11 jan, 2022 - 22:02 • Susana Madureira Martins
O líder do PS acusa o Bloco de Esquerda de não oferecer estabilidade. A frase foi dita por António Costa já nos segundos finais do debate desta terça-feira à noite na RTP3, com Catarina Martins.
Questionado sobre a maioria absoluta e sobre as hipóteses de um diálogo com os bloquistas, caso vença as eleições necessitando de entendimentos para governar, Costa foi perentório em dois momentos. Sobre a maioria absoluta, ainda não foi desta que a pediu ao eleitorado: “não sou o professor Cavaco que disse que ia embora, se não tivesse maioria absoluta”.
Sobre o diálogo para um regresso à geringonça, “o Bloco de Esquerda não oferece estabilidade”.
António Costa acusa o Bloco de Esquerda de ser uma coisa na campanha e outra no Parlamento e acusou o partido de Catarina Martins de bloquear a governação.
“Há o BE que aparece na campanha eleitoral, muito mel, e depois há o BE que aparece na Assembleia da República, que é muito fel. Nós, maioria vamos ter. Resta saber se vamos ter maioria absoluta do PS para continuar a avançar ou se vamos ter uma maioria da oposição, cujo único efeito é bloquear”, atirou o líder do PS à adversária.
E acrescentou: “a Catarina Martins só soma o seu voto à direita e à extrema-direita para chumbar um Orçamento do PS, mas não é capaz de juntar o seu voto à direita e à extrema-direita para aprovar um Orçamento alternativo ao PS.
Portanto, aquilo que votam não é para avançar, é para parar”.
Com a palavra ‘obstáculo’ a pairar sobre ambos antigos aliados na geringonça, Catarina Martins sublinhou que o que impediu um entendimento com o PS não foi António Costa, mas sim o seu “desejo de maioria absoluta, mas, neste momento, acho que toda a gente no país sabe que não teremos maioria absoluta”.
Equacionando esse cenário, a coordenadora bloquista não fecha nenhuma porta a entendimentos com Costa, sublinhando que a sua responsabilidade “é criar soluções para o dia seguinte. E o que conta, em Portugal, para criar essas soluções é a saúde e o trabalho. É isso que temos de discutir: um acordo em Portugal sobre a saúde e o trabalho que resolva os problemas mais urgentes que temos”.
Ao longo dos 25 minutos de debate, António Costa foi insistindo que o BE “cansou-se de ser parte de uma solução de Governo e quis voltar a ser um partido de protesto”.
Cabe, agora, aos “500 mil eleitores que em 2019 votaram no BE dizer se esse voto foi bem ou foi mal empregue”.
A discussão centrou-se, depois, no reforço de meios humanos e financeiros na Saúde, na legislação laboral e nas pensões, com António Costa a acusar o BE de comprometer o financiamento da Segurança Social, quando propõe o fim do fator de sustentabilidade.
Catarina Martins socorreu-se de números do Governo para dizer que, “em 2020, só pediram as pensões com o duplo corte um em cada 10 mil pensionistas. Teria custado 16 milhões de euros não ter este corte nas pensões.
Além disso, há uma parte de pensionistas (42 mil, um número reduzido) que tem este corte desde o tempo da troika e nós acabamos com os outros cortes da troika e não acabámos com este”.
Noutra frente do debate, o líder socialista acusou o BE de “bravata ideológica” pela de nacionalizar diversas empresas, como a ANA, os CTT, a REN, a EDP e a Galp.
“A valores de hoje, com recompra das empresas cotadas em bolsa mais a ANA, o que o BE propõe é agravar a dívida pública em 14,5% do PIB e estes recursos de agravamento da dívida para fazer uma bravata ideológica criam um problema muito difícil de gerir entre nós”.
A líder bloquista contrapôs, acusando Costa de criar “um obstáculo onde ele não existe”, porque, segundo diz, “não foram estas questões que impediram um acordo entre nós”
O problema, diz, reside na Agenda do Trabalho Digno, onde “o PS insiste em manter a duplicação do período experimental, em que um trabalhador é despedido sem razão e sem um cêntimo após dois meses, quando o equivalente aqui ao lado em Espanha são dois meses”.
Na reta final do debate, e questionado sobre o que fará se não tiver maioria absoluta como deseja, Costa deu a entender que não sai da liderança do Governo se não alcançar esse objetivo. Mas, se perder as eleições, Costa reafirmou que sai da liderança do PS.