31 jan, 2022 - 01:38 • Sofia Freitas Moreira
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A noite começou calma e as primeiras projeções espelharam o silêncio e a tensão que se sentiram na Casa do Alentejo durante várias horas. A vontade era eleger, pelo menos, um deputado, a ambição maior era colocar três pessoas na Assembleia da República. O objetivo mais ambicioso não ficou cumprido, mas foi Rui Tavares, cabeça de lista pelo círculo eleitoral de Lisboa e fundador do partido, que conseguiu garantir a continuidade do Livre no Parlamento.
Este domingo marca ainda um dia simbólico para o partido da esquerda. Nos dias 30 e 31 de janeiro de 2014, há precisamente oito anos, decorria o comício fundador do Livre. Um aniversário “diferente”, este, e “muito feliz”, como disse o líder, minutos depois de saber que foi eleito para o Parlamento, numa sala com cerca de uma centena de apoiantes.
Ainda com a festa “antecipada” de 2015 em mente, um falso alarme que não ficou esquecido, o partido aguardou calmamente pelos resultados. Já passava das 23h30 da noite quando chegou a confirmação da eleição de Tavares. Conseguira cumprir a vontade manifestada no último e único comício da campanha: “trazer o Livre de volta à Assembleia da República e, desta vez, para ficar”. Em 2019, o Livre tinha eleito Joacine Katar Moreira, que acabou por se desvincular do partido.
"Vamos comemorar o oitavo aniversário do Livre com o regresso à Assembleia da República para ficar, para sermos os representantes da esquerda verde europeia em Portugal. A esquerda verde europeia, o partido da liberdade, da esquerda, da Europa, da ecologia, regressa ao Parlamento para ficar e não vem sozinho. Venham para o Livre para fazer o futuro da liberdade, da esquerda, da Europa, da ecologia. O futuro está a passar por aqui", enalteceu.
O fundador do Livre apontou como grande desafio o diálogo à esquerda no Parlamento, face a uma maioria absoluta do PS, e admitiu que a sua eleição foi uma "segunda oportunidade".
“Temo que uma maioria absoluta se possa fechar em si mesma e esse é um dos grandes desafios da Assembleia da República”, apontou Rui Tavares, esperando que o PS dialogue nesta legislatura e que haja abertura de todos os partidos à esquerda.
Admitindo que desejava ter eleito um grupo parlamentar, objetivo do partido nestas eleições, e que havia uma “barreira da descrença” que precisava de ser ultrapassada, Tavares ressalvou que apesar de tudo não foi eleito sozinho porque no Livre “trabalha-se em equipa”.
“Sabemos que é em certa medida uma segunda oportunidade que nos é dada, sabemos que não vamos pedir uma terceira, vamos trabalhar com muito afinco (…) E vamos nas próximas eleições recuperar o caminho que nos falta recuperar e que perdemos para representar toda a gente que se revê na esquerda verde europeia em Portugal”, afirmou.
Assinalou, ainda, que o Livre é o primeiro partido da esquerda, no século XXI, a conseguir entrar na Assembleia da República e a voltar, “não uma, mas duas vezes”.
Legislativas 2022
Socialistas são "os representantes da esquerda ver(...)
Nas legislativas de 2019, o Livre obteve 1,09% dos votos dos portugueses. Este ano, esse resultado foi superado, com o partido a ultrapassar 1,5%.
Rui Tavares foi o único líder dos partidos com anterior representação no Parlamento que não falou ao longo de domingo. O discurso final foi a única intervenção do historiador e escritor, que reforçou que o Livre está de regresso à Assembleia da República para de lá não sair tão cedo.
A noite eleitoral do Livre decorreu na Casa do Alentejo, junto à zona do Rossio, em Lisboa. Em 2019, aconteceu na Fábrica do Braço de Prata, igualmente em Lisboa, cidade onde o partido tem maior representação.
A primeira intervenção da noite foi feita pela número dois do círculo de Lisboa, Isabel Mendes Lopes, que na altura descreveu os números da abstenção como “uma boa notícia”, mas mostrando-se, no entanto, preocupada com os problemas verificados com os votos dos portugueses que se encontram no estrangeiro.
Rui Tavares chegou à Casa do Alentejo à hora prevista, de forma bastante discreta, pelas 19h30 da tarde.
Jorge Pinto, cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto, fez a segunda intervenção da noite, por volta das 20h, com “muita cautela” na suas palavras, dizendo que “apesar dos resultados, o Livre terá de continuar a insistir no seu projeto”.
Ainda durante o discurso de vitória, e admitindo que desejava ter eleito um grupo parlamentar, objetivo do partido nestas eleições, e que havia uma “barreira da descrença” que precisava de ser ultrapassada, Tavares ressalvou que apesar de tudo não foi eleito sozinho porque no Livre “trabalha-se em equipa”.