01 fev, 2022 - 20:14 • Tomás Anjinho Chagas
Em Belém, a tarde desta terça-feira destinou-se às audiências dos (novos) partidos mais pequenos. Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o Livre, PAN, BE e PCP. A maioria absoluta conseguida pelo PS no domingo torna os diálogos com a esquerda pouco prováveis, como admitiu o próprio Jerónimo de Sousa, e, por isso, o tema das sucessões foi dominante nas declarações aos jornalistas.
Primeiro, foi Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda, que depois da audiência habitual audiência com o Presidente da República que acontece depois das eleições, tentou fugir à questão do futuro da liderança do partido.
“O tema hoje é a indigitação. As questões do Bloco de Esquerda são discutidas dentro do Bloco de Esquerda”, respondeu de imediato Catarina Martins.
Mas face à insistência dos jornalistas, a coordenadora do Bloco de Esquerda abriu o livro, e reforçou o que já tinha dito na noite eleitoral. “O Bloco de Esquerda não decide a sua direção de acordo com resultados eleitorais. Quem decide são os seus militantes, e eu cá estarei para cumprir o meu mandato por inteiro”.
Apesar de virar sempre as declarações para a audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, Catarina Martins não conseguiu evitar o tema. “Sinto-me muito confortável com o mandato que os meus camaradas e as minhas camaradas me deram e que eu cumprirei”, frisou.
Depois da resposta curta, Catarina Martins usou a cartada da etiqueta institucional para encerrar o assunto. “Eu peço desculpa, eu sei que sou a última institucionalista, mas nós estivemos numa reunião com o Sr. Presidente da República em que isso não foi tema”.
Catarina Martins considera que Belém não é o local para discutir a vida interna do Bloco de Esquerda. “Neste momento parece-me que é indelicado, estamos na Presidência da República”. A coordenadora do partido remete mais declarações para o próximo sábado, data em que a direção nacional do Bloco de Esquerda vai reunir-se para discutir o resultado das eleições, que culminaram na perda de mais de dois terços do Grupo Parlamentar. De 19 deputados em 2019, o Bloco de Esquerda tem agora cinco.
Depois de ser ouvido o Bloco de Esquerda, foi a vez do PCP. Jerónimo de Sousa saiu da audiência com Marcelo Rebelo de Sousa para declarar que considera ser pouco provável que o PS queira entendimentos com os comunistas.
“Resultante dessa maioria absoluta onde o PS se senta confortado, naturalmente pode fechar possibilidades reais de convergência”, e o secretário-geral prossegue “Se se confirma o objetivo do PS de fugir à intervenção, proposta, ação e iniciativa do PCP na Assembleia da República, então essa via de convergência acaba por ficar mais estreita”.
Mas Jerónimo de Sousa foi também questionado sobre o futuro da liderança do PCP, depois do pior resultado de sempre dos comunistas nas legislativas. O secretário-geral sorriu com alguma ironia e respondeu: “Quero dizer com franqueza que já encontrei dez formas diferentes de dizer a mesma coisa. Em termos de síntese das sínteses: a questão não está colocada.”
A resposta de Jerónimo de Sousa surge no mesmo dia em que o Comité Central do PCP esteve reunido para avaliar os resultados das eleições.
Os comunistas perderam metade dos assentos parlamentares que tinham em 2019. Têm agora seis deputados e saem do Parlamento nomes como João Oliveira (antigo líder parlamentar) e António Filipe (um dos mais antigos deputados no Parlamento). As conclusões desta reunião do Comité Central são conhecidas amanhã.