31 jan, 2022 - 03:27 • Filipa Ribeiro
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Era o fim que se temia. Afinal, as sondagens estavam certas quanto ao futuro do CDS que, na última noite, perdeu a força e a voz parlamentar. O CDS-PP ficou a 2.440 votos de conseguir eleger pelo menos um deputado por Lisboa, lugar que seria de Francisco Rodrigues dos Santos.
A equipa e os militantes do CDS passaram a tarde e a noite fechados no segundo piso da sede do partido no largo Adelino Amaro da Costa, mas conhecido como largo do Caldas.
Já a festa era feita nas outras sedes e António Costa tinha discursado, quando Francisco Rodrigues dos Santos desceu as escadas da sede para o primeiro piso, sem expressão facial. Perante uma sala composta na sua maioria por membros da Juventude Popular, o presidente do CDS começou por agradecer o apoio a todos e por destacar o papel de Francisco Camacho - número 4 em Lisboa e presidente da JP. “Tenho muita esperança na juventude liderada pelo Francisco”, disse o presidente do CDS.
Depois dos agradecimentos Francisco Rodrigues dos Santos assumiu de imediato as responsabilidades: “Como aprendi no Colégio Militar devemos ser responsáveis e assumir os nossos atos e como líder do partido assumo os resultados. O meu partido será sempre o CDS , ao longo da liderança, muitas vezes sozinho e contra a todos procurei afirmar a voz de uma direita social-cristã, mas estes resultados não deixam margens para dúvidas de que deixei de reunir condições para liderar o CDS-PP e por essa circunstancia apresentei a minha demissão ao presidente do conselho nacional do partido”. O presidente do CDS apresentou a demissão e reforçou: “O CDS não morreu”.
A reflexão interna no partido já começou. Depois de um congresso adiado, o CDS parte agora para uma discussão interna mais fragilizado depois dos resultados das eleições. “No congresso o CDS vai ter de fazer a sua reflexão”, afirmou Francisco Rodrigues dos Santos.
O líder dos centristas não deixou claro se vai ou não recandidatar-se à liderança do partido: “Apresentei a minha demissão, a única pessoa que responsabilizo por estes resultados sou eu. O futuro a Deus pertence, mas deixo a garantia que continuarei no CDS”, afirmou Francisco Rodrigues dos Santos.
No discurso em tom embargado, o presidente do CDS realçou as dificuldade porque passou nos últimos anos, principalmente no que respeita à falta de união interna no partido. “Nunca tive tréguas dos meus opositores”, deixando a garantia: “Não farei aos outros o que me fizeram a mim”.
Apesar de já não ter grupo parlamentar o CDS vai decidir o futuro do partido no próximo congresso, mas há dirigentes que abrem a porta à extinção. Durante a noite eleitoral, nas redes sociais houve quem acabasse com o silencio do partido na sede. No Facebook, o ex-deputado e membro do conselho de jurisdição, Diogo Feio, escreveu sobre o resultado que colocou o partido “no patamar da total irrelevância, num nível de partidos sem verdadeira representação”.
Diogo Feio considerou mesmo que “é altura de reflexão para o congresso”, o dirigente dos centristas chega a colocar a extinção do partido como uma hipótese ao colocar a questão: “Qual o caminho possível, se é que há?”.
Morte do CDS teve direito a coroa de flores com nota de pesar
Ainda a noite ia a meio e o enterro do CDS já decorria. A esperança do partido continuava em eleger pelo menos um deputado por Lisboa, mas a diferença de votos para outros partidos como o PAN e o Livre chamou muitos dos militantes a terra e foi isso que levou à entrega de uma coroa de flores.
Um homem, que se identificou como militante do CDS, carregou uma coroa de flores até à porta da sede no largo do Caldas. A nota de pesar era dirigida ao “excelso presidente”, a situação gerou um murmurinho dentro da sede do CDS que de imediato terminou com a retirada da coroa de flores da entrada.