17 jan, 2022 - 13:53 • Tomás Anjinho Chagas
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O dia começou cedo, e o frio do interior fez-se sentir no Mercado semanal do Fundão. Catarina Martins entrou nas ruelas forradas de bancas com a caravana do Bloco de Esquerda. Entre “olás” e “bons dias”, um eleitor deixou um pedido à coordenadora do Bloco de Esquerda: “Vocês têm de se unir ao António Costa. Era bom para Portugal e era bom para toda a gente.”
Catarina Martins não respondeu diretamente, mas com entusiasmo, disse: “Puxar pelo país”. O cidadão fundanense replicou: “Eu voto no Bloco de Esquerda, mas vocês têm de combinar as coisas como deve ser e acabou.”
Sem sabê-lo, esta pessoa acabou por marcar a ação desta manhã do Bloco de Esquerda. Depois de passar por bancas de fruta, legumes, roupa, utensílios de cozinha e velharias, Catarina Martins foi questionada pelos jornalistas, sobre se estaria disposta a voltar a entender-se com o PS, numa altura em que os socialistas não demonstram interesse.
“Eu tenho boa memória. Lembro-me de, em 2015, propor a António Costa que abandonasse o projeto de congelar pensões e que abandonasse o projeto de despedimentos conciliatórios, que era uma forma de facilitar despedimentos, para que no dia a seguir às eleições houvesse uma solução de Governo para o país à esquerda”, respondeu a coordenadora do partido.
Catarina Martins voltou a puxar a fita para a campanha de 2015. “Passou toda a campanha a recusar e dizendo que ele seria, por si só, o diálogo à esquerda. Recusando qualquer contrato de governação.” E foi esse o argumento utilizado pela líder do Bloco para manter a tranquilidade em relação ao dia seguinte às eleições, lembrando que precisamente nesse ano, foi erguida a geringonça.
Os bloquistas entendem que, na altura, tudo mudou com a expressão do partido nas urnas. “A força dos votos, a força de quem não se resignou, de quem não quis cortes nas pensões, de quem quis salários dignos, de quem quis que o país respondesse, essa força dos votos fez do Bloco de Esquerda a terceira força política em 2015, contra todas as sondagens e conseguimos soluções”, recorda Catarina Martins.
O exercício de memória serviu para sustentar a tese de que o PS vai acabar por ceder e negociar com a esquerda, apesar de pedir a maioria absoluta.
Na antecipação ao debate desta segunda-feira à noite, Catarina Martins pede clareza a António Costa nas políticas que quer tomar na próxima legislatura, caso vença. “Espero que hoje fiquem claros projetos para o país.” Depois, virou o discurso para a crítica: “De resto, espero que o PS continue a fazer uma campanha a apelar à maioria absoluta.”
Mas sem se mostrar preocupada, Catarina Martins saiu do Fundão convicta que depois das eleições, António Costa vai ser obrigado a sentar-se à mesa com o Bloco de Esquerda.