17 jan, 2022 - 23:17 • André Rodrigues , Hugo Monteiro , Filipa Ribeiro
Ainda não foi tema de debate na campanha eleitoral, mas o combate à pobreza tem de ser, para o investigador Carlos Farinha Rodrigues, prioridade para o próximo Governo.
“Tenho alguma pena que o debate que já existiu até agora em termos de campanha eleitoral tenha dado muito pouca atenção às questões da pobreza e da exclusão social”, diz o especialista em pobreza e desigualdade, à Renascença.
“Tivemos em dezembro esta informação sobre o forte agravamento dos principais indicadores de pobreza e isso deveria constituir pelo menos um incentivo para que estas questões fossem discutidas. Aqui o importante é a motivação política de fazer do combate à pobreza um desígnio nacional. Isto é claramente uma bandeira que possa agregar e a intervenção de vários setores da sociedade para terminar com este estigma social que é a pobreza”, diz o economista.
Numa entrevista à Renascença, o professor do ISEG, especialista em pobreza e desigualdade, lembra que mais de duzentas mil pessoas caíram na pobreza em 2020. Há agora cerca de dois milhões de pobres em Portugal, um quarto dos quais são trabalhadores.
Farinha Rodrigues considera que este não é apenas um problema de injustiça social mas também um travão ao crescimento económico e um fator que pode pôr em causa a coesão social e a democracia.
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Combate à pobreza tem que ser uma grande priorida(...)
Questionado pela Renascença, o PSD, pela voz do seu líder, Rui Rio, diz ser necessário alterar o modelo económico para responder às dificuldades de quem trabalha mas não consegue escapar à situação de pobreza.
“Temos a pobreza-pobreza e temos a pobreza que é ainda mais incompreensível, daquelas pessoas que trabalham, têm um salário e apesar disso são pobres. É por onde temos de começar, pelo aumento dos salários. Para isso temos de mudar o modelo económico”, diz Rio.
O líder do PSD considera que a continuação do modelo de desenvolvimento do PS irá obter “resultados idênticos àqueles que o PS tem obtido e não conseguiremos tirar da pobreza aqueles que, trabalhando, estão na pobreza e aqueles que, não tendo condições para ter os seus próprios rendimentos, possam não ter os apoios sociais suficientes porque o país não tem a riqueza suficiente”.
“Se não produzir mais, não consigo ter para distribuir. Faço-o de uma forma fictícia, durante algum tempo, mas à custa da dívida pública e portanto vem o ricochete depois contra o país e principalmente contra os mais desfavorecidos”, afirma o líder do PSD.
Mais à esquerda, o PCP, pela voz de Diana Ferreira, tem como receita a subida dos salários, o reforço da escola pública e a baixa de impostos em setores específicos como o da energia.
“Independentemente daqueles que sejam os resultados eleitorais no próximo dia 30 da parte da CDU, nós continuaremos ligando a erradicação da pobreza e o combate à pobreza a medidas absolutamente estruturais”, afirma a dirigente comunista.
“O combate à pobreza exige a valorização geral dos salários, exige o cumprimento de direitos sociais desde logo o acesso a uma escola pública gratuita e de qualidade, também o acesso de forma gratuita ao próprio Serviço Nacional de Saúde, exige medidas claras de combate à especulação imobiliária, em que os preços das rendas não sejam absolutamente incomportáveis, como os que se verificam também neste momento”, diz a deputada comunista.
“Exige também, por exemplo, coragem política para se colocar preços máximos nos combustíveis, naturalmente descer o IVA da eletricidade para os 6% e também criar preços máximos para o fornecimento do gás”, remata.
Já o CDS defende vários estímulos diretos aos mais desfavorecidos.
“É preciso dar estímulos sobretudo aos mais carenciados para poder recuperar económica e socialmente”, diz Francisco Rodrigues dos Santos.
“Vou-lhe dar vários exemplos: o Vale farmácia, que paga todas as despesas com medicamentos na farmácia aos idosos 65 anos de baixos rendimentos. Um complemento da pensão de inverno para as famílias mais carenciadas poderem aquecer as suas casas. Defendemos soluções como a Via Verde saúde, para que as mulheres mais pobres possam ter a tempo e horas um exame, uma consulta e uma cirurgia num Hospital Particular ou social pago pelo Estado quando os tempos de espera são ultrapassados dentro do SNS.”
Além destes três, todos os restantes partidos têm também, nos seus programas, planos para combater a pobreza. Não foi possível falar com todos eles, até à hora de publicação deste artigo.