23 mar, 2022 - 23:04 • Lusa
O Presidente da República defendeu hoje que a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril deve ir além da "celebração contemplativa do passado" e procure respostas para "as frustrações, desilusões e fragilidades e insuficiências" da democracia. O primeiro-ministro alertou que as ameaças à liberdade estão à espreita.
"Está nas nossas mãos fazer com que estes 50 anos do 25 de Abril sejam sementes do futuro e não apenas revivalismo do passado", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, na intervenção na abertura solene das comemorações.
O chefe de Estado apelou a que esta celebração, que durará mais de dois anos, não sirva para "afunilar, empobrecer ou excluir", mas para alargar e enriquecer.
"Que seja o futuro o nosso desafio fundamental, por aí passa o sucesso ou o fracasso da comemoração, por aí passa ser uma oportunidade ganha ou uma oportunidade perdida", alertou.
No dia em que a duração da democracia ultrapassa a da ditadura arrancaram as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e Marcelo Rebelo de Sousa elencou para que devem e não deverão servir estas celebrações, na sua perspetiva.
"O percurso que hoje principia não pode ficar na celebração contemplativa do passado, naquilo que nele foi o melhor, tem de ir mais longe, analisar esse passado no que não foi o melhor, juntar-lhe a reflexão sobre o presente e o futuro, em busca da resposta para as frustrações, as desilusões, as fragilidades, as insuficiências da democracia e da liberdade sonhadas e depois vividas", balizou.
O chefe de Estado salientou que as comemorações também devem celebrar o passado "no que merece ser celebrado", como a luta pela liberdade e pela democracia durante décadas, com "sacrifícios na perda de vidas, de liberdade, nas censuras, nas prisões, nas torturas", quer em Portugal, quer nas antigas colónias.
"Com destaque cimeiro para os que converteram a pré-história em história: os capitães e heróis de Abril, todos eles a pensarem em futuros muitos diversos e até opostos, mas tendo congregado vontades naquele momento", apontou.
No entanto, o chefe de Estado ressalvou que as comemorações têm também de servir para "fazer aquilo que só é possível em democracia e nunca é possível em ditadura".
"Perguntar, questionar, repensar, propor, querer mais e melhor democracia e liberdade, mais igualdade e mais solidariedade", defendeu, pedindo um "olhar com sentido crítico para o que se pretendia e nunca existiu ou o que resultou e depois se esvaiu".
Depois, o Presidente da República apontou para que não deve servir esta comemoração.
"Não deve servir para monopolizar a liberdade e a democracia, que são de todos os portugueses e de todas as instituições que se manifestem na sua liberdade", disse.
Também não deve servir, segundo o chefe de Estado, para "disputas de glórias, discussões de vaidades ou protagonismos que não dizem nada aos portugueses".
"Não deve servir para refazer a história, dela apagando os que tiveram relevo e relevo diverso, respeitando essa diferença - porque houve quem tivesse sofrido mais do que outros. Não deve servir para afunilar o que deve ser alargado, empobrecer o que deve ser enriquecido, alienar e excluir no que deve caber na manifestação do povo português", elencou. E, acrescentou, "não deve servir para perder de vista o futuro".
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O primeiro-ministro, António Costa, afirmou que a liberdade e a democracia "nunca estão imunes a ameaças" e que é preciso agir contra o populismo, as desigualdades, a corrupção, o medo e o ódio.
António Costa afirmou que "pensar o futuro da democracia", tornando-a mais viva, exigente, moderna e participada, "é a responsabilidade maior destas Comemorações e é a melhor mensagem que delas pode resultar".
"A liberdade e a democracia são sempre obras inacabadas e nunca estão imunes a ameaças. É sempre possível democratizar mais a liberdade e libertar mais a democracia e é necessário agir contra o populismo, as desigualdades, a corrupção, o medo e o ódio que sempre as ameaçam", defendeu.
Para o primeiro-ministro, "defender a democracia é ter consciência de que a democracia é de todos" e que todos têm "o dever de cuidar da democracia" porque "o primeiro dever dos democratas é o de defender, aperfeiçoar e reforçar a democracia".
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 começam hoje com uma sessão solene em que serão condecorados militares da "revolução dos cravos" e discursarão as três principais figuras do Estado: o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e o primeiro-ministro, António Costa.
A data escolhida tem um peso simbólico, já que hoje a democracia nascida em 25 de Abril de 1974 ultrapassa em um dia a longevidade da ditadura resultante do golpe de 28 de maio de 1926.
As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril vão prolongar-se até dezembro de 2026, quando se assinalar meio século das primeiras eleições autárquicas realizadas em Portugal.