31 out, 2021 - 15:43 • Fábio Monteiro , Sofia Freitas Moreira
Em política, há debandadas, deserções e dissidências. E, por vezes, também há sangrias. Ainda é cedo para dizer qual o nome mais correto para descrever o que se está a suceder no CDS-PP nas últimas 48 horas, fruto da posição de Francisco Rodrigues dos Santos, que conseguiu adiar o congresso do partido – em que a sua posição como líder seria disputada por Nuno Melo -, dando como justificação a proximidade das eleições legislativas.
Mas as consequências estão à mostra. Alguns dos nomes mais sonantes do partido centrista – como António Pires de Lima ou Adolfo Mesquita Nunes - decidiram desfiliar-se, após a decisão do Conselho Nacional.
Esta situação ocorre num dos momentos históricos em que o CDS-PP está, porventura, mais frágil: as últimas sondagens apontam uma diminuição acentuada de eleitores do partido centrista; um inquérito de setembro dava-lhe apenas 2%, enquanto em 2019 conseguira 4,2%.
Francisco Rodrigues dos Santos ainda não reagiu publicamente à debandada de militantes. Para já, foi Filipe Anacoreta Correia, presidente do Conselho Nacional do CDS, a dar a cara. Este domingo, numa conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa, reagiu à desfiliação de militantes do partido, afirmando que "o CDS não são pessoas" e "não se confunde com personalidades ou com a dimensão que cada personalidade possa ter".
"Nós acompanhamos a notícia da sua decisão [de Pires de Lima] de saída do partido com pesar -- não a festejamos, lamentamos --, mas temos a certeza de que nunca um partido se confunde com essas personalidades e, bem ou mal, nós sabemos, no CDS, que o seu processo histórico foi sempre acompanhado de crises associadas a novos ciclos de liderança", afirmou.
Anunciou a saída no sábado, através do Facebook. Foi o primeiro a fazê-lo. É antigo dirigente do partido e estava filiado há 25 anos.
"O partido em que me filiei, o CDS das liberdades, deixou de existir”, afirmou.
No atual CDS-PP, diz, “a contemporaneidade é vista como uma ameaça, como se as novas gerações e as suas preocupações fossem a degenerescência de uma ordem moral ideal”. Alegou ainda “profundas discordâncias com o rumo seguido pela direção eleita”.
Foi deputada do CDS-PP na XII Legislatura, saída das eleições legislativas de junho de 2011, que deram a vitória ao PSD, que veio a formar governo com o CDS-PP, então liderado por Paulo Portas.
O anúncio da desfiliação foi feito através das redes sociais. "O CDS não é o mesmo partido que sempre foi - está mais perto do PCTP-MRPP - e eu não pertenço ali. Por isso, e ao fim de décadas de militância, desfilio-me hoje com enorme tristeza", escreveu.
Antigo dirigente do partido, militante há 24 anos; partilhou no Facebook a carta de desfiliação.
A decisão que toma não é "circunstancial, embora os mais recentes acontecimentos e o tribalismo vivido no seio do CDS a tenham precipitado", admite.
O antigo dirigente diz sair "na altura em que o partido virou um organismo saprófita e adota uma postura parasitária". E afirma ainda que "o centro-direita está lá fora à espera de uma alternativa" e que sai "para esse desafio".
O ex-ministro da Economia é a maior baixa. Em entrevista na SIC Notícias, no sábado à noite, revelou não estar em condições de apoiar Francisco Rodrigues dos Santos.
"O partido bateu no fundo. E, para mim, digo com a maior das tristezas, isto é o fim da linha. Para mim, a partir de amanhã, deixarei de ser militante do CDS", disse.
“Nos últimos dois anos, temos vindo a assistir a um processo de degradação, de vida democrática na vida do partido. As pessoas não se respeitam. O líder do CDS desqualifica no início de conselhos nacionais, de reuniões magnas, aquilo que é o parlamento do partido, os seus militantes, aqueles que discordam dele", referiu, lembrando que "ontem apelidou aqueles que divergem dele como terroristas".
Foi presidente da Juventude Popular entre 2009 e 2011 e foi deputado à Assembleia da República pelo CDS-PP. Filiou-se há mais de 20 anos, agora sai.
"O CDS ontem acabou, mas nem por isso me custa menos tirar as devidas consequências disso", escreveu, numa publicação nas redes sociais. "O meu percurso no CDS termina hoje. Vemo-nos por aí."
Isto foi bem mais duro do que imaginei. pic.twitter.com/mCZs6E08G7
— Micha - pessoa que aprecia o Rouxinol Milanes. (@seufert) October 30, 2021
Filho de uma das vítimas das FP-25, centrista há largos anos.
“Isto acabou. É fechar a porta e também me vou embora. Esta semana, depois de mais de 10 anos da liderança e uns 15 de filiação, assumo a minha orfandade ao projeto e apresentarei o meu pedido de desfiliação desta organização", escreveu Manuel Castelo-Branco.
A ex-deputada centrista comunicou a decisão de desfiliar-se através de um e-mail enviado à secretária-geral do partido.
"Lamento muito que tenhamos chegado até aqui. Tenho quase 30 anos de militância e nunca tinha visto nada igual. No mesmo espírito destrutivo que vos move, farei chegar a minha desfiliação logo após a realização do congresso (seja ele qual for, onde for e quando for) que vos eleja."
Não se desfilia, mas deixa o Parlamento para onde foi eleito pela primeira vez em 2002.
“Já tinha decidido e anunciado que não integraria as listas nas próximas eleições e que o meu percurso parlamentar estava encerrado. Gostava de sair e ver o CDS crescer, a direita a afirmar-se e de ter orgulho em quem me substituísse. Temo que não seja possível”, escreveu.
“O atual CDS não tem nada a ver com o que me trouxe à política. Falta ética, falta carácter e falta substância”.