25 nov, 2021 - 06:58 • Manuela Pires
Em entrevista à Renascença Rui Rio garante que se perder as eleições diretas no próximo sábado coloca um ponto final parágrafo, e não entra nas listas de deputados. O candidato à liderança do PSD está convencido que está mais próximo do pensamento dos portugueses do que das estruturas do partido. Está disponível para viabilizar um governo do PS porque é do interesse nacional ter um governo estável.
Rio não desiste de uma coligação pré-eleitoral com o CDS e vai levar à comissão política nacional uma proposta para ser votada.
A dois dias das eleições decidiu não fazer campanha pelo país, foi apenas à Madeira, onde esteve dois dias. Os quase três mil militantes da madeira podem ser o trunfo para vencer estas diretas?
A Madeira é importante, mas eu não fui lá porque considero que tem muitos militantes importantes. Eu fui à Madeira porque estava em falta porque não fui lá na campanha das autárquicas e era a minha obrigação ir lá agora. De resto a campanha que eu estou a fazer é virada para os portugueses, porque as eleições importantes não são as do próximo sábado, mas as de 30 de janeiro.
E foi uma boa estratégia?
Para mim foi a mais lógica.
Tem alguns sinais que indiquem que vai ganhar o partido pela terceira vez?
Não sou fanfarrão, não venho para aqui dizer que está ganho. Nós temos três patamares, um são os portugueses, outro os militantes e o terceiro o aparelho do PSD. É notório que eu tenho muito mais apoio nos portugueses e que Paulo Rangel tem mais apoio no aparelho do PSD. No meio ficam os militantes e na prática o que este resultado vai dizer é se a maioria dos militantes está mais ligada aos portugueses ou ao aparelho partidário.
Mas como é que se pode ser líder de um partido quando a estrutura o rejeita?
A estrutura não rejeita, opta por A ou por B. Também é verdade que o aparelho partidário não se revê na política que eu faço, eu estou muito mais próximo do pensamento dos portugueses do que das preocupações da vida interna do partido. Não é por acaso que não há uma sintonia entre os partidos e os portugueses.
Mas está a concorrer para líder do PSD?
Isso é verdade, mas o que é que me interessa ser líder do PSD se eu não tiver a simpatia dos portugueses? A seguir chego a 30 de janeiro e não ganho. Se o PSD não votar no candidato que os portugueses mais querem, não interessa para nada. Eu tenho de conquistar os portugueses e depois os militantes têm de decidir se querem ir com os portugueses ou não.
Apesar de não fazer campanha, tem estado muito presente e feito muitas críticas ao seu adversário, primeiro que não está preparado para ser primeiro-ministro e ainda esta semana disse que votar em Paulo Rangel é desperdiçar a derradeira oportunidade de derrotar António Costa. Acredita que se for líder do PSD, a 30 de janeiro, o partido vai ter um melhor resultado?
Na prática, eu ando na rua, as pessoas falam comigo, recebo mensagens e sinto que estão ao meu lado. Em teoria, ninguém aparece na vida pública com a intenção de ser primeiro ministro em 60 dias, nunca na história pós 25 de abril isso aconteceu. O que eu não perceberei é se o partido e os militantes não virem isso.
Se não votarem em mim, têm essa liberdade, eu é que sinto a obrigação de estar presente e ser consequente com estes 4 anos na liderança do PSD.
Há dois anos teve um mau resultado nas legislativas e nas europeias, mais recentemente perdeu as autárquicas, melhorou os resultados, mas perdeu. Com que estratégia eleitoral se vai apresentar em janeiro? Diz na moção que tem uma estratégia renovada.
Durante estes quatro anos já fui a todas, com as diretas faz mais ou menos uma média de eleição de cinco em cinco meses. Comigo na liderança do PSD, mantivemos o Governo Regional da Madeira, recuperámos o dos Açores, fomos os primeiros a apoiar o presidente da república reeleito. Nas autárquicas ganhámos a câmara de Lisboa, temos 11 capitais de distrito, reduzimos a diferença para o PS em 47 por cento. O que é que querem mais?
Só nos faltam as legislativas. Mas em 2019 era dificílimo o PSD ganhar, era quase impossível. Em 2015 formou-se a geringonça e o PS devolveu tudo e fez um discurso anti austeridade. E não veio a troika, nem o diabo e tudo correu aparentemente normal. Era muito difícil tirar o PS do governo.
E acha que agora chegou esse tempo?
Hoje é muito diferente. Há um desgaste muito maior do partido socialista, os resultados da governação começam a surgir e por isso as condições em que o PSD vai a estas legislativas são muito mais favoráveis. Mas também digo que podia ser mais fácil do que vai ser, porque se não andássemos aqui em lutas internas a probabilidade de êxito era muito maior. Mas ainda assim eu acredito que nós temos hipóteses de ganhar as legislativas de 30 de janeiro.
Se não vencer as legislativas, já disse que está disponível para viabilizar um governo socialista, mas apenas por meia legislatura, mas porquê só dois anos?
O que eu digo é que só há dois partidos que podem ganhar, o PS ou o PSD, e é muito difícil ganhar com maioria absoluta. O meu adversário é que diz que quer ganhar com maioria absoluta e isso para mim é um enorme elogio porque é sinal que deixo o partido muito bem. Sem maiorias absolutas, a governabilidade do país fica em risco relativo e para isso não acontecer tem de haver da parte dos partidos um esforço no sentido de garantir a governabilidade a quem ganhar as eleições. Se eu ganhar as eleições eu gostaria de poder negociar com os outros partidos para ter um governo com alguma estabilidade a bem do país. Se eu gostava que fosse assim para mim então eu também tenho de ser coerente e dizer que estou disponível se não for eu o vencedor. Outra coisa é dizer o PS ganha e eu viabilizo o governo, não é assim, tem de haver negociações, não há almoços grátis.
Mas não é um acordo para dois anos?
Percebo a dificuldade de fazer um acordo para os 4 anos, mas em nome do interesse nacional e da interpretação que faço do sentimento dos portugueses, então começamos por dois anos e depois avalia-se se há mais dois ou não.
Mas faria um acordo escrito?
Se a negociação for feita à direita, CDS ou iniciativa Liberal terá um cariz, se tiver de ser feita à esquerda, com o PS, será diferente. Os portugueses querem andar sempre em eleições de seis em seis meses? Não querem garantir um país governável?
A vontade dos portugueses é terem um país a ser governado. SE eu ganhar as legislativas, os outros partidos devem respeitar essa vitória e negociar comigo e não virem pedir o impossível.
O facto de dizer que está disponível para viabilizar um governo socialista, não está a afastar o eleitorado de direita para outros partidos?
Não. As eleições ganham-se ao centro. Eu para ganhar as eleições, PSD um partido do centro, não tenho que estar preocupado em roubar ao CDS 1 por cento ou à Iniciativa Liberal ou ao Chega. não ganho nada, eu preciso de 10% para ganhar as eleições.
Durante este processo eleitoral interno, teve duas derrotas no conselho nacional. Há um vice-presidente da sua direção, Nuno Morais Sarmento, que não declarou apoio á sua candidatura. Ainda na semana passada levou o tema de um acordo pré-eleitoral com o CDS a uma reunião da direção e a maioria rejeitou essa ideia. Vai insistir nessa ideia?
O que aconteceu na direção foi um pré-debate e no final vamos ter de tomar uma decisão.
Mas já sabe que a maioria não quer uma coligação…
Não sei. O que sei é que naquela reunião todos os que falaram foram maioritariamente a favor do PSD ir sozinho às legislativas, mas aquela reunião era apenas para pensar no assunto. Agora vão para casa porque voltam depois para dar a opinião com sentido de voto e isso ainda falta fazer.
Mas vai insistir na ideia?
Vai haver um momento em que temos de deliberar.
Mas já teve algum encontro com o líder do CDS para falar de um acordo?
Para esse efeito não, mas nós vamos falando.
Outro tema que tem marcado esta campanha é a escolha dos nomes para deputados. Já disse que o vencedor das diretas escolhe os cabeças de lista, mas é a escolha do grupo parlamentar é uma competência da Comissão Política Nacional que está em funções até ao congresso. Salvador Malheiro disse que o processo já arrancou e que vai imperar o bom senso. Se Paulo Rangel vencer as diretas, não há ainda tempo para o líder eleito ter oportunidade de escolher mais nomes?
O que estamos a fazer é cumprir os estatutos e a lei nacional porque as listas têm de entrar no tribunal a 20 de dezembro. Era uma irresponsabilidade da minha parte não fazer nada. é um processo demorado que envolve as concelhias, as distritais, a sede nacional e depois levar tudo ao conselho nacional. Esta comissão política tem a obrigação de fazer as listas, porque se não o fizer o PSD não concorre às eleições.
Se perder as diretas vai manter o seu nome na lista de deputados? Vai ser deputado?
Não. Se eu perder as diretas acaba aqui. Acaba no congresso porque não fujo às responsabilidades. Mas depois é um ponto final parágrafo.
Nas moções dos dois candidatos há um ponto em comum, as críticas à atuação do Governo de Costa. Quanto às propostas para o país, os dois defendem o combate à corrupção e o crescimento da economia como prioridades. Outra das prioridades que aponta é na área da saúde. Na sua opinião o SNS está preparado para esta nova vaga e para continuar a responder às doenças não Covid?
Quero acreditar que agora que estamos na quinta vaga o Ministério da saúde aprendeu com o que foi feito de errado até agora e que vai ser diferente. O Serviço Nacional de Saúde está à beira do caos, mas como digo espero que o Governo esteja a tomar medidas para ultrapassar essa situação.