17 set, 2021 - 07:00 • Manuela Pires
Carlos Moedas é o rosto de uma coligação de cinco partidos (PSD, CDS, MTP, PPM, Aliança), foi escolha de Rui Rio que considerou em fevereiro ser “a melhor solução para a capital”, no entanto, o antigo comissário europeu não sente nesta campanha a pressão dos partidos, nem sequer de lideranças que possam estar em risco.
“Sinto uma grande responsabilidade para com os independentes que estão na minha lista, sinto pressão dos lisboetas que me dizem que isto tem de mudar. Não sinto a pressão dos partidos, ou das lideranças. Esta eleição a Lisboa é uma eleição independente dessas esferas nacionais dos partidos. Pode ter uma influência no país porque há uma viragem, e isso é importante porque é a capital. Mas é apenas isso e o meu objetivo é, apenas e só, ser presidente da Câmara de Lisboa”, refere Carlos Moedas, em entrevista à Renascença.
Com poucos dias de campanha, o candidato diz sentir nas ruas que os lisboetas querem uma mudança e garante que é o único que pode tirar Fernando Medina da presidência da câmara.
Se lá chegar, avisa desde já as outras 11 candidaturas que não vai fazer acordos no dia seguinte às eleições de 26 de setembro, mas abre a porta a consensos.
“Não tenho como objetivo fazer acordos pós-eleitorais. Fernando Medina sim, basta ver nos debates o grande namoro que faz ao Bloco de Esquerda e à CDU. A minha visão é mais abrangente, vou falar com todos e procurar consensos”, revela.
Há quatro anos, Fernando Medina perdeu a maioria absoluta que António Costa tinha conquistado para o Partido Socialista. Com apenas oito vereadores fez um acordo com o Bloco de Esquerda para garantir estabilidade na governação da câmara.
Mas agora não abre o jogo: “é do voto dos lisboetas que vai sair o próximo presidente de câmara, e são os lisboetas que vão decidir quais as condições de governabilidade que querem atribuir ao próximo presidente de câmara”, diz Fernando Medina em entrevista à Renascença, depois de uma ação de campanha onde visitou as obras de um dos edifícios destinado a habitação de renda acessível.
Há dois temas que têm marcado este arranque da campanha em Lisboa: a habitação e a mobilidade e transportes, mas há quem defenda uma descida de impostos.
Carlos Moedas espalhou pela cidade vários cartazes onde anuncia a promessa de isentar os jovens do pagamento do IMT (Imposto Municipal sobre Transações de Imóveis). Em entrevista à Renascença, esclarece que não é para todos, vai abranger “jovens até aos 35 anos e casas com valor até aos 250 mil euros. Um T0 ou T1 para começo de vida”.
“A lógica é ajudar um jovem que quer entrar no mercado imobiliário. Não é para casas de milhões de euros”, explica o candidato.
Mas há ainda outra promessa, a devolução aos lisboetas de 5% do IRS, ou seja, 32 milhões de euros. Carlos Moedas diz que “esta é a altura certa para baixar os impostos numa câmara que tem um orçamento acima de mil milhões de euros”.
O autarca, que está na presidência da câmara há seis anos, faz outras contas. Fernando Medina diz que “40% da população não beneficiariam com esta devolução de IRS e 30% iam beneficiar no máximo de cinco euros por mês.”
“Isso significa que a grande devolução de dinheiro era para as famílias com mais rendimento”, ataca Fernando Medina, que diz que o dinheiro é necessário e faz falta, por exemplo, para garantir no final do mandato creches gratuitas para todos.
“Enquanto a medida da devolução do IRS dará no máximo cinco euros por mês aos 70% com menores rendimentos em Lisboa. A nossa medida dará em média mais de dois mil euros por ano a esses mesmos 70% que têm filhos na idade de frequentar as creches”, conclui Fernando Medina, em entrevista à Renascença.
A falta de casas e o preço muito elevado da habitação levaram a autarquia a implementar um plano de rendas acessíveis. Nos últimos quatro anos Fernando Medina diz que foram feitos 1.200 contratos de renda acessível, para jovens e famílias da classe média. No programa eleitoral promete a atribuição de, pelo menos, cinco mil novas rendas acessíveis até ao fim do próximo mandato.
“Estamos a construir e a reabilitar casas, a comprar terrenos, estamos a colocar terrenos nossos e contratar com privados para construírem e explorarem essas casas com rendas do nosso programa renda acessível”, refere Fernando Medina.
O objetivo é estender esta iniciativa ao comércio e serviços, porque “queremos lançar programas que permitam regenerações urbanas mais integradas, não só o edificado, mas também o comércio e a atividade económica”, revela o candidato socialista.
Este programa de rendas acessíveis tem regras no que toca ao rendimento das famílias, mas o candidato Carlos Moedas, que quer acelerar este plano e promover um choque na habitação.
O antigo secretário de Estado adjunto no governo de Passos Coelho diz que a câmara está a “criar, de certa forma, alguns guetos de renda acessível e o que devia ser feito era olhar para os dois mil fogos devolutos que a câmara tem e que devem ser requalificados para este programa”.
Para Carlos Moedas, “há alguns critérios que têm de mudar, um deles a da preferência a que mora em Lisboa ou já viveu na capital”.
Neste último mandato, a Câmara de Lisboa construiu mais 65 quilómetros de ciclovias na cidade. A da Avenida Almirante Reis foi a mais contestada e chegou mesmo a sofrer alterações.
Carlos Moedas diz que é para acabar e, quanto às restantes, estão mal feitas e são inseguras, por isso vai pedir um estudo ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). “Na Avenida de Berna há uma ciclovia que sobe para cima do passeio, se vem um peão há uma colisão. Os cruzamentos estão mal desenhados e quem vem de carro não vê o ciclista nem o peão. A população vai ter de habituar-se às ciclovias, mas elas têm de ser construídas tendo em vista a segurança de todos”, defende Carlos Moedas.
A esta proposta do adversário, Fernando Medina diz estar disponível para, se necessário, corrigir alguns percursos em nome da segurança, mas garante que esta contestação e o debate “é demagogia por parte dos meus adversários políticos”.
“Como já perceberam que as ciclovias funcionam e há muita gente a aderir, então o adversário da direita, para não contrariar essas pessoas, agora inventou a tese de que estão mal desenhadas. Mas não propõe nenhuma, eles estão contra”, remata.
Só neste último mandato foram construídos mais 65 quilómetros de ciclovias no concelho, a rede totaliza agora 155 quilómetros.
Fernando Medina foi eleito nas últimas autárquicas, com 42% dos votos. Sem maioria absoluta, fez um acordo de governação com o único vereador do Bloco de Esquerda.
Há quatro anos o CDS surpreendeu e elegeu quatro vereadores, o PSD ficou apenas com dois, tal como a CDU.
No próximo dia 26 de setembro há 12 candidatos no boletim de voto para a Câmara de Lisboa e quatro são estreias absolutas. O Chega concorre pela primeira vez com o antigo apresentador de televisão Nuno Graciano. A Iniciativa Liberal apresenta Bruno Horta Soares e o novo partido Volt tem como candidato o presidente Tiago Matos Gomes. Ossanda Liber é o rosto um movimento independente “Somos Todos Lisboa”.
Fernando Medina é o cabeça de lista da aliança Partido Socialista e Livre, Carlos Moedas pela coligação do PSD, CDS, PPM, MPT e Aliança. João Ferreira é o candidato da CDU pela terceira vez consecutiva.
Beatriz Gomes Dias, deputada é a candidata do Bloco de Esquerda. O PAN, que nas últimas eleições conseguiu 3% dos votos, aposta na escritora e historiadora Manuela Gonzaga. Sofia Afonso Ferreira é a candidata do Nós, Cidadãos.
Bruno Fialho, que sucedeu a António Marinho e Pinto na liderança do PDR, é o candidato à Câmara. Outro candidato, João Patrocínio já é um veterano, é a sétima vez que se apresenta a uma corrida eleitoral, desta vez nas listas do Ergue-te!, A nova designação do PNR.