19 fev, 2022 - 08:18 • Tomás Anjinho Chagas
“Bem vindos ao Venturistão”, grita Rui Santos, adjunto da distrital de Santarém, como tiro de partida para os discursos que se seguiram, numa referência ao Cavaquistão, alcunha dada ao distrito de Viseu pela força eleitoral do PSD.
Num palco, o púlpito encara uma sala com mais de 400 pessoas que foram a Benavente. O jantar-comício serviu para fazer o balanço das eleições e para estabelecer os objetivos para a próxima legislatura.
O clima é de festa e o mundo rural é um dos temas que marcam o evento. Antes do jantar, três cavalos desfilaram à porta do restaurante, neles estavam montados três campinos. No final, depois da refeição, foi o fado que embalou os militantes. “Já posso dormir descansado porque sei que agora há 12 deputados para acabar com esta bandalheira”, remata o convidado depois da atuação.
“Chamem-nos fascistas ou salazaristas. Podem chamar-me o que quiserem desde que não chamem comunista ou socialista”, atira João Lynce, militante de Santarém. “Contra tudo e contra todos”, diz Manuela Estevão, líder distrital do Chega, também em Santarém.
André Ventura está na mesa imediatamente à frente do palco. Ao lado está a mulher, Dina Nunes Ventura, que é chamada ao púlpito para receber uma caixa de pampilhos, um doce típico da região. Todos os gestos são dedicados às tradições ribatejanas.
“Amor-cigano”, canta o presidente do Chega enquanto se ri ao ser chamado por Maria João Quadros para entoar o seu próprio tema. Quando começa o discurso, já passa da 1h da manhã. “Esta só pode ser uma noite histórica. Para eu o que eu nunca pensei dizer: amor-cigano”.
O líder do partido prometeu uma oposição firme à maioria absoluta do PS, que considera ter sido a única derrota da noite eleitoral. “Vamos tornar a vida dos socialistas num calvário”.
André Ventura garante que o partido não vai moderar-se, e que é assim que vai conquistar votos. “O nosso eleitorado não é convencível por nenhum partido do sistema. Nós é que vamos atrás do vosso eleitorado”.
O líder do Chega acredita que o caminho para ganhar votos, é o mesmo que o partido tem vindo a fazer. “Não nos poderemos moderar nem nos podemos vender a nenhum partido do sistema”.
O discurso foi ocupado por elogios ao resultado do Chega nas últimas eleições legislativas, onde conseguiu eleger 12 deputados para a Assembleia da República. Mas não só. André Venura apontou também a mira ao futuro. “Já só estou a pensar em eleições”, atira o líder do partido.
“A nossa missão nunca estará terminada enquanto não conseguirmos ganhar este país”, garante André Ventura. Mas no discurso de cerca de 30 minutos, os restantes partidos não escaparam às críticas.
O exemplo do CDS serviu para o líder do partido projetar o futuro do Bloco de Esquerda. “Há uma maldição na Assembleia da República. É que quem tem cinco deputados, desaparece nas eleições seguintes. Vamos lutar para fazer desaparecer o Bloco de Esquerda da Assembleia da República”.
O CDS foi também um dos alvos preferidos. “Em política, a falta de humildade paga-se caro. O CDS, porque deixou de vos representar a todos, teve o destino de todos aqueles que vendem a alma ao diabo. O destino de desaparecer”.
André Ventura volta a prometer que vai ser o principal partido de oposição ao PS. “Só há um partido que incomoda em Portugal. Foi o único que disse a António Costa que não passará se quiser fazer o mesmo que José Sócrates”, diz o presidente do Chega.
O mote serve para criticar os outros dois partidos de direita com assento parlamentar. Depois de acusar a Iniciativa Liberal de facilitar a vida ao governo, André Ventura acredita que “o PS passou seis anos com duas muletas à esquerda” e afirma que “agora parece que vai ter duas muletas à direita: o PSD e a Iniciativa Liberal”.
O líder do Chega garante que vai levar as promessas eleitorais ao Parlamento. Desde a redução das portagens ao aumento do subsídio de risco das forças policiais, passando também pela castração química dos pedófilos.
A noite termina já depois das 2h00. “Pouco importa pouco importa, se falam bem ou falam mal, queremos o André Ventura a mandar em Portugal”, gritam os militantes em coro. Os doze deputados recém-eleitos sobem ao palco e começa a ouvir-se o hino nacional. Formam duas filas como uma equipa de futebol, cantam “A Portuguesa” com a mão no peito.