31 jan, 2022 - 00:30 • André Rodrigues
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As próximas horas e dias serão determinantes para o futuro de Rui Rio como líder do PSD. Depois de uma campanha eleitoral em que sentiu a confiança na vitória a crescer, sobretudo na segunda semana, o presidente social-democrata apareceu perante os militantes do partido com um sorriso praticamente inexpressivo, a contrastar com aquele que levou a todo o lado por onde passou nas duas semanas anteriores.
Na noite deste domingo, o PSD viu-se confrontado com um cenário que estava longe de imaginar: uma maioria absoluta do PS, quando todas as sondagens apontavam para um empate técnico. Suprema ironia, as mesmas sondagens que Rio insistiu em desvalorizar por darem ao seu partido um resultado aquém daquele que, segundo Rio, a rua lhe apontava.
Falhou a sondagem "à boca da rua" na qual Rio depositava toda a confiança. E as sondagens das empresas de estudos de opinião subestimaram a dimensão da derrota. De empate técnico à maioria absoluta do PS a diferença é abissal.
"Não atingimos nem de longe nem de perto os objetivos", constatou nos instantes iniciais da declaração que começou por volta das 23h00. Logo a seguir, reconhecia que "houve um voto útil à esquerda esmagador para evitar que o PSD nomeasse o primeiro-ministro."
Após a declaração inicial, já na fase de perguntas dos jornalistas, Rui Rio foi sinalizando aquele que seria o seu caminho imediato.
"Se o PS tiver uma maioria absoluta, com um horizonte de quatro anos de governo, não sei como posso ser útil". Rio não disse diretamente que se demite, mas deixa essa porta aberta.
Perante a insistência dos jornalistas, que tentaram arrancar-lhe a frase direta e literal, o líder do PSD voltou a usar a sua tradicional ironia, mas já sem o cunho da boa disposição, que marcou a campanha eleitoral.
Respondeu em alemão para dizer que já tinha sido claro na resposta que tinha dado em português, para gáudio dos militantes e simpatizantes presentes que, ora, aplaudiam o líder, ora apupavam a comunicação social quando as perguntas começaram a ser mais incómodas.
Subitamente, sem que nada o previsse, Rui Rio abandonou o púlpito quando ainda havia mais perguntas dos jornalistas, combinadas com a assessoria de imprensa.
O líder saiu da sala entre aplausos de simpatizantes e militantes, ladeado por cabeças de lista, rodeado de seguranças e com empurrões a operadores de imagem e repórteres fotográficos.
Até o psiquiatra Carlos Mota Cardoso, apoiante de sempre de Rui Rio, dos tempos em que foi autarca da Câmara do Porto, foi ao chão.
Mas ninguém se magoou.