31 mai, 2022 - 23:52 • João Malheiro
O constitucionalista Paulo Otero indica que "ainda está tudo em aberto" no que toca à escolha de um novo juiz para o Tribunal Constitucional, depois de, esta terça-feira, o nome de António Almeida Costa ter sido chumbado.
"Nada impede que amanhã o TC volte a reunir e possa deliberar ou em relação a outro, ou em relação ao mesmo nome, se houver essa disponibilidade do candidato", explica, ouvido pela Renascença.
"O TC é soberano e nenhum de nós devem ter interferência nesta competência exclusiva do Tribunal", defende, ainda.
António Almeida Costa está envolto numa polémica relacionada com declarações sobre aborto e liberdade de imprensa.
O professor universitário está ligado a várias revisões do Código Penal e é membro do Conselho Superior do Ministério Público.
Questionado pela Renascença, Paulo Otero considera que as visões de Almeida Costa "não o desqualificam como jurista nem como candidato a juiz do TC".
"É perfeitamente legítima a posição do candidato. As pessoas não têm de pensar por aquilo que os outros entendem ser a sua visão correta do mundo. Não ser tolerante perante os outros é, claramente, uma manifestação não democrática", afirma.
Já ao final da noite, a Associação Portuguesa de Mulheres Juristas exprimiu, em comunicado, "a sua satisfação com a corajosa posição assumida pela maioria dos/as Juízes e Juízas do Tribunal Constitucional", com o chumbo de António Almeida Costa.
"A Associação Portuguesa de Mulheres Juristas espera e deseja que o processo de cooptação, ora reaberto, possa acolher a candidatura de Juristas com provas dadas na defesa dos valores constitucionais e contribua para o incremento da representação de Mulheres nas mais Altas Instâncias do Poder", lê-se, na nota enviada à comunicação social.
A mesma associação apela, assim, a que o colégio eleitoral do TC "tenha em mente estas preocupações".
A lei do TC determina que quando um juiz cooptado sai o substituto tenha de ser eleito pelos restantes magistrados escolhidos pelo Parlamento a votação necessitou de pelo menos sete votos para que o candidato fosse aceite.
Os últimos juízes a serem nomeados pela Assembleia da República foram: o professor Afonso Patrão (proposto por PSD/2021), José Figueiredo Dias (pelo PSD/2021), o juiz desembargador António José da Ascensão Ramos (pelo PS/2021) e a juíza Conselheira Maria Benedita Malaquias Pires Urbano (pelo PSD/2021).
Além destes estão também no TC e por escolha dos deputados da AR: Assunção Raimundo (pelo PS/2020), Gonçalo Almeida Ribeiro (pelo PSD/2016), Joana Fernandes Costas (pelo PS/2016), José João Abrantes ( pelo PS/2020), Mariana Canotilho (pelo PS/2019),José Teles Pereira (pelo PSD/2015).
O juiz Lino Rodrigues Ribeiro (entrou como independente/2013) e Pedro Machete (cooptado entre os juízes, não entrou por nomeação partidária).
Os juízes do Palácio Ratton tomam posse perante o Presidente da República no prazo de 10 dias a contar da data da publicação da respetiva eleição ou cooptação.