fez questão de avisar o Governo e as "demais forças políticas" que "não se faz política sozinho", que é preciso "saber ouvir uns e outros em política", lembrando os apelos ao "sentido de Estado" que foram sendo repetidos na aprovação de sucessivos estados de emergência.
Ou seja, o entendimento é que o PAN fez o seu papel, com Sousa Real a salientar mesmo que "fazer política de terra queimada, criticar ou fazer oposição por fazer oposição seria muito fácil e muito menos trabalhoso", concluindo que "ao longo destes anos" em que o PAN esteve representado na Assembleia da República e nos municípios tem "mostrado que de forma séria" está "sempre disponível para o diálogo".
Resumindo, a porta está sempre aberta e o partido quer tirar proveito disso. No fundo é preciso que o Governo dê o troco a esta abertura, com Sousa Real a garantir que "o PAN não se furtará a exigir ao governo mais ambição", lembrando que "cabe ao governo que não tem maioria absoluta ouvir as demais forças políticas".
Sousa Real exige que o OE se distancie do Programa de Reestruturação e Resiliência (PRR), que considera "pouco ambicioso" nas metas, definindo diversas linhas vermelhas para as negociações, que são basicamente as mesmas que já tinha apontado em entrevista à Renascença: acabar com borlas fiscais aos produtos petrolíferos, garantia na proteção animal ou resolver problemas na banca.
Considerando que foram ditas muitas "frases chavão" no congresso do PS deste fim de semana, Sousa Real admite, porém, que há boas indicações e "alguns sinais positivos" da parte do Governo para as negociações do Orçamento. A porta-voz do PAN dá o exemplo da "revisão dos escalões do IRS", mas é preciso "ir mais longe, ir às pensões de reforma e garantir que também há uma revisão dos escalões aplicados às pensões de reforma".
Para já, a dirigente do PAN refere que "é precoce" avançar com uma posição definitiva sobre o OE, a proposta ainda não é sequer conhecida "no seu todo", apontando a mira às ditas reuniões setoriais.
Na próxima semana está marcado um encontro do partido com o ministro do Ambiente, com Sousa Real a exigir novamente "a calendarização do resto da execução das medidas previstas no Orçamento de 2021".