19 jan, 2022 - 22:15 • Fábio Monteiro , André Rodrigues
Nem André Ventura nem Rui Rio vão participar no debate eleitoral das rádios, que amanhã, quinta-feira, será emitido em conjunto pela Renascença, Antena 1 e TSF. Ou seja, apenas Francisco Rodrigues dos Santos e João Cotrim Figueiredo estarão presentes para representar os partidos de Direita com assento parlamentar.
As razões pelas quais o líder do Chega escolheu não estar presente não são conhecidas. Já Rui Rio, esta quarta-feira, durante uma arruada por Viseu, fez saber que optou por prosseguir com a campanha eleitoral, em detrimento de se bater com os opositores. "Se eu fosse amanhã a Lisboa fazer o meu décimo debate, não iria nem a Bragança nem a Vila Real", justificou.
De acordo com o líder do PSD, “é mais importante” estar naqueles distritos do que “fazer mais um debate”. Rio deixou ainda no ar a possibilidade de poder participar no debate à distância ou "ser outro dirigente do PSD" a representar o partido.
"Não aceitando nem uma possibilidade nem outra, sinceramente, entre optar pelo décimo debate ou optar por estar em Bragança e Vila Real e ir a todos os distritos de Portugal, opto por isto e, agora, as pessoas avaliam e dizem bem ou mal daquilo que é a minha decisão", afirmou.
Na preparação para o debate de quinta-feira, as três rádios convidaram todos os partidos que conseguiram representação parlamentar nas últimas eleições.
O convite aos candidatos, com indicação de que o debate seria em Lisboa, foi feito no dia 10 de dezembro, há quase mês e meio.
Renascença, TSF e Antena 1 sublinharam a importância deste debate, dada a relevância da audiência das três emissoras e o facto da campanha ainda estar condicionada pela pandemia.
Os canais televisivos de informação CNN Portugal, RTP 3 e SIC Notícias, reconhecendo a relevância do debate, propuseram-se transmitir o mesmo em simultâneo.
As três rádios não aceitaram propostas para que algum ou alguns candidatos pudessem participar remotamente por entenderem que isso colocaria em causa a dinâmica do debate e não garantia a necessária qualidade técnica.
Se é normal haver encontros entre as caravanas dos partidos numa campanha eleitoral, o quase encontro desta quarta-feira à tarde em Viseu teve a particularidade de ter reunido, à mesma hora, na mesma cidade, a escassos quarteirões um do outro, os dois únicos candidatos ausentes no debate das rádios.
A arruada do Chega, liderada por André Ventura, quase coincidiu com a hora da do PSD, mas o mais perto que estiveram foi a cerca de 100 metros e sem se entreolharem. Mas a ouvirem-se à distância.
Pouco passava das 17h00 quando Rui Rio tomava um café numa das transversais ao Rossio e num dos cantos da praça o altifalante de uma das viaturas da caravana do Chega, já em fim de arruada, fazia apelos ao "voto no primeiro". Leia-se, o primeiro partido no boletim de voto.
Em pouco tempo, o altifalante silenciou-se e Rui Rio lá saiu para o último ponto do dia de campanha por Viseu.
Mas o encontro de Rio com Ventura - que podia ter acontecido, mas não aconteceu - foi um dos temas com que o líder social-democrata foi confrontado logo à chegada a Viseu.
"Não sou que estou na organização das coisas", respondeu bem disposto o líder do PSD, questionado sobre como perspetivava o possível encontro.
Para, logo a seguir, ser confrontado com as afirmações de André Ventura que sugeriu desempenhar o cargo de vice-primeiro-ministro, caso o PSD vença sem maioria e o Chega alcance uma expressão eleitoral que permita a viabilização de uma maioria de direita.
"É evidente que é uma piada", respondeu, para refutar, uma vez mais, a exigência de Ventura integrar o Governo para apoiar um governo liderado pelo PSD.
Recordando aquilo que afirmou, aquando da publicação no Twitter sobre o voto antecipado de António Costa, sugerindo que o primeiro-ministro votava no dia 23 no Porto para não ter de votar em si próprio, Rui Rio disse ter sido "o primeiro a pedir para que nós fizéssemos uma campanha bem disposta e com o humor. Portanto, acho que ele [André Ventura] respondeu bem. A resposta está com humor e acho que isto tem de ter algum humor".
O Cavaquistão ainda é um território favorável ao PSD, mas já não é o que era.
Se, durante a manhã, na Guarda, o contacto de rua foi menos participado, em Viseu, a perda de um deputado naquele círculo eleitoral de 2015 para 2019, penalizou o PSD que, apesar de ter ganho no distrito, empatou a quatro deputados com o PS.
A tarde teve mais gente do que a manhã, com mais figuras destacadas ao lado de Rui Rio - como Fernando Ruas, David Justino ou Joaquim Sarmento - e militantes, sobretudo os mais velhos, para quem a pertença ao PSD tem um enorme valor.
Já a fechar o dia, na tenda onde se fez mais uma conversa temática, desta vez sobre Educação e Demografia, foi o militante 3232 quem mais animou os presentes.
"O meu cartão de militante é assinado por si na refiliação. Já lá vão muitos anos e isso tem muito valor para mim", afirmou num tom enérgico, alto e bom som, arrancando sorrisos e comentários na plateia.
"Está alguém mal disposto? Bem, eu tenho perguntas e vou fazê-las", prosseguiu, para perguntar a Rui Rio o quê que o PSD tem para dar ao país e a Viseu, em particular, se ganhar as eleições.
Falou do IP3 para Coimbra, que classificou como "uma santa vergonha", reclamou uma universidade pública para Viseu e perguntou para quando a reposição da linha ferroviária, desativada desde 1990.
"É vergonhoso o que se passa em relação a Viseu", sublinhou num crescente tom inflamado, culpando a governação socialista pelo esquecimento a que a região tem sido sujeita.
E deixou um aviso ao principal adversário do PSD: "estou-lhe com uma gana que se o tivesse aqui à frente, dava-lhe uma bengalada. Não podemos continuar nesta miséria socialista", finalizou por entre aplausos e gargalhadas.