05 fev, 2022 - 21:49 • Tomás Anjinho Chagas
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, reconheceu falhas na comunicação do qual resultou a hecatombe eleitoral que fez a bancada bloquista passar de 19 deputados para apenas cinco deputados. Ainda assim, defendeu a estratégia seguida pela direção do partido na altura de chumbar o Orçamento do Estado.
Numa conferência de imprensa após ouvir os militantes, Catarina Martins reforçou que o chumbo do Orçamento do Estado foi uma opção ponderada e não se arrepende dessa decisão. No entanto, admite que o Bloco de Esquerda não soube explicar essa decisão aos eleitores. “O Bloco de Esquerda reconhece que não foi capaz de comunicar as razões profundas do chumbo do Orçamento do Estado”, explica a coordenadora do partido.
Depois do pior resultado em eleições legislativas em 20 anos, a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda esteve num hotel em Lisboa para refletir sobre as razões da queda eleitoral. O partido perdeu 14 deputados em relação a 2019.
Catarina Martins voltou a culpar a bipolarização provocada pelo PS e PSD e também as sondagens pela queda do Bloco de Esquerda. A líder do partido assume mesmo que as sondagens traíram a estratégia do Bloco, que durante a campanha se direcionou contra a direita.
Catarina Martins
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“O Bloco de Esquerda contribuiu para isso porque acreditámos naquilo que os estudos nos diziam e direcionámos a nossa campanha também para o combate à direita porque nos pareceu que era prioritário neste momento”, admite a líder bloquista.
Catarina Martins garante que vai fazer uma “intervenção parlamentar muito combativa”, até porque “uma maioria absoluta do PS, traz a necessidade de exigência e fiscalização absoluta à esquerda.
A líder do partido deixa por isso algumas promessas para o início da legislatura, que passam sobretudo pelo regresso da eutanásia ao Parlamento, o regresso dos debates quinzenais com o primeiro-ministro e também um “pacote robusto de combate à precariedade”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda compromete-se a fazer um combate “intransigente” ao Chega, terceira força política. “Somos anti-racistas, feministas, acreditamos na igualdade de todos os homens e das mulheres”.
Mas a líder do Bloco de Esquerda aponta também a mira à Iniciativa Liberal: “uma direita radicalizada neoliberal”, e acrescenta que vai travar as aproximações do PS a essa ala. “Conhecemos a deriva liberal dos governos do PS sempre que não foi condicionado pela esquerda”, alertou.
Apesar dos maus resultados, que a própria direção do Bloco de Esquerda apelida de “derrota”, uma disputa interna não parece estar em cima da mesa. A Mesa Nacional do partido convocou uma Conferência Nacional sobre o rumo estratégico do partido para abril. Mas uma antecipação da Convenção Nacional, que provocaria eleições internas para a liderança, não está no horizonte.
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“O mandato da nossa direção continua. É assim que funciona um partido de esquerda. Os resultados não são o alfa e o ómega da atuação de um partido de esquerda, isso é mais próprio de um partido de poder”, responde Catarina Martins.
Mas essa visão não é partilhada por todos os militantes. Catarina Martins admitiu que houve “algumas abstenções” no momento de votar a convocação da Conferência Nacional.
Um deles foi o de Bruno Candeias, militante do Bloco de Esquerda, e um dos membros do movimento Convergência, que tem assumido algumas posições contrárias às da direção do Bloco de Esquerda. À Renascença, afirma que nesta Mesa Nacional, o partido voltou a “evitar tirar conclusões sobre o corolário de derrotas eleitorais”.
Bruno Candeias lembra que “todos os objetivos” estabelecidos pela direção foram “falhados”, e não concorda com a narrativa da bipolarização para explicar esses falhanços.
“O partido tem imprimido uma lógica de de disputa institucional e disputa ao centro”, critica Bruno Candeias em entrevista à Renascença. Para este militante, o voto contra o Orçamento do Estado foi um passo correto, porém tardio.
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Bruno Candeias acusa a direção de ter adotado uma “narrativa monocórdica”, de colagem ao PS. E defende que o Bloco de Esquerda deve agora ser “oposição” e uma “alternativa real à esquerda”.
“Para nós é necessário mudar efetivamente de rumo”, atira Bruno Candeias. Por isso, não afasta a hipótese de haver uma disputa interna. “Não descartamos a convocação de uma Convenção Extraordinária, dependendo da análise que vai sendo feita pelas bases do partido”, rematou.