31 jan, 2022 - 21:30 • Joana Gonçalves
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Ao contrário do que se previa, a pergunta da noite não foi “que forças políticas vão formar a próxima geringonça?”, mas sim “o que correu mal nas sondagens?”.
A estimativa de uma aproximação do PSD ao PS não se confirmou e a maioria absoluta, que já tinha sido colocada de parte nos últimos dias, saiu vitoriosa. A resposta a esta pergunta não é simples, mas há conclusões que já são claras.
“O que correu mal foi que as sondagens que foram feitas subestimaram o efeito do voto útil no PS e sobrestimaram os votos no PSD. Para além disso, cometeram um erro, ao sobrestimar ligeiramente a votação no Bloco de Esquerda e na CDU. Há aqui algum eleitorado do BE e CDU que terá fugido para o PS no dia da eleição”, defende Luís-Aguiar Conraria.
O professor da Universidade do Minho aponta, igualmente, um outro indicador que pode ajudar a perceber este desvio. “O PS acabou por ter mais 5,5% do que aquilo que previam as sondagens e o PSD teve menos 5,5%. Só aqui acaba por se explicar toda a diferença. Fica a ideia de que o PS conseguiu agarrar o centro político e que o PSD o deixou fugir”, explica o investigador.
Apesar da surpresa à esquerda, a sondagem das sondagens foi a que mais se aproximou do resultado final e a razão “é simples”. “Como as últimas sondagens davam um empate entre o PS e o PSD, havendo até algumas que colocavam o PSD à frente, a sondagem das sondagens, ao considerar e ao dar alguma importância aquelas sondagens mais antigas, que punham o PS à frente, acabou por prever uma vantagem de quase quatro pontos percentuais do Partido Socialista”, adianta.
E é nesta ponderação das flutuações diárias que pode estar o segredo. Para o investigador, “a maioria absoluta pode já ser o efeito da própria sondagem ter induzido as pessoas que de outro modo não voltariam a votar no PS”. A confirmar-se esta teoria, “é possível que as sondagens não estivessem tão erradas como estão”.
E este problema tem solução? O economista defende que "este aspeto que as casas de sondagens não podem nunca evitar". “Se as casas de sondagens fizerem uma previsão correta, mas depois por causa dessa previsão as pessoas mudam os seus comportamentos, que é o que pode ter acontecido, isso é impossível de captar”, assegura.
A resposta passa por relativizar a importância destes inquéritos de opinião, na esfera pública. O agregador de sondagens da Renascença pode ser o antídoto. “Acho que o que foi feito pela Rádio Renascença é exatamente o oposto do que foi feito por muitos outros órgãos de comunicação social e é o que está correto, porque ao usarmos a sondagem das sondagens, fazemos com que haja pequenas variações dia-a-dia, não se dê demasiada importância às variações diárias”, diz Aguiar-Conraria.
“Se toda a gente olhasse para a sondagem das sondagens, isto é, sempre que há uma nova notícia sobre sondagem fossemos ver “bem, a sondagem das sondagens diz-nos que o impacto disto é pequeno”, isso ajudaria bastante a reduzir todo o histerismo à volta de cada sondagem”, argumenta.
Com influência ou não dos inquéritos de opinião, os resultados estão quase fechados, com apenas quatro mandatos por apurar, e o PS é o grande vencedor, numas legislativas que cobriram Portugal de cor-de-rosa.