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Legislativas 2022

BE intensifica críticas à direita e pisca o olho aos indecisos

28 jan, 2022 - 11:30 • Tomás Anjinho Chagas

Porta aberta para construir pontes com o PS. Consistência. PSD, Chega e IL como alvos. E tentativa de falar para os indecisos marcam a reta final da campanha.

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Os dias de campanha passaram, a caravana percorreu mais de quatro mil quilómetros, mas a mensagem do Bloco de Esquerda mudou pouco. De Miranda do Douro até Faro, os discursos dos candidatos seguiram sempre a mesma linha e os pontos nevrálgicos foram comuns: salário, saúde, pensão e educação. Os objetivos também: manter-se como terceira força política, derrotar a extrema-direita e obrigar o PS a virar à esquerda, em vez de virar ao “centrão”.

O Bloco de Esquerda apresentou-se às eleições com disponibilidade para reeditar a geringonça e influenciar a governação do PS. Esse foi, aliás, um dos argumentos apresentados para apelar ao voto: obrigar os socialistas a negociar à esquerda.

“Que grande volta deu o PS nesta campanha!”, exclamou Catarina Martins no discurso que encerrou o comício de quinta-feira à noite, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa. A coordenadora do Bloco de Esquerda diz que se orgulha de “ter enterrado o delírio da maioria absoluta de António Costa”.

Neste discurso, Catarina Martins falou pela primeira vez de sondagens para alertar para a proximidade do Chega. “Todas as sondagens colocam o Bloco praticamente empatado com a extrema-direita” e por isso pede: “Que ninguém fique em casa. Vão votar. Vão votar. Vamos derrotar André Ventura”.

Ao longo da última semana de campanha, durante as ações e sobretudo nos comícios, Catarina Martins tem optado por apelar ao voto dos indecisos, que aparentam ter muito peso, segundo as sondagens, e que podem mudar os resultados. Defende que o Bloco é o partido que “garante um contrato pela saúde, pela pensão, pelos salários”, referindo-se a um acordo escrito com o PS, a quatro anos, do qual a coordenadora do partido já disse não abdicar.

Mas não é só pela positiva que os bloquistas passam a mensagem. Nos últimos dias de campanha, têm vindo a intensificar-se as críticas à direita. PSD, Iniciativa Liberal e Chega são os alvos favoritos. O comício da noite de ontem é exemplo disso. “Os grupos da saúde privada e as seguradoras estão à espreita, e Rui Rio é o seu homem. Ainda bem que Rui Rio se mostrou. Sabemos o que não queremos”, defende Catarina Martins, que aproveita para colar o PSD aos tempos de austeridade.

Antes da coordenadora do Bloco de Esquerda discursar, Mariana Mortágua, cabeça de lista por Lisboa, encheu o auditório com farpas aos programas do Chega e da Iniciativa Liberal, partidos da direita que ameaçam o Bloco nas sondagens.

Numa sátira, Mortágua preencheu o discurso de expressões inglesas para criticar as propostas liberais. “Quer transferir know how e criar mecanismos de soft law”. A deputada bloquista acusa a IL de ter uma retórica onde “somos todos iguais, todos egoístas. Todos Elon Musks em potência”, e termina dizendo que o destino da vida das pessoas depende de uma série de fatores como a educação, família, orientação sexual e cor da pele. “Não somos todos iguais nesta sociedade”, remata Mariana Mortágua, com palavras que arrancam aplausos e gargalhadas vindas da plateia.

O Bloco de Esquerda tem mesmo colado a Iniciativa Liberal ao Chega quanto às propostas económicas que tem para o país, insistindo que a direita quer privatizar a saúde e a Segurança Social.

Numa campanha onde Catarina Martins tem mantido a sua estratégia, independentemente do que façam os outros partidos, a caravana do Bloco de Esquerda tem apostado no contacto com a população. A passagem por feiras e as arruadas preencheram os dias de campanha desta última semana, e o Bloco de Esquerda ostenta isso mesmo. “Ouvi, ouvi, ouvi. A todos e todas respondi, respondi, respondi, respondi”. E prossegue: “porque gosto mais de falar olhos nos olhos do que esconder-me nos ombros de seja quem for”, atira Catarina Martins, numa crítica às campanhas dos partidos que preferiram fazer ações onde os eleitores têm menos possibilidades de falar com os líderes partidários.

Arruada em Lisboa

A descida da Rua Morais Soares, em Lisboa, encerrou as campanhas de rua do Bloco de Esquerda na capital do país. Dezenas de pessoas empunharam bandeiras e, para poderem passar nos estreitos passeios, entoaram: “Deixem passar, deixem passar. Que eu sou do Bloco e o mundo eu vou mudar”.

Sem momentos de grande exuberância, Catarina Martins marca o passo no pelotão da frente. Ao lado tem Mariana Mortágua e Beatriz Gomes Dias, ambas candidatas a deputadas pelo círculo eleitoral de Lisboa. Passam pelas pessoas, cumprimentam-nas e dão-lhes jornais do partido. Mais atrás, Iara Sobral, de 17 anos, revela à Renascença que não teme os resultados do próximo domingo, apesar das sondagens. A militante desvaloriza o chumbo do Orçamento do Estado. “Foi mais do que justificado. Tivemos coragem para proteger os portugueses e as portuguesas. Acho que não vai ser penalizado.”

A mesma opinião tem Jefferson Oliveira, militante de 30 anos, que faz um balanço positivo da campanha do partido à Renascença. “Temos sempre de esperar por dia 30. O que nós fazemos é mostrar as nossas ideias”, numa resposta que faz lembrar o discurso de Catarina Martins ao longo das últimas duas semanas, onde a líder do partido se foi desviando das tricas partidárias. “Quem decide são as pessoas”, repetiu várias vezes Catarina Martins.
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