31 jan, 2022 - 01:07
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O comentador Nuno Garoupa destaca, no rescaldo das Legislativas, o facto de as eleições de domingo terem resultado "numa recomposição do sistema partidário como há muitas décadas não acontecia".
"É uma grande vitória de António Costa, muito mais significativa do que a de Sócrates", apontou.
Por outro lado, Garoupa destaca que "há também uma alteração substancial a Direita, com uma enorme derrota do PSD, que deverá levar à demissão de Rui Rio, que te, este noite, uma intervenção ridícula".
Na mesma linha, Nuno Botelho aponta Costa como "grande vencedor" e Rui Rio como "grande derrotado", ao mesmo tempo que nota a existência de mais perdedores: "O Bloco, a CDU, o PAN e o CDS."
"António Costa esmagou Bloco, PCP e PAN, enquanto Rio foi esmagado pela IL e pelo Chega", acrescenta o presidente da Associação Comercial do Porto.
Para Nuno Botelho, resulta claro que Rio "cometeu um erro de estratégia, colando-se demasiado ao centro".
Outro dos comentadores do painel final da emissão eleitoral da Renascença, José Alberto Lemos, destaca a dimensão da vitória do PS e o facto de António Costa "ter a possibilidade de igualar Cavaco Silva, estando 10 anos à frente do governo".
José Alberto Lemos destaca também o resultado do CDS e lembra que vários dirigentes "já admitem a extinção" do partido. "Não sei se acaba ou não, mas o CDS passa a ser irrelevância política".
O painel abordou também a questão de como irá António Costa abordar a governação nesta sua "fase 3" como primeiro-ministro, com Nuno Garoupa a antever que Costa "não irá mudar o seu programa pelo facto de ter maioria absoluta".
"Não antecipo alterações drásticas, tal como aconteceu como Cavaco Silva, quando passou de um governo de maioria relativa para outro de maioria absoluta. Também não mudou o seu programa e os seus planos", reforça.
Sobre o relacionamento com o Presidente da República, Nuno Garoupa acredita que continuará a haver "alguma proximidade".
O comentador destaca o facto de Marcelo "poderá ser o único Presidente da República a cumprir dois mandatos sempre com o primeiro-ministro".
José Alberto Lemos diz que com este resultado "Marcelo deixa de ter o tal berbicacho, mas terá também menos margem de manobra"
O jornalista e comentador antevê que o Presidente "não terá necessidade de intervir tanto", até porque o Costa pode, agora, ter uma governação "mais em sintonia com os desígnios europeus e também, até, com os interesse empresariais sem ater extrema esquerda a moer-lhe a cabeça".
Lemos deixa um alerta para o facto de que "os últimos seis anos deixaram algumas máculas na ação do PS" que não deixam de abrir receios de que uma maioria absoluta "possa acentuar vícios".
Para Nuno Botelho, António Costa tem, com a composição parlamentar que sai destas eleições, "uma oportunidade para fazer reformas que nestes seis anos não pôde".
Sobre o PSD, Nuno Garoupa diz que o partido "fica com um problema pelo facto de pensar ganhar e enfrentar, afinal, uma maioria absoluta".
Nuno Botelho mostra-se convicto de que "Rui Rio vai sair, vai preparar a sua saída, ainda que não forçosamente hoje, amanhã ou para a semana".
O presidente da Associação Comercial do Porto antevê "uma travessia no deserto" para os social-democratas. "Não auguro nada de bom para o PSD e isso também explica o discurso de André Ventura, apresentando-se como líder da Oposição".
José Alberto Lemos tem "sérias dúvidas de que alguém se abalance com pressa ao PSD, face à perspetiva de quatro anos de oposição, o que é muito sombrio"
Lemos aponta ainda a Rio uma "intervenção desastrosa na noite eleitoral" e admite que o líder possa ainda ficar por "mais dois anos", face ao calendário.
" A fragilidade do PSD vai fazer com que o Chega assuma um papel preponderante na oposição ao PS, com muito barulho, mas isso também poderá mostrar muitas fragilidades e facetas caricatas do partido."
Nuno Garoupa nota que Iniciativa Liberal e Chega "saem consolidados desta eleição", mas "será preciso ver como vão actuar. Um dado é certo: "Não são epifenómenos."
Outro aspeto em análise foi o do falhanço das sondagens, com José Alberto Lemos a sublinhar que "todas falharam e falharam redondamente".
"As sondagens estão a ser feitas e utilizadas como influenciador e não como retrato de um momento", aponta o jornalista.
Nuno Botelho entende que "tem de se começar a olhar de outra forma para o modo como se fazem sondagens, sob pena de se deixar de lhes dar credibilidade".
"Andamos a analisar dados com aquilo que nada tinha a ver com a realidade", lamenta Botelho.
Nuno Garoupa entende que há problemas técnicos permanentes, nomeadamente "erros de amostragem".
"Num sistema como o nosso, que nem sequer é proporcional, não podem ser usados modelos de sondagens de Inglaterra ou dos Estados Unidos", sentencia.