28 jan, 2022 - 11:00 • Cristina Nascimento
A campanha para as legislativas de 2022 fica para a história da CDU. Foi uma das mais atribuladas, possivelmente a mais atribulada. Primeiro o secretário-geral tem de ser operado de urgência e fica fora da estrada quase toda a campanha. O partido realinha-se e aponta uma dupla de “Joões” para assumirem a agenda. Mas nova surpresa: João Ferreira testa positivo à Covid. João Oliveira passa a ser, por uns dias, o único titular da liderança.
Na luta para, pelo menos, manter os atuais 12 deputados, os resultados eleitorais dirão de sua justiça no domingo, mas pelo que se foi sentindo no terreno, as trocas forçadas não terão afetado a coligação. Arriscaríamos dizer, até terão dado uma ajuda.
O eleitorado do PCP, ainda que muito ligado ao secretário-geral Jerónimo de Sousa (sempre acolhido com muito respeito e muito acarinhado), foi experimentando novos rostos e até reconhecendo que já seria tempo de mudança. Uns gostarão mais de Oliveira, outros de Ferreira, outros de algum outro nome que desta vez não avançou com tanta visibilidade. Mas não se sentem órfãos de líder.
E assim cumpriram-se cerca de quatro mil quilómetros, por grande parte do país, fazendo passar a mensagem que “a força da CDU não se faz de um homem só, nem de dois ou três”.
E no que toca aos argumentos políticos? A CDU manteve-se fiel a si mesma. Um combate cerrado à política de direita e, à esquerda, o principal alvo é o Partido Socialista. A argumentação dos comunistas é simples: se não forem eles a vigiar o PS, os socialistas resvalam para a direita e por isso, concluem, o melhor voto contra a direita é na CDU.
E esta argumentação é a mesma, esteja quem estiver à frente do microfone, seja Jerónimo, um dos Joões ou qualquer candidato a deputado.
A CDU vem de um ciclo de resultados eleitorais sempre a descer. Em 2019, conseguiram eleger uma dúzia de deputados e muitos especialistas duvidam que essa dúzia consiga ser reeleita.
Há quem aposte que António Filipe, habitualmente eleito pelo distrito de Santarém, não vai voltar ao Parlamento. Há quem questione se João Oliveira não será penalizado por ter estado mais por fora do círculo de Évora, pelo qual já foi eleito cinco vezes. Há opiniões (e sondagens) para todos os gostos.
O que é certo é que a agenda central da CDU fez passar a caravana pelos lugares habituais, mas não foi a mesma coisa de outras campanhas. Segundo a organização, os almoços e os jantares desapareceram por causa da pandemia e, seja por causa da Covid, seja por causa das mudanças de rostos, faltaram os contactos diretos com as pessoas.
Houve desfiles e comícios, houve visitas a empresas, mas não houve a dinâmica de ter Jerónimo (ou quem o substituía) na interpelação direta a quem passa na rua ou a quem assoma à porta da loja para ver o que se passa.