05 jan, 2022 - 20:17 • Tomás Anjinho Chagas
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O debate televisivo desta quarta-feira entre a Iniciativa Liberal e o CDS aqueceu por várias vezes. As privatizações e as diferenças ideológicas dominaram a discussão.
O CDS começou o debate a “colar” a Iniciativa Liberal (IL) ao lado esquerdo da Assembleia da República. “São em tudo iguais à esquerda, menos na economia. Um voto na Iniciativa Liberal não é necessariamente contra a esquerda”, atirou Francisco Rodrigues dos Santos.
O líder centrista prosseguiu: “em grande parte do programa [da IL] votam exatamente igual ao Bloco de Esquerda. Na eutanásia, nas drogas leves, na liberalização da prostituição, votam ao lado do Bloco de Esquerda”.
Francisco Rodrigues dos Santos comparou o líder da IL a "uma Ruth Marlene da política, que ora pisca à esquerda, ora pisca à direita".
O presidente do CDS criticou ainda o programa liberal por não se dedicar a ajudar as classes mais pobres.
Na resposta, João Cotrim de Figueiredo respondeu com a mesma moeda, e comparou o CDS ao Bloco de Esquerda.
“A Iniciativa Liberal não se preocupa com os mais desfavorecidos?! Isso é o que diz o Bloco de Esquerda sobre nós. Se somos atacados pela esquerda e pela direita exatamente da mesma maneira, alguma coisa havemos de estar a fazer bem”, declarou na sua primeira intervenção.
O presidente da IL seguiu depois fazendo a distinção entre a direita tradicional e a direita (termo que evita a todo o custo) liberal. As duas visões chocaram entre um estado assistencialista ou menos interventivo.
Foi só quando o dossier das privatizações subiu para a mesa que o debate aqueceu. A TAP foi um tema que levou os dois líderes partidários a atropelarem-se sucessivamente.
João Cotrim de Figueiredo lembrou aos eleitores que o CDS chumbou propostas para vender empresas do Estado: “quando propomos a privatização da TAP, ou da Caixa Geral de Depósitos, ou a RTP, o CDS vota contra. Eu pergunto-me: que raio de direita é esta?!”.
Em resposta, Francisco Rodrigues dos Santos criticou a génese da Iniciativa Liberal e usou a carta da longevidade: “Nós não somos capitalistas selvagens, nem colocamos a economia à frente das pessoas como o João Cotrim de Figueiredo. Nós defendemos tanto a privatização da TAP, que foi o nosso governo que a privatizou".
Quanto à proposta do PS, de subir o Salário Mínimo Nacional para os 900 euros até 2026, os dois partidos voltaram a divergir.
João Cotrim de Figueiredo recusou esse aumento. "Não creio que seja uma medida razoável em função da atual situação económica portuguesa. Não é uma opinião popular, mas é aquilo em que acreditamos". O presidente da Iniciativa Liberal defende que uma subida deve ser acompanhada pelo aumento da produtividade.
Francisco Rodrigues dos Santos não respondeu diretamente, defendendo que essa decisão deve ser tomada em sede de concertação social. "Entre empregadores e trabalhadores", diz o presidente dos centristas.
"Estariam juntos no mesmo Governo?", perguntou o jornalista da RTP durante o debate. As respostas foram pouco claras.
Francisco Rodrigues dos Santos fez uma alusão ao vídeo de Natal do CDS para fazer exigências à Iniciativa Liberal? "Aqui o meu primo moderninho, João Cotrim de Figueiredo, se deixar de fazer concessões à extrema-esquerda. Em matérias como a eutanásia, no aborto, na prostituição, nas drogas leves, na ideologia de género nas escolas ou nas proibições das touradas, eu estou disponível para me entender com ele".
João Cotrim de Figueiredo respondeu à letra, aludindo também à sátira do CDS: "Os espetadores acabaram de ver porque é que, na Ceia de Natal, o CDS acaba sozinho".
O presidente da Iniciativa Liberal explica depois: "o que o CDS acaba de dizer é: nós fazemos acordos com outros partidos, se eles pensarem o mesmo que nós. Quando se fazem compromissos, é respeitando a identidade dos outros e vocês não fazem isso", o líder dos liberais fez também críticas pessoais ao presidente do CDS: "sendo Francisco Rodrigues dos Santos o mais novo dos líderes partidários, tem a cabeça mais velha de todos eles. A menos moderna e menos aberta".
Apesar da troca de palavras, os dois líderes não afastaram a hipótese de virem a coexistir no mesmo Governo, desde que o Partido Socialista fique de fora de uma “Geringonça” de direita.
O momento de traçar linhas vermelhas foi um dos raros em que houve consenso. Tanto o CDS, como a Iniciativa Liberal, deixaram de fora o cenário de estarem no mesmo Governo que o Chega.
João Cotrim de Figueiredo afirma mesmo que nesse caso, se os votos dos liberais forem fundamentais para viabilizar o Governo, "o ónus está do lado do Chega".
Francisco Rodrigues dos Santos coloca um travão a essa hipótese e também passa a responsabilidade ao partido de André Ventura. "Cabe ao Chega no Parlamento se viabiliza, ou não, uma solução de centro direita".