31 jan, 2022 - 05:13 • Beatriz Lopes
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Ainda não eram 21h00 e aquela que viria a ser a maior derrota da CDU numas legislativas já se refletia na cara de desânimo dos mais de 50 apoiantes que se instalaram no SANA Metropolitan Hotel, local escolhido para acompanhamento da noite eleitoral da CDU, frente à sede do PCP, em Lisboa.
Os resultados pouco animadores obrigaram Jerónimo de Sousa a intervir mais cedo, pouco depois das 22h00, com os militantes a aplaudirem de pé a entrada do líder comunista e a trocarem os telemóveis - que não largaram por um único minuto- pelas bandeiras da CDU. Sem rodeios e ao contrário do que é hábito, desta vez, Jerónimo de Sousa não rejeitou falar num desaire da CDU. O secretário-geral do PCP assumiu “uma quebra eleitoral com significativas perdas de deputados”. “Não estamos propriamente felizes”, admitiu.
Foi o pior resultado de sempre para a CDU, que conseguiu uma votação de 4,36% e eleger apenas seis deputados, metade dos de 2019. Pela primeira vez na sua história, a CDU fica sem um deputado eleito pelo distrito de Évora: João Oliveira, líder parlamentar desde 2013 e deputado desde 2005, até pode ter carregado a campanha da CDU às costas, mas nem por isso se livrou do peso da derrota. Mas a CDU perde ainda outro peso pesado: António Filipe que, depois de Jerónimo, era o deputado mais antigo da bancada, falhou a eleição pelo distrito de Santarém. Já os Verdes perderam tudo: saem do parlamento com a queda dos dois únicos parlamentares, Mariana Silva e José Luís Ferreira, candidatos pelos círculos de Lisboa e Setúbal.
António Costa conseguiu a tão desejada maioria abs(...)
O Comité Central do PCP vai agora reunir-se terça-feira para analisar os resultados, mas certo é que ainda antes de ser anunciada uma maioria absoluta do PS e com um adeus à Geringonça à vista, Jerónimo de Sousa ainda tentou convidar António Costa para convergir à esquerda.
"O PS tem na mão a opção de fazer entendimentos com o PSD ou convergir à esquerda, com a CDU, para a resposta aos problemas do país", afirmou Jerónimo de Sousa que questionado sobre se já teria falado com António Costa, admitiu ter agora “outras prioridades”.
“Não falei com António Costa, não tive um encontro com António Costa. Não foi por mal, nem por bem, foi porque não foi possível, quando puder falarei, mas agora não posso, tenho outras prioridades”.
A resposta acabou por suscitar risos e aplausos dos apoiantes que, perante Jerónimo de Sousa visivelmente emotivo, gritavam em uníssono “a luta continua”. Em resposta, o líder do PCP não se dava por derrotado, não fossem os poetas fingidores.
"Permitam-me que termine... Não sei, estou inspirado... Quando um homem perde os bens, perde pouco. Quando perde a dignidade, perde muito. Quando perder a coragem, perde tudo".
E é com coragem que - pelo menos para já - Jerónimo de Sousa vai continuar na liderança do partido que nesta campanha eleitoral “não se fez de um homem só, nem de dois ou três”. Tudo lhe correu mal nesta campanha, começando desde logo pela operação cirúrgica de urgência a que foi submetido e terminando no pior resultado eleitoral de sempre, mas o secretário-geral do PCP responde a todos aqueles que teimam em falar num sucessor: "As vitórias nunca nos descansam e as derrotas nunca nos tombam".