13 mai, 2022 - 06:40 • Tomás Anjinho Chagas
Ouvindo as duas fações do PAN, recebe-se uma descrição totalmente diferente do clima vivido atualmente dentro do partido. A instabilidade interna é conhecida e não é de agora, depois de várias saídas, a oposição estende o tapete para derrubar a direção de Inês Sousa Real.
Essa força deve ser encabeçada por Nélson Silva, ex-deputado do PAN até janeiro, que saiu em rotura depois do desaire eleitoral. À Renascença, não assume diretamente que é candidato no próximo Congresso Eletivo, mas admite que “um projeto alternativo” o “agrada bastante”.
A razão? Nélson Silva defende os resultados das eleições (autárquicas e legislativas) acabam por “esvaziar o programa político” da atual direção.
O ex-deputado do PAN considera que Inês Sousa Real tem “legitimidade formal” mas não tem “legitimidade política”, devido à perda de votos sucessiva.
Nélson Silva fala numa “divisão profunda dentro do partido”, já existente antes dos resultados das legislativas, que reduziram o grupo parlamentar de quatro deputados a um único deputado. Essa divisão “notória” leva os críticos da direção a “fazer esforços para unir o partido”.
O antigo deputado acredita que a “Lealdade cega não é o tipo de união que se quer num partido político, muito menos no PAN”, reforça à Renascença.
Nelson Silva fala num “programa esgotado” que deve ser sujeito a votos e aponta o “medo de uma eventual derrota” para a direção de Inês Sousa Real não ter proposto a realização de eleições internas antecipadas.
A atual porta-voz do partido considera que a direção tem “toda a legitimidade” para dirigir o rumo do PAN . À Renascença, Inês Sousa Real lembra que a sua lista foi “eleita há menos de um ano”, que venceu com “87% dos votos” e que “não se apresentou mais nenhuma lista ao escrutínio”.
Inês Sousa Real sublinha o argumento que tem utilizado nos últimos meses: a “auscultação”, um momento em que a direção ouve os militantes de base. A porta-voz defende que as pessoas se têm sentido “agradadas” com este processo.
Além de recusar a tentativa de convocar eleições internas antecipadas, Sousa Real critica a forma como a ala de Nélson Silva está a fazer frente à direção.
“Lamentamos que esta oposição não saiba lidar com os processos democráticos do nosso partido, que foram respeitados a todo o momento”, afirma à Renascença.
Inês Sousa Real
Na semana passada, foi divulgado um manifesto que (...)
Inês Sousa Real admite que “o processo interno terá de ser concluído”, referindo-se à “auscultação” que tem acontecido desde as últimas legislativas. A líder do Partido Pessoas Animais e Natureza justifica a demora com a atualidade: Orçamento do Estado. Mas assegura que o processo está “quase a terminar” e que, nessa altura, vai ser publicado um relatório a detalhá-lo.
No entanto, sublinha que os militantes estão “esclarecidos” e que já “demonstraram que estão do lado da coesão e da união”.
A porta-voz do PAN afirma que a oposição interna “tem de respeitar que há uma maioria que não está com eles” e lamenta “profundamente” a forma como a contestação tem sido feita.
Inês Sousa Real foi reeleita líder do PAN em junho do ano passado. Na altura foi a única a concorrer e o mandato é de dois anos. Para antecipar o Congresso Eletivo é preciso que 20% dos filiados ao PAN assinem o manifesto, que já está a circular. A Renascença sabe que a oposição já conseguiu cerca de 70% das assinaturas necessárias.
Nélson Silva afirma que a atual direção do PAN não está a divulgar este manifesto e fala em “censura propositada”, para que os militantes do PAN não “tenham conhecimento” do manifesto que pretende antecipar as eleições internas.
Versão diferente tem Inês Sousa Real. A líder do partido considera que “não existe qualquer obrigação estatutária desta direção partilhar o manifesto”. E diz que seria “estranho” que a atual liderança partilhasse um manifesto “contrário a esta direção”.
Mas a porta-voz do PAN vai mais longe, e adianta que, das “auscultações têm sido feitas”, esse manifesto é conhecido. E remata: “Assina quem quer, não assina quem não quer”.