25 dez, 2021 - 21:00 • Susana Madureira Martins
Pelo segundo ano consecutivo, o primeiro-ministro centra a habitual mensagem de Natal nos alertas de combate à pandemia, avisando que "a guerra ainda não acabou", apesar da "notável operação de vacinação", deixando um agradecimento a "todos os profissionais de saúde", que considera terem sido "mais uma vez inexcedíveis", vincando mesmo o papel "muito especial" dos enfermeiros neste processo.
Numa mensagem gravada na residência oficial, em São Bento, e divulgada este sábado à noite, António Costa encheu-se de cautelas, admitindo que "teria muito mais a dizer" ao país para além dos pouco mais de cinco minutos da gravação, mas reconhece que "neste período pré-eleitoral o primeiro-ministro tem um especial dever de ser contido".
Contenção pré-eleitoral, sim, mas Costa não deixa de referir "a vivência tão intensa destes dois anos", assume-se à frente do "posto de comando" e pede que o país não pode "perder o foco no esforço nacional de recuperação", puxando até dos galões ao referir que esse "esforço" é necessário "apesar do emprego já ter recuperado plenamente e de termos retomado um crescimento robusto".
Não admitindo erros, como fez na mensagem de Natal de 2020, o primeiro-ministro concede que, "seguramente, não conseguimos chegar sempre a tempo, nem sarámos ainda todas as feridas", apelando à "confiança" de cada português na capacidade de "se superar, de encarar o futuro com esperança, continuando a ser extraordinário nos tempos de normalidade e tranquilidade por que todos ansiamos".
"Seguramente, não conseguimos chegar sempre a tempo, nem sarámos ainda todas as feridas"
"Confiança", é de resto uma palavra que o primeiro-ministro usa outras vezes nesta mensagem de Natal. A "confiança" que diz ter "no nosso SNS", referindo ainda esse "gesto da maior importância para reforçar a confiança e a motivação de todo o País" que foi o arranque do processo de vacinação com o "primeiro vacinado, o Professor António Sarmento, médico veterano do Hospital de São João", e que deu, segundo Costa, "a todos o exemplo do que era necessário fazer".
O primeiro-ministro faz as contas e o balanço a esse processo de vacinação, referindo que "quase toda a população maior de 12 anos está vacinada, dois milhões e meio de pessoas já receberam a dose de reforço e iniciámos a vacinação das crianças dos 11 aos 5 anos", mas, lá está "a guerra ainda não acabou".
Fica, por isso, o apelo do primeiro-ministro de que "é fundamental acelerar a vacinação à escala global e prosseguir o reforço vacinal em Portugal", sem, contudo, deixar quaisquer previsões ou números sobre esse "reforço".
"Confiança", sim, mas que ninguém baixe a guarda, alerta Costa. Este é "mais um Natal que temos de viver com todas as cautelas", o que, admite, "nem sempre é fácil", com o primeiro-ministro a deixar o seu próprio exemplo de "há um ano" em que passou a noite da Consoada "em solidão, em isolamento profilático" na residência oficial em São Bento, longe da família.
"É fundamental acelerar a vacinação à escala global e prosseguir o reforço vacinal em Portugal"
Na dramatização, Costa afirma que "difícil, verdadeiramente difícil, é a dor de quem sofre a perda de um ente querido ou as provações de quem está doente, tantas vezes carecendo de internamento hospitalar" e, sendo assim, avisa: "são estas dores e estas provações que nenhum de nós quer sofrer e que todos desejamos que os que nos são mais queridos nunca sofram".
Mais uma vez fica o apelo à responsabilidade de cada um, com a mensagem reiterada de que "cada um de nós só se protege, protegendo os outros", com Costa a "agradecer o extraordinário civismo dos portugueses, na adoção das medidas de segurança ou na adesão em massa à vacinação".
Os últimos parágrafos da mensagem de Natal do primeiro-ministro são dedicados ao reconhecimento do "impacto brutal" da pandemia "no processo formativo" das crianças e "na solidão dos idosos, na prática do desporto amador ou de formação, em todo o setor da cultura, na atividade das empresas, no emprego, no rendimento das famílias".
Costa deixa uma palavra às "escolas, entidades do setor solidário, autarquias locais, o Estado e a União Europeia", que "fizeram o possível – e até o que tantas vezes parecia impossível – para acorrer a todos nas diversas vicissitudes que enfrentaram".
O ponto final da mensagem é a habitual "palavra de saudade para as comunidades portuguesas residentes no estrangeiro" e um "especial reconhecimento para todos os que nesta noite estão a trabalhar, nos hospitais, nos lares, nas forças de segurança, nas forças armadas, nos serviços de transporte e tantas outras atividades de trabalho contínuo".