12 set, 2021 - 11:39 • Lusa
O primeiro-ministro afirmou que a República deve louvar-se por ter sido presidida por um cidadão como Jorge Sampaio, um exemplo de rigor ético, honradez e vigilante defensor da democracia, nunca cedendo à demagogia e ao populismo.
Estas posições foram transmitidas por António Costa no discurso que proferiu no Mosteiro dos Jerónimos, durante a sessão evocativa de homenagem inserida nas cerimónias fúnebres de Estado do antigo Presidente da República, que faleceu na sexta-feira aos 81 anos.
Num discurso em que se referiu à sua profunda ligação pessoal, profissional e política com o chefe de Estado de Portugal entre 1996 e 2006, o líder do executivo caracterizou Sampaio como "um exemplo de rigor ético, de sobriedade e honradez pessoal, de simpatia e empatia humana, de proximidade às pessoas, sobretudo às mais desfavorecidas, excluídas ou esquecidas".
"Fazia isso com a autenticidade que punha em tudo e com a seriedade que nunca cedia à demagogia ou ao populismo. Nestes tempos de tantas tentações antidemocráticas, este património é fundamental. Mostra-nos como se pode ser um atento e vigilante defensor da democracia, não pactuando nunca com aquilo que a desvirtua ou desvaloriza, e fazendo tudo para denunciar e corrigir o que nela está mal, mas usando sempre esse combate e a denúncia dessas fraquezas para aperfeiçoar e reforçar a democracia - e nunca contra ela, para a depreciar ou desacreditar", defendeu António Costa.
Para o primeiro-ministro, em suma, a democracia portuguesa "pode e deve orgulhar-se por ter sido servida por um político maior como Jorge Sampaio e a República deve louvar-se por ter sido presidida por um cidadão exemplar como ele".
Na parte final da sua intervenção, o primeiro-ministro lembrou palavras que Jorge Sampaio proferiu no discurso que proferiu no parlamento, quando foi empossado Presidente da República: "Não há portugueses dispensáveis", disse, em março de 1996.
Na perspetiva de António Costa, esta mensagem de "valorização das pessoas, de coesão nacional e de inclusão social provinha, nele, de uma convicção profundíssima".
"E pode, neste dia, simbolizar a sua atitude humana, a sua luta democrática, a sua ação política, o seu idealismo moral - e continua também a ser uma grande mensagem para os dias do presente e para os tempos do futuro. Não há portugueses dispensáveis e, por isso, não podemos dispensar Jorge Sampaio", frisou o primeiro-ministro.
Em relação ao percurso político de Jorge Sampaio, o líder do executivo referiu que Jorge Sampaio, "desde a sua a liderança do movimento associativo na Crise Académica de 1962, até à iniciativa da criação da Plataforma Global para Estudantes Sírios, teve uma vida pública sempre feita de grandes convicções e de persistentes ações que realizavam essas convicções". "No exercício de altos cargos políticos - membro do Governo, deputado, secretário-geral do PS, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Presidente da República -- deu um valiosíssimo contributo para dignificar a nossa democracia e prestigiar Portugal", sustentou.
No exercício destes cargos, segundo o primeiro-ministro, "a visão humanista e a exigência ética tornaram-se um atributo definidor da sua figura moral e política".
"Por isso, se constituiu como uma referência e um padrão de exigência", acentuou.
Jorge Sampaio, na perspetiva do atual líder dos socialistas, caracterizou-se também como "um político que adorava o debate intelectual, aberto a novas ideias e às mudanças dos tempos, culto e informado do que se passava no mundo".
"Foi um político com princípios, exigente - podemos mesmo dizer ultra exigente - consigo próprio, fiel à sua conceção de uma democracia de cidadania, de participação e de progresso. Foi um político ao mesmo tempo firme e flexível, que nunca cedeu nos valores essenciais, mas soube construir pacientemente apoios, promover acordos, obter consensos. O respeito que conquistou em todos os quadrantes políticos e em todos os setores da sociedade são o melhor penhor da sua excecional qualidade política e humana", realçou.
António Costa referiu-se igualmente a obras e traços marcantes de ação política deixados por Jorge Sampaio na presidência da Câmara de Lisboa, entre 1989 e 1995, ou como chefe de Estado, mas também falou sobre a sua longa e profunda relação pessoal com o antigo líder do PS e Presidente da República.
"Jorge Sampaio era ao mesmo tempo prudente, arrojado e astuto, resiliente e perseverante. Um homem generoso e inspirador. Com a coragem de deixar a emotividade exprimir-se em lágrimas, porque um homem chora quando precisa mesmo de chorar", acrescentou.