29 mar, 2022 - 08:35 • Tomás Anjinho Chagas
Um em cada três deputados são novos. As eleições legislativas aconteceram no dia 30 de janeiro, mas a posse do novo Parlamento só acontece esta terça-feira.
Todos os partidos, à exceção do PCP, Bloco de Esquerda e PAN, têm caras novas nos grupos parlamentares.
Desde cantores líricos a músicos de reggaeton. De economistas a historiadores, ou a deputada mais nova desta legislatura. Quem são os novos deputados da Assembleia da República?
Quem são os homens e as mulheres que nos vão repre(...)
Com 52 anos, sai dos palcos e vai para o Parlamento. Elisabete Matos é cantora lírica recebeu o convite e reagiu com alguma reticência. “Obviamente, senti uma grande responsabilidade. Implicava entrar num âmbito muito diferente”, relata.
No entanto, justifica que sente que “tem um percurso de vida” que lhe permite “estar em condições dar um contributo” ao seu país.
Com mais de 30 anos de experiência, a cantora portuguesa, eleita pelo círculo de Braga, admite que a decisão de se tornar deputada vai mudar-lhe a vida, mas isso não a impede de continuar a fazer o que mais gosta.
“Continuarei a cantar sempre que as responsabilidades me permitam. Cantar, para mim, é algo fundamental, que só terminará quando as minhas condições físicas me impedirem de o fazer. Essa é a minha vontade”, assegura.
Apesar de mudar de profissão, não esconde que “a cultura e as artes” serão as suas prioridades. A cantora lírica revela que vai lutar por melhores condições para os trabalhadores da cultura, setor que deveria ter uma maior fatia do Orçamento do Estado.
Tem 48 anos e já tinha sido deputado. Saiu do Parlamento e foi presidente da Câmara de Vila Real de Santo António durante 12 anos. É um regresso “mais maduro”, explica Luís Gomes.
É engenheiro de formação e está a terminar um doutoramento em Gestão. Mas destaca-se também pelo que faz nos tempos livres. “Sou cantor de reggaeton e de outros estilos musicais”, afirma o deputado eleito pelo PSD, que como músico assina como Luís Gomes.
Ao tomar posse enquanto deputado, não tenciona deixar a música para trás. “É como perguntar a um escritor se vai deixar de escrever livros. Nunca me separei da música, também não era agora que me iria separar”.
Acredita que “é uma pessoa como outra qualquer”. Confiante, diz à Renascença que “as pessoas querem que os políticos deixem de usar capas” e considera que a música é uma forma para “chegar às pessoas”.
Em sentido inverso, revela que estar no mundo artístico o ajudou “a conhecer o país de outra maneira, de outro ângulo”. Luís Gomes conta que privou com algumas pessoas do setor da cultura que passaram “dificuldades financeiras” durante a pandemia.
É músico, mas a música que quer dar ao Governo não “será agradável para os ouvidos de António Costa”. Assume que vai fazer parte da maior bancada da oposição à maioria socialista e promete uma “música responsável. Uma oposição que está de acordo quando tem de estar de acordo, e propondo alternativas quando tem uma visão diferente”.
Enquanto algarvio, os problemas da região são especialmente queridos a Luís Gomes. A saúde preocupa-o. Nessa área, “o Algarve não está no pelotão da frente, é o carro vassoura do país”. O recém-eleito deputado alerta para o problema dos elevados tempos de espera dos utentes algarvios que procuram o SNS.
Queria ser “politóloga e analisar a política de fora”, mas as circunstâncias empurraram-na para dentro do palco político. Não é só uma nova deputada, é a deputada mais nova do Parlamento.
Admite que o facto de ser a mais jovem é “um motivo de orgulho” mas também é “intimidante”. A recém-eleita defende que a sua geração está “sub-representada” no Parlamento, apesar de ser aquela que enfrenta “os maiores desafios”.
Rita Matias está num extremo da faixa etária da Assembleia da República. No outro, está Jerónimo de Sousa (PCP), com 74 anos. Estão separados por 51 anos. A nova deputada do Chega não olha para esse facto com medo, mas antes como uma oportunidade. “Encaro com o espírito democrático e da democracia, reconhecendo o papel de todos e de cada um”, explica.
Um dos objetivos que tem é o de aliciar mais jovens a interessar-se na política. Rita Matias defende que a sua geração “precisa de ver verdade, sinceridade e compromisso. Precisa de ver um discurso mais acessível. Muitas vezes os nossos representantes falam das coisas de uma forma tão complexa que afasta as pessoas. A política é para todos. Não pode deixar ninguém de fora”.
Rita Matias admite que é uma geração desligada da política, no entanto, ressalva que é “não é uma geração despolitizada. Pelo contrário. Somos uma geração de causas, saímos à rua. Batemo-nos pelo que acreditamos”. A solução? A recém eleita deputada do Chega, e a única mulher do grupo parlamentar, defende que a classe política tem de “voltar a dar razões” para esta geração “acreditar nesta democracia representativa”.
Foi um dos fundadores da Iniciativa Liberal, e depois de ser eleito uma vez sem tomar posse, voltou a ser eleito e vai assumir o mandato. Natural de Espinho, é doutorado em economia e já trabalhou em vários pontos do mundo.
Chega à Assembleia da República e promete fazer “escrutínio muito apertado” de um Governo socialista de maioria absoluta. Carlos Guimarães Pinto sublinha que a bazuca (PRR) obriga a uma maior fiscalização.
O economista integra o grupo parlamentar da Iniciativa Liberal, que agora conta com oito deputados. No entanto, Carlos Guimarães Pinto conta com muitas dificuldades devido à maioria do PS. “Vamos trazer as possíveis soluções [para os problemas], tentar vê-las aprovadas, sabendo que vai ser muito complicado”, explica.
O liberal sublinha que vivemos num país “estagnado há 20 anos”, e elogia a diversidade dos deputados no que à formação académica diz respeito. “Não penso que um economista esteja mais preparado do que um jurista ou um advogado. Mas é importante que no Parlamento estejam pessoas com diferentes backgrounds”.
Em 2019 “a intervenção do Livre foi cortada demasiado cedo”, defende Rui Tavares, fundador do partido que agora vai assumir o lugar de deputado. Nas últimas eleições, o Livre elegeu Joacine Katar Moreira, que saiu em rotura com o partido pouco tempo depois de ser eleita.
Ser historiador é útil a um deputado? Rui Tavares considera que é sempre bom que haja “pluralidade na Assembleia da República”, e alerta: “tantas vezes ouvimos tanto os economistas, tantas vezes os juristas têm uma grande importância na política. E às vezes faz falta quem permita apontar para os grandes erros do passado”.
Para que não faltem argumentos, dá um exemplo próprio. “Agora que temos a guerra de volta na Europa, sinto que durante muitos anos escrevi sobre essa possibilidade. Parecia uma coisa muito teórica, mas agora não é”.
O trabalho de deputado vai alterar as rotinas do fundador do Livre. “Inevitavelmente terei menos tempo para investigar, ler e escrever. Digo-o com pena porque é o que mais gosto de fazer”, revela Rui Tavares. No entanto ressalva que é uma honra assumir este papel para a democracia e dar o seu “contributo”.
De historiador para fazer parte da História? Rui Tavares não acredita que a História seja feita de grandes momentos. Em oposição, defende que todos os dias são “históricos”. Ainda assim, admite que o papel de deputado é o seu “quinhão” e o seu “contributo”.
Elisabete Matos (PS): “Gostaria de ter a satisfação de saber que se criou melhores condições de trabalho para os artistas portugueses.”.
Luis Gomes (PSD): “Que tive um contributo muito importante para a dignificação e para a melhoria do acesso à saúde dos algarvios”.
Rita Matias (Chega): “Gostava de poder dizer que o Chega contribuiu para Portugal se tornar num país que acarinha os jovens, que não os empurra para fora”.
Carlos Guimarães Pinto (IL): “Que no final destes quatro anos, tivesse sensibilizado os partidos, nomeadamente o PS, no sentido de reduzir substancialmente a carga fiscal sobre o trabalho”.
Rui Tavares (Livre): “Poder dizer que [esta legislatura] foi aquela na qual se conseguimos construir um novo modelo de desenvolvimento para o país. Parece-me que estamos sempre a jogar para o empate. Para a convergência com a média da União Europeia, e isso não chega para mantes os mais jovens em Portugal.”