27 jan, 2022 - 23:51 • João Malheiro
Em véspera do fim de campanha para as Legislativas, a possibilidade de um Bloco Central voltou a surgir, mas a vontade de PS e PSD pode esbarrar num Presidente da República que nunca defendeu esta solução.
O presidente do PSD, Rui Rio, admite um “acordo de cavalheiros” com o PS para a viabilização do próximo Governo, como sugere o ministro Augusto Santos Silva, mas tem de ser “recíproco”. O líder socialista, António Costa, não “especula sobre o futuro”, mas vai conversar com todos, menos com a extrema-direita.
Marcelo Rebelo de Sousa, até ver, nunca demonstrou vontade que assim seja. Pelo contrário, o atual chefe de Estado português condenou a aliança forjada entre os dois partidos em 1983.
Na altura, a faceta de comentador político, que tinha feito campanha pelos sociais-democratas, considerava ao jornal "Tempo" que o eleitorado tinha "convicção" que iam votar entre Mário Soares ou Carlos Mota Pinto para ser primeiro-ministro e que, ao escolher um, "não se estava, obviamente a escolher, e muito bem, a composição de um Governo com a participação de outro".
Tratou-se de uma "construção" da direação do PS que "lesa gravemente" o PSD e apresentava "incongruências" e "debilidades". No entanto, os comentários mais duros de Marcelo Rebelo de Sousa chegam no fim do seu comentário, quando classifica o Bloco Central como uma "ilusão", um "mito balofo" e um "artificialismo sem conteúdo".
Legislativas 2022
José Adelino Maltez acredita que os dois partidos (...)
Esta era a visão de Marcelo comentador, mas qual será a de Marcelo Presidente? Em 202, era menos incisiva, mas semelhante.
Aquando das negociações do Orçamento do Estado para 2021, apresentado pelo PS de António Costa, o chefe de Estado manifestava o desejo que fosse aprovado à esquerda.
"Aquilo que é desejável é que haja orçamento, é mesmo muito importante, e penso que o que é natural é que seja viabilizado à esquerda e não por outra solução", disse, aos jornalistas.
Mais, Marcelo Rebelo de Sousa, em 2020, recordou a sua posição, em 1983: "Como sabem a minha posição em matéria de bloco central é de considerar que o bloco central não é uma solução duradoura, nem é uma boa solução para o equilíbrio do sistema político português", rematou.
Desde então, o Presidente da República nunca voltou a abordar o tema e muito menos com esta clareza.
Já em novembro de 2021, com uma Assembleia da República com dissolução anunciada e eleições marcadas para 30 de janeiro de 2022, Marcelo Rebelo de Sousa não se quis alongar em cenários pós-eleitorais, incluindo o de Bloco Central.
"Ninguém pode antecipar aquilo que será a vontade dos portugueses. A escolha é dos portugueses", disse.
Este domingo, será conhecida a decisão dos portugueses, mas o que o Presidente da República poderá recomendar como a melhor solução para a governabilidade só se saberá nos dias seguintes.
Hora da Verdade
Em declarações no programa “Hora da verdade”, Antó(...)