04 fev, 2022 - 20:00 • Tomás Anjinho Chagas
O ex-deputado do Bloco de Esquerda e crítico da atual direção Pedro Soares quer que haja consequências da hecatombe que o partido sofreu nas eleições do passado domingo. Fala de uma sucessão de derrotas e quer que haja atribuição de responsabilidades.
Este sábado há reunião da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda para o partido refletir sobre os resultados das eleições legislativas. O Bloco de Esquerda conseguiu apenas 4,46% dos votos, elegendo assim cinco deputados.
É preciso recuar às eleições legislativas de 2002 para encontrar uma representação parlamentar tão reduzida, altura em que o partido, na altura com três anos de vida, obteve menos de 3% dos votos, traduzidos em 3 mandatos.
Para Pedro Soares este fim-de-semana deve servir para o partido repensar a linha que tem seguido.
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“É fundamental perceber as razões políticas. Qual é a análise sobre este caminho que nos levou à derrota eleitoral. Não é perder um, dois ou três deputados. É uma derrota muito vincada e tem de haver responsabilização”, diz à Renascença.
O antigo deputado do Bloco de Esquerda tem assumido uma postura de oposição face à estratégia do partido de se aliar ao PS e de voltar a apostar numa reedição da geringonça.
Pedro Soares sublinha que o percurso feito até este momento foi premeditado.
“A maioria da direção, que é responsável por este resultado, diz que ponderou todos os riscos políticos e eleitorais desta situação: o voto contra o Orçamento. Se, de facto, todos os riscos foram ponderados, tem de se tirar uma conclusão: a maioria desta direção demonstrou-se incapaz de enfrentar esses riscos.”
Mas Catarina Martins já fechou a porta a uma saída antecipada da liderança do Bloco de Esquerda. Logo na noite eleitoral, a coordenadora do partido disse estar pronta para assumir todas as responsabilidades, mas vincou que “nunca foi na sequência de resultados eleitorais que o Bloco de Esquerda decidiu a sua direção”.
É uma posição que foi reforçada esta semana por Catarina Martins quando saiu da audiência com o Presidente da República, em Belém: “Sinto-me muito confortável com o mandato que os meus camaradas e as minhas camaradas me deram e que eu cumprirei”, respondeu a líder bloquista aos jornalistas.
A visão de Catarina Martins não conflui com a de Pedro Soares, que concorda com a intenção da coordenadora do partido se manter com a liderança, mas lembra: “O final do seu mandato é quando se realizar a próxima Convenção Nacional. Pode ser daqui a três meses, seis meses, um ano ou um ano e meio. Acho que seria bom que esta Mesa Nacional desse indicações sobre esta matéria”.
Mas à Renascença, fonte do partido reforça a postura já demonstrada por Catarina Martins: “Cumprirá o mandato por inteiro”.
Em retrospetiva, Pedro Soares, antigo deputado do Bloco de Esquerda acredita que a derrota eleitoral é o “corolário de um conjunto de derrotas eleitorais que o partido tem vindo a sofrer”.
Para sustentar, o crítico da direção de Catarina Martins lembra que desde 2019, o partido perdeu as eleições das regiões autónomas, presidenciais, autárquicas e por fim, as últimas legislativas.
“Há aqui uma sucessão de derrotas que demonstra uma ineficácia e debilidade nesta linha política concentrada numa nova edição da geringonça e tem de ser alterada. É preciso um grande debate, unir o Bloco para uma mudança de rumo”, defende Pedro Soares.
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A direção do Bloco de Esquerda defende que o partido saiu prejudicado com a bipolarização entre Rui Rio e António Costa, mas o antigo deputado não concorda com a justificação encontrada.
“Porque é que conseguiu sempre resistir à bipolarização e agora não conseguiu? Não conseguiu porque houve erros na linha política. E é preciso que a direção, com humildade e coragem, procure encontrar esses erros e não passar por tudo isto como gato sobre brasas”, atira o ex-parlamentar.
Pedro Soares quer que haja “capacidade de reconhecer os erros” e espera que “a maioria da direção não sacuda a água do capote relativamente às suas profundas responsabilidades nesta hecatombe eleitoral”. Um comportamento, que segundo o antigo deputado, não é novo “como tem acontecido nas anteriores eleições”.
Apesar de nunca pedir explicitamente uma renovação da direção, Pedro Soares espera que seja convocada uma nova Convenção, e admite que há outros nomes que poderiam assumir a liderança do Bloco de Esquerda. “Há! Felizmente sim!”, diz o antigo deputado lembrando que o Bloco tem eurodeputados, deputados, autarcas e mais de 20 anos de história.
“Certamente que tem e que irão surgir”, diz Pedro Soares. Mas questionado sobre nomes concretos que poderiam assumir um papel de liderança no Bloco de Esquerda, o antigo deputado prefere não se pronunciar.
“Não são as caras que estão em causa, são os erros que esta direção tem de assumir. É disso que depende o começar de novo. É por aí que temos de ir”, remata Pedro Soares.