24 set, 2021 - 06:59 • Paula Caeiro Varela
1. [Geologia]. Libertação súbita de energia que provoca movimentos da superfície terrestre.
2. Grande perturbação.
A definição do dicionário Priberam é tudo o que Rui Rio promete que não existirá no PSD depois das eleições de domingo. O líder do partido social-democrata não quer tumultos nem grandes perturbações se - e sublinhe-se o "se" - os resultados ficarem aquém das expectativas. Importa perceber, porém, quais e de quem são essas expectativas. Se - e sublinhe-se o "se" - Rui Rio decidir não se recandidatar na sequência das autárquicas, não haverá calendários antecipados, nem congressos extraordinários, nem eleições diretas. Foi uma garantia deixada em entrevista à Renascença Rui Rio não se candidata “se o resultado for igual, pior ou pouquinho melhor” do que o PSD teve em 2017 - Renascença (sapo.pt) a meio do período oficial de campanha e repetida depois numa ação de campanha em Fafe. Foi assim com Manuela Ferreira Leite, foi assim com Pedro Passos Coelho, será assim com Rui Rio, não se enganem os candidatos que já se alinham para a sucessão.
A meta que o presidente do PSD tem na sua cabeça ficou clara nessa mesma entrevista: para voltar a candidatar-se à liderança não basta fazer um pouco melhor do que em 2017, mas não diz quais são os mínimos que o podem fazer decidir ficar.
1. [Física] Propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação.
2. [Figurado] Capacidade de superar, de recuperar de adversidades.
Está na moda e entrou no léxico político a propósito de tudo e de nada. Faz parte do Plano de Recuperação que António Costa usou para prometer tanto por tanto lugar onde passou e que Rui Rio criticou como eleitoralismo, pedindo castigo a essa forma de fazer política, que nunca será a sua, garantiu.
Numa campanha quase sempre feita de "contactos com a população", quase sem almoços, quase sem jantares, foi na rua ou, melhor dito, nas lojas e cafés, que o presidente do PSD encontrou a quem entregar os "santinhos", os papéis com as caras e mensagens dos candidatos, também conhecidos como panfletos de propaganda. Conversa nem sempre houve muita, multidões não houve nenhumas, ou não fosse esta uma campanha ainda em pandemia.
Se a liderança de Rui Rio depende - e é assumido - dos resultados de domingo - o líder do PSD não dá sinal de que isso o possa abalar. Entre a comitiva as contas feitas dão para algum alento: ao todo apontam para quase 40 câmaras que podem mudar para o PSD ou para independentes. Seria suficiente para encurtar a desvantagem para o PS que foi sempre assumido como principal objetivo. E na direção nacional há outra certeza. as movimentações de Paulo Rangel dão novo alento e ganas a Rui Rio para não entregar os pontos, naquilo que depender de si.
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Os ataques ao primeiro-ministro e secretário-geral do PS foram subindo de tom, como é próprio das campanhas eleitorais.
Começou com críticas à centralização que deixa deserto o interior, acabou na polémica das declarações de António Costa sobre o fecho da refinaria da Galp de Matosinhos e no "eleitoralismo" de anunciar o fim das restrições impostas por causa da Covid-19 em vésperas de autárquicas.
Pelo caminho, repetiu um pouco por todo o lado a lição de Coimbra, desconfiando que o PS vai acabar a chumbar a deslocalização do Tribunal Constitucional e que só não o fez agora por medo de perder a autarquia: o líder do PSD não quis admitir, mas todos na sua direção reconhecem que essa insistência não é alheia à possibilidade de ganhar a câmara ao socialista Manuel Machado.
Numa campanha em que a estratégia foi - segundo a direção do PSD - ir sobretudo a câmaras onde a presença do líder podia dar um empurrão para a vitória, deixando de fora bastiões laranja mais tradicionais, a Maia foi exceção (tudo indica que continuará a ser social-democrata), e foi perante os maiatos que Rui Rio explicou que a bazuca de Costa era afinal uma metralhadora, que dispara promessas de rajada: "tátátátátátátá", fez Rui Rio.
1. Primeiro dia da semana, depois de sábado e antes de segunda-feira.
2. [Religião] Na tradição cristã, dia consagrado ao descanso e à oração.
Por definição, uma noite eleitoral não é descansada para um líder partidário, mas há depois estas, em que as circunstâncias internas dos partidos colocam maior incerteza sobre o desfecho. Sabemos como começa, nunca sabemos como acaba. Há 4 anos, Pedro Passos Coelho, também numa entrevista à Renascença durante a campanha para as autárquicas, afirmava que os resultados autárquicos não serviriam para se pôr ao fresco. Na noite eleitoral, deixou claro que os resultados não lhe deixavam grande margem para continuar, prometeu reflexão e 48 horas depois anunciava que não seria recandidato.
No próximo domingo, primeiro dia da semana, os resultados autárquicos também vão ser determinantes para a liderança de Rui Rio, mas ele dificilmente dirá antes de segunda-feira qual é a sua decisão. A convicção, entre os mais próximos, é a de que vai interpretar esses resultados, ponderar e só depois decidir.
Sem precipitação, sem tumulto, sem crise, como afirmou, mas também convicto de que "fez o melhor que podia e sabia", afiançou numas declarações no início da semana, ainda faltavam três dias para o fim da campanha. O mesmo líder que disse e repetiu que as autárquicas eram as eleições mais importantes para o PSD e que muitas vezes também lembrou ao longo desta campanha a sua experiência política e, sobretudo, a sua experiência autárquica, foi o mesmo que pareceu assim antecipar uma derrota, mas que também quis sublinhar que alguns apelos para que não desista pesam "e de que maneira" na sua ponderação.
É o dia depois de domingo.
Paulo Rangel
Luís Montenegro
Jorge Moreira da Silva
Carlos Moedas
Miguel Poiares Maduro
Os nomes dos possíveis candidatos à sucessão de Rui Rio ainda são só essa hipótese até lá.
Parafraseando Drummond de Andrade, segunda-feira ainda ninguém sabe o que será.